O consumo de álcool e substâncias psicoativas é uma preocupação de saúde pública para pessoas com diagnóstico do espectro autista. As condições que fazem parte do espectro autista, anteriormente conhecido como autismo, englobam um conjunto de estágios e condições de neurodesenvolvimento que afetam mais de 1% da população geral.1 O diagnóstico engloba déficits persistentes na comunicação e na interação sociais em múltiplos contextos, além de padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades. A interseção entre o espectro autista e o consumo de álcool e outras substâncias representa um campo de estudo que demanda atenção contínua.2,3,4 Um estudo indicou que ser do sexo masculino e possuir um nível mais alto de traços autistas podem ser os fatores mais significativos na previsão do uso de álcool nessa população. O sexo masculino está associado a uma menor probabilidade de abstinência do álcool entre indivíduos autistas, enquanto níveis elevados de traços autistas estão associados a um aumento da probabilidade de abstinência de álcool.5 Não está claro quais mecanismos estão por trás dessa associação. Uma possível explicação é que níveis mais altos de traços estejam ligados a maiores déficits sociais, levando a uma menor motivação para entrar em situação sociais onde o álcool é consumido e, portanto, a uma menor tendência a acessar álcool. Outra possibilidade é que traços de autismo mais elevados estejam associados a uma maior rigidez cognitiva, resultando em um pensamento dicotômico sobre o consumo de álcool.5 Outro estudo sugeriu que o consumo de álcool pode ser menor na população autista, mas uma vez iniciado, o risco de dependência é maior devido a características comportamentais de repetição associadas ao transtorno do espectro autista. 6 Quando há um transtorno por uso de álcool, o tratamento em indivíduos do espectro autista deve ser adaptado para levar em consideração suas necessidades específicas, como padrões de comunicação e as preferências sensoriais. Em um estudo de 2021, foram avaliados 165 participantes por meio de escalas específicas para identificar traços de personalidade, e os sintomas relacionados à interação social e rigidez estavam associados à persistência de um padrão problemático de consumo de álcool após 2,5 anos do início do tratamento. Com base nos resultados, concluiu-se que um grau mais elevado desses traços pode resultar em dificuldades para seguir conselhos de outras pessoas e estabelecer uma aliança terapêutica, partes importantes para eficácia do tratamento.7 As comorbidades associadas ao transtorno do espectro autista também incluem os transtornos depressivos, ansiosos, insônia, epilepsia, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e deficiência intelectual8. Portanto, o tratamento de primeira linha consiste em intervenções comportamentais, enquanto condições psiquiátricas coexistentes podem ser tratadas com terapias específicas e/ou medicação. O tratamento do transtorno por uso de álcool em indivíduos com espectro autista deve considerar as características únicas do autismo ao desenvolver estratégias de tratamento. Uma abordagem multidisciplinar, suporte social, estratégias de comunicação, treinamento em habilidades sociais podem ser incluídos para um maior sucesso.