Comportamentos relacionados ao álcool entre os negros norte-americanos diferem substancialmente de outros grupos raciais. Pesquisas mostram que os negros norte-americanos com 18 anos ou mais apresentaram taxas mais baixas de uso de álcool no último ano (63%) do que os americanos brancos (74%)[1]; por outro lado, a frequência de consumo aumenta a um ritmo mais rápido entre os negros durante a transição para a vida adulta. Além disso, adultos negros também demonstraram maiores níveis de consequências negativas trazidas pela bebida alcoólica quando comparados com outros grupos raciais.
A discriminação racial é identificada como um potencial estressor, que contribui para o surgimento de diversos problemas para a saúde física e mental, bem como comportamentos de risco associados ao consumo de álcool. Preconceitos devido a crenças, atitudes, arranjos institucionais e atos percebidos e/ou internalizados da comunidade negra provocam situações de estresse a esse grupo, levando muitos a buscar recursos de enfrentamento diversos, incluindo o uso do álcool.
A situação pode ser ainda mais delicada para as mulheres negras. Um estudo, realizado pelo NIAAA durante a pandemia, entre fevereiro e novembro de 2020, revelou que, entre os entrevistados, o maior aumento no consumo de álcool foi entre as mulheres negras e hispânicas (173% e 148%, respectivamente)[2]. E estes dados são preocupantes pois há evidências de disparidade de gênero, raça/etnia e impactos socioeconômicos no consumo excessivo de álcool[3]. Além disso, é importante ressaltar que as mulheres são mais propensas a usar álcool para lidar com estresse, depressão e ansiedade[4].
Depressão e discriminação socioeconômica
Embora a discriminação racial seja geralmente associada ao consumo abusivo do álcool, pesquisas não conseguiram encontrar uma associação direta entre eles, porém alguns estudos recentes sugerem que o preconceito está indiretamente associado aos ao uso abusivo de álcool por meio de sintomas depressivos[5]. Em outras palavras, ser vítima de preconceito pode conduzir à depressão, o que, por sua vez, pode levar ao abuso de álcool.
Uma pesquisa realizada com universitários negros norte-americanos mostrou que as experiências de discriminação racial sofridas por eles estão associadas ao aumento no consumo e nos problemas com o álcool por meio de mais sintomas depressivos[5].
A depressão pode ser um motivo plausível por meio do qual a discriminação racial influencia os resultados do uso de álcool: pesquisas comprovam que o preconceito apresenta uma forte ligação com o aumento dos transtornos mentais, como sintomas depressivos e a frequência no uso do álcool entre negros americanos[5].
A discriminação socioeconômica, como frustrações, assédio ou sentir-se rebaixado por causa de sua classe social ou posição econômica, pode também ser comumente vivenciada pela população negra. Resultados de estudos sugerem que esse tipo de discriminação é um grande fator de risco para o início do consumo de álcool entre as jovens negras[6].
Identidade racial como moderador do consumo
Alguns pesquisadores observaram que as dimensões da identidade étnico-racial moderaram a associação entre discriminação racial e álcool[5]. Em outras palavras, níveis mais altos de respeito e orgulho racial podem reduzir o risco desse grupo se engajar no uso de álcool como forma de lidar com as consequências relacionadas às experiências de discriminação.
Além disso, segundo outros estudiosos [7], as intervenções culturalmente específicas voltadas ao público negro têm se mostrado mais bem sucedidas do que as tradicionais. Nesse sentido, o tratamento pode ir além e ajudar também com as sequelas emocionais da discriminação que podem ter levado ao uso nocivo do álcool.
Paralelamente a isso, investir em programas direcionados à prevenção, considerando fatores psicossociais de particular relevância para esse grupo, podem ser ações fundamentais para evitar as consequências do abuso do álcool.
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