O consumo de álcool antes de dormir é uma prática comum, muitas vezes vista como uma forma de facilitar o sono. Porém, evidências científicas recentes, incluindo uma revisão sistemática e meta-análise de 27 estudos publicada em 2025, mostram que o álcool pode alterar significativamente a qualidade do sono em adultos saudáveis. Mesmo que pareça ajudar no início do sono, seu efeito ao longo da noite compromete os ciclos de descanso essenciais..
O álcool age como um depressor do sistema nervoso central, diminuindo o tempo necessário para adormecer ao promover relaxamento e sonolência. Contudo, o efeito do álcool sobre o sono não é uniforme durante toda a noite. Ele pode alterar significativamente a arquitetura do sono, principalmente reduzindo a duração e atrasando o início do sono REM, etapa do sono relacionada à consolidação da memória, regulação emocional e restauração cerebral.
Um estudo de revisão publicado em 20251 mostrou que tanto doses baixas quanto moderadas de álcool já prejudicam o sono REM e aumentam fragmentações e despertares a partir da segunda metade da noite, quando o organismo está metabolizando o álcool e seus metabólitos, como acetaldeído e acetato, promovem aumento da atividade fisiológica e temperatura corporal. Doses altas aceleram o início do sono profundo (N3), mas a interrupção do sono REM e a fragmentação persistem, o que compromete a qualidade global do sono.
Além disso, o álcool tem efeito de relaxar os músculos da garganta, aumentando o risco de ronco e apneia, distúrbios que agravam a fragmentação e a má qualidade do sono. A percepção subjetiva de um boa noite de sono, muitas vezes relatada após o consumo, não corresponde aos dados objetivos de polissonografia, que mostram sono menos restaurador e maior fadiga no dia seguinte.
É importante destacar que os efeitos do álcool variam entre indivíduos, com mulheres podendo ser mais sensíveis devido às diferenças metabólicas e hormonais. O consumo de álcool como auxílio para dormir é, portanto, uma estratégia contraproducente que prejudica funções cognitivas, emocionais e o funcionamento físico no cotidiano.
Em conclusão, a evidência da revisão sistemática reforça que o álcool, embora possa facilitar o adormecimento, compromete a qualidade geral do sono, especialmente ao reduzir o sono REM, que é crucial para processos cognitivos e emocionais. Outros estudos complementares confirmam esses achados2,3, mostrando que o consumo regular de álcool está associado a maior fragmentação do sono e piora do desempenho diurno, incluindo fadiga, prejuízo de atenção e humor alterado. Além disso, pesquisas indicam que o impacto negativo do álcool no sono pode ser ainda mais acentuado em populações vulneráveis, como idosos e pessoas com transtornos do sono já existentes. Por isso, a recomendação é evitar o uso de álcool como recurso para dormir e focar em práticas que promovam um sono natural e restaurador, garantindo assim melhor saúde e qualidade de vida.