A discriminação racial é fator determinante para desigualdades sociais e violações de direitos em diversos aspectos. Além da redução de oportunidades, condições dignas de vida, entre outros impactos, pesquisas já mostraram que o racismo pode afetar significativamente a saúde mental e física, principalmente de adolescentes, levando a comportamentos de risco, como uso nocivo de álcool e tabaco, e um pior estado de saúde.
Discriminação Racial entre Alunos Brasileiros
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2015, realizada com 102.072 alunos do nono ano do ensino fundamental das capitais e interior das cinco regiões do Brasil, mostraram um aumento na discriminação racial, principalmente em relação às meninas negras brasileiras que, dentro das escolas, costumam receber tratamento pior também devido ao gênero. De acordo com a pesquisa, estudantes negros apresentavam uma ocorrência de preconceito racial bem mais alta (8,5%) do que os brancos (1,1%).
Um estudo feito com base nos dados da PeNSE1 com o objetivo de investigar a ocorrência de bullying racial* e o uso de substâncias entre escolares brasileiros mostrou que a discriminação tende a ocorrer quando as características do aluno não se encaixam nos padrões estéticos e comportamentais esperados para seu sexo, gênero ou raça. Além disso, a combinação de racismo e sexismo poderia explicar porque meninas negras são as que mais sofrem bullying racial.
A discriminação, como esperado, esteve associada ao maior uso de álcool e tabaco, o que mostra que o racismo pode ser fator determinante para o abuso de substâncias entre esses jovens. Os resultados confirmaram alta prevalência de consumo de álcool e tabaco entre estudantes não brancos e uma forte associação entre bullying racial e o uso dessas substâncias. O estudo também mostrou que meninas de todos os grupos raciais consomem mais álcool do que os meninos.
Como prevenir o uso nocivo de álcool entre os negros?
Mas o que fazer para prevenir que o uso nocivo de álcool e outras substâncias ocorra de forma tão precoce entre esses jovens?
De acordo com o estudo, as escolas são o ambiente ideal para promover ações de prevenção ao preconceito racial, que podem ter reflexos benéficos na saúde mental e física dos estudantes. Além disso, estima que intervenções desse tipo poderiam prevenir 12% do uso de álcool e tabaco em grupos que sofrem discriminação racial. Portanto, promover ações antirracistas que abordem a discriminação racial de forma ampla, incluindo questões de gênero, consequências para a saúde mental e física, pode desempenhar um papel estratégico na prevenção do uso nocivo de substâncias.
*De acordo com o estudo, o bullying racial seria uma sobreposição de discriminação racial e bullying. Embora o bullying e a discriminação possam diferir (a discriminação nem sempre é intencional e o bullying geralmente ocorre entre pares), eles também têm semelhanças, incluindo formas de agressão (por exemplo, verbal, física, social) e objetivos (desqualificação ou humilhação de seus alvos). Nem todo bullying, por sua vez, é baseado no preconceito, ou seja, nem sempre ataca identidades socialmente desvalorizadas, mas quando é causado por viés discriminatório, o adolescente alvo pode ser muito afetado. Quanto mais características desvalorizadas os alunos tiverem, mais complexa será sua condição de alvo de bullying.
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