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Terapia cognitivo-comportamental (TCC) no tratamento da dependência de álcool

08 Outubro 2021

Entenda os princípios gerais de seu funcionamento e a maneira como a TCC pode ajudar pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool.

A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a psicoterapia individual mais recomendada para o tratamento de transtornos relacionados ao uso de álcool (abuso ou dependência) 1,2. De maneira geral, a TCC tem como ponto de partida para tratamento o modelo cognitivo, que dá especial atenção aos pensamentos (também chamados de cognições) que o indivíduo possa ter sobre si e sobre o mundo; isso é o primeiro princípio geral da terapia cognitiva e da TCC em geral: “nossos pensamentos afetam a maneira como nos sentimos e como nos comportamos”.

De maneira mais estruturada, existem três elementos que são gerais a todas as intervenções dentro da TCC3:

1 – Nossos pensamentos afetam o comportamento e emoções;

2 – Nossos pensamentos podem ser monitorados e modificados;

3 – Mudanças comportamentais desejadas podem ser alcançadas através de mudanças cognitivas.

Esses princípios gerais, contudo, se aplicam de diferentes maneiras, a depender do foco da terapia. Um fator determinante para a formulação dos objetivos da terapia é a prevenção de recaída. Tal foco assume que o paciente procurou tratamento de forma proativa e está disposto a mudar sua relação com o consumo de álcool. É muito comum que tal estado motivacional por parte da pessoa que tem problemas com o consumo de álcool só seja alcançado após algum tipo de intervenção breve, como é caso da entrevista motivacional. E, idealmente, um paciente motivado estará mais apto a desenvolver as habilidades para se abster do consumo de álcool através da TCC4.      

Outras abordagens psicoterápicas apresentam foco semelhante. Um      diferencial é que,      de modo amplo, a prevenção de recaída dentro da TCC é concentrada em dois grandes polos: um reajuste na percepção de que é difícil, na condição de dependente do álcool, organizar e estabelecer regras sobre o consumo (chamada de “baixa autoeficácia”) e o controle ambiental para minimizar contextos favoráveis ao consumo de álcool4.

O primeiro polo visa precaver possíveis desajustes na percepção de controle sobre o consumo. Ao longo do tratamento, é comum a ocorrência de pensamentos como “vou beber só um pouco e já paro”, “vou beber hoje, mas amanhã não”, entre outros. Nesses casos, incentiva-se a percepção da baixa autoeficácia no controle do consumo de álcool, ajudando a pessoa a pensar em estratégias para não incorrer nesse tipo de pensamento. Para além do foco imediato na prevenção de recaída, a TCC costuma atentar para pensamentos comuns que a pessoa possa ter com relação a si e seu consumo de álcool. Entre pessoas com dependência, são comuns e intensos os pensamentos do tipo “só sou legal e sociável quando bebo”, “se eu não beber, fico estressado e não consigo relaxar”, ou ainda que o álcool, apesar do mal que possa trazer, é a única maneira de se sentir feliz, se desestressar e se relacionar com os outros. Nesse sentido, a quebra de tais entendimentos equivocados é parte central da abordagem em TCC4

O segundo polo visa a redução de quaisquer estímulos que possam encorajar o consumo de álcool, e alguns dos tópicos comuns a serem abordados nas etapas iniciais da terapia são:

- Eliminar a maioria (ou idealmente todas) as bebidas alcoólicas presentes em casa;

- Evitar contextos que encorajam o consumo (bares, por exemplo);

- Encorajar atividades incompatíveis com o consumo (como exercícios físicos);

- Abarcar a família e amigos próximos para auxiliarem em mudanças de estilo de vida, reforçando comportamentos saudáveis e ajudando a minimizar situações que aumentem a probabilidade de consumo.

Existem muitos outros pontos de intervenção, e a análise deles deve ser feita com o profissional adequado. Por possuir um grande conjunto de intervenções, a TCC deve se adaptar às necessidades de tratamento de cada pessoa.

O uso de TCC, juntamente com intervenções breves e grupos de apoio (como os Alcoólicos Anônimos) estão entre as abordagens com grande índice de sucesso na recuperação de pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool, principalmente se alinhadas a tratamentos farmacológicos2.

Se você precisa ou conhece alguém que precisa de ajuda, procure informações. No nosso site ou nas nossas mídias sociais, você encontra muito conteúdo sobre diversos temas relacionados ao uso de álcool, incluindo onde buscar ajuda.

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Additional Info

  • Referências:
    1. Carroll KM, Kiluk BD. Cognitive behavioral interventions for alcohol and drug use disorders: Through the stage model and back again. Psychol Addict Behav. 2017;31(8):847-861. doi:10.1037/adb0000311
    2. Knox J, Hasin DS, Larson FRR, Kranzler HR. Prevention, screening, and treatment for heavy drinking and alcohol use disorder. The Lancet Psychiatry. 2019;6(12):1054-1067. doi:10.1016/S2215-0366(19)30213-5
    3. Dobson KS. The Science of CBT: Toward a Metacognitive Model of Change? Behav Ther. 2013;44(2):224-227. doi:10.1016/j.beth.2009.08.003
    4. Rangé BP, Marlatt GA. Terapia cognitivo-comportamental de transtornos de abuso de álcool e drogas. Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(SUPPL. 2):s88-s95. doi:10.1590/S1516-44462008000600006
    5. Castillo-Carniglia A, Keyes KM, Hasin DS, Cerdá M. Psychiatric comorbidities in alcohol use disorder. The Lancet Psychiatry. 2019;6(12):1068-1080. doi:10.1016/S2215-0366(19)30222-6
    6. Kelly TM, Daley DC, Douaihy AB. Treatment of substance abusing patients with comorbid psychiatric disorders. Addict Behav. 2012;37(1):11-24. doi:10.1016/j.addbeh.2011.09.010
    7. Hayes S, Hofmann S. Process-Based CBT: The Science and Core Clinical Competencies of Cognitive Behavioral Therapy. New Harbinger Publications; 2018.
    8. BECK JS. The Therapeutic Relationship in Cognitive-Behavioral Therapy. J Psychiatr Pract. 2018;24(6):443-444. doi:10.1097/pra.0000000000000340

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