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A importância de rastrear o uso de álcool na gravidez

By CISA 27 Novembro 2025

O rastreamento do uso de álcool durante a gravidez é uma estratégia decisiva para proteger a saúde do bebê e da mãe. Apesar de recomendações internacionais claras, estudos mostram que há grande variação entre países tanto na aplicação dos protocolos quanto na capacitação dos profissionais de saúde.

O consumo de álcool na gestação pode provocar uma gama de problemas à criança, agrupados sob o conceito de Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF). Não existe quantidade segura e qualquer exposição pode aumentar o risco de alterações físicas, cognitivas e comportamentais de grande impacto para toda a vida.

Na Austrália, referência mundial em políticas de rastreio, um estudo com mais de 45 mil gestantes atendidas pelo sistema público entre 2010 e 2021 apontou que 99,3% das gestantes eram questionadas sobre o uso de álcool logo na primeira consulta do pré-natal 1. O rastreamento era feito por profissionais treinados, utilizando ferramentas validadas e acompanhamento sistemático. Dos casos analisados, cerca de 7% das gestantes tinham relato de exposição ao álcool, com 1,3% classificadas em situação de alto risco. Mesmo assim, apenas metade das gestantes consideradas de risco alto eram reavaliadas ao longo do acompanhamento, mostrando que ainda existem pontos a melhorar, inclusive na documentação das informações e na articulação com equipes multidisciplinares.

Um cenário diferente é observado nos Estados Unidos. Segundo estudo nacional, apenas 35% dos profissionais de saúde afirmaram realizar perguntas de rastreamento sobre o uso de álcool durante a gravidez 2. Além disso, 37% dos profissionais entrevistados acreditavam equivocadamente que o consumo em algum momento da gestação poderia ser seguro. Esse dado revela uma lacuna significativa de capacitação e uniformidade das práticas, reforçando que protocolos claros, treinamento constante e uso de instrumentos validados são fundamentais para que o rastreamento cumpra sua função preventiva.

Uma revisão internacional comparou as principais ferramentas de rastreamento utilizadas atualmente para identificar o uso de álcool durante a gestação 3. Questionários como T-ACE, TWEAK, AUDIT-C, 4Ps Plus e a Hoja Verde têm boa validade, sendo aplicáveis de forma rápida e simples. O sucesso do rastreamento, entretanto, depende do contexto: ambientes de acolhimento, a inclusão do parceiro nas consultas e a repetição sistemática das perguntas ao longo da gestação melhoram muito a taxa de detecção de casos de risco. Barreiras como desconhecimento dos profissionais, questões culturais, acesso aos serviços e o próprio consumo do parceiro ainda influenciam os resultados nos diversos países.

Em resumo, experiências internacionais mostram que países que adotam políticas de rastreio universais, integradas ao pré-natal, conseguem identificar mais gestantes em risco, prevenir complicações e promover melhor saúde para a mulher e o bebê. O envolvimento da família, treinamento das equipes, documentação eficaz e campanhas educativas são pilares essenciais para avançar na prevenção dos efeitos do álcool na gestação.

No Brasil, não há nenhuma política ou protocolo oficial de rastreio e intervenção para identificar e tratar casos de uso de álcool na gravidez. Nesse sentido, é fundamental que sejam validados e implementados tais instrumentos na saúde pública, que haja capacitação dos profissionais de saúde para o reconhecimento precoce do problema, divulgação de informações para a população e disponibilização de tratamento especializado para as crianças portadoras da síndrome 4.

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Qian S, Seddon S. Examining alcohol screening rates during pregnancy and documentation of prenatal alcohol exposure in a public health district in Australia. Journal of Advanced Nursing. 2025.
    2. Chiodo LM, Cosmian C, Pereira K, et al. Prenatal alcohol screening during pregnancy by midwives and nurses. Alcoholism Clinical and Experimental Research. 2019;43(8):1747-1758.​
    3. Azurmendi-Funes ML, Sánchez-Sauco MF, Campillo López F, et al. Revisão dos questionários utilizados para a detecção do consumo de álcool durante a gravidez e a Hoja Verde. Adicciones. 2023;35(4):493-502.​
    4. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Efeitos do Álcool na Gestante, Feto, Recém-nascido e Criança. Rio de Janeiro, 9 jan. 2025. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/principais-questoes-sobre-efeitos-do-alcool-na-gestante-feto-recem-nascido-e-crianca/>.

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