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Álcool e Discriminação Racial

30 Junho 2022

 

Discriminação racial é um dos principais fatores que pode levar a população negra ao uso nocivo do álcool.

Comportamentos relacionados ao álcool entre os negros norte-americanos diferem substancialmente de outros grupos raciais. Pesquisas mostram que os negros norte-americanos com 18 anos ou mais apresentaram taxas mais baixas de uso de álcool no último ano (63%) do que os americanos brancos (74%)[1]; por outro lado, a frequência de consumo aumenta a um ritmo mais rápido entre os negros durante a transição para a vida adulta. Além disso, adultos negros também demonstraram maiores níveis de consequências negativas trazidas pela bebida alcoólica quando comparados com outros grupos raciais.
A discriminação racial é identificada como um potencial estressor, que contribui para o surgimento de diversos problemas para a saúde física e mental, bem como comportamentos de risco associados ao consumo de álcool. Preconceitos devido a crenças, atitudes, arranjos institucionais e atos percebidos e/ou internalizados da comunidade negra provocam situações de estresse a esse grupo, levando muitos a buscar recursos de enfrentamento diversos, incluindo o uso do álcool.
A situação pode ser ainda mais delicada para as mulheres negras. Um estudo, realizado pelo NIAAA durante a pandemia, entre fevereiro e novembro de 2020, revelou que, entre os entrevistados, o maior aumento no consumo de álcool foi entre as mulheres negras e hispânicas (173% e 148%, respectivamente)[2]. E estes dados são preocupantes pois há evidências de disparidade de gênero, raça/etnia e impactos socioeconômicos no consumo excessivo de álcool[3]. Além disso, é importante ressaltar que as mulheres são mais propensas a usar álcool para lidar com estresse, depressão e ansiedade[4].

Depressão e discriminação socioeconômica
Embora a discriminação racial seja geralmente associada ao consumo abusivo do álcool, pesquisas não conseguiram encontrar uma associação direta entre eles, porém alguns estudos recentes sugerem que o preconceito está indiretamente associado aos ao uso abusivo de álcool por meio de sintomas depressivos[5]. Em outras palavras, ser vítima de preconceito pode conduzir à depressão, o que, por sua vez, pode levar ao abuso de álcool.
Uma pesquisa realizada com universitários negros norte-americanos mostrou que as experiências de discriminação racial sofridas por eles estão associadas ao aumento no consumo e nos problemas com o álcool por meio de mais sintomas depressivos[5].
A depressão pode ser um motivo plausível por meio do qual a discriminação racial influencia os resultados do uso de álcool: pesquisas comprovam que o preconceito apresenta uma forte ligação com o aumento dos transtornos mentais, como sintomas depressivos e a frequência no uso do álcool entre negros americanos[5].
A discriminação socioeconômica, como frustrações, assédio ou sentir-se rebaixado por causa de sua classe social ou posição econômica, pode também ser comumente vivenciada pela população negra. Resultados de estudos sugerem que esse tipo de discriminação é um grande fator de risco para o início do consumo de álcool entre as jovens negras[6].
Identidade racial como moderador do consumo
Alguns pesquisadores observaram que as dimensões da identidade étnico-racial moderaram a associação entre discriminação racial e álcool[5]. Em outras palavras, níveis mais altos de respeito e orgulho racial podem reduzir o risco desse grupo se engajar no uso de álcool como forma de lidar com as consequências relacionadas às experiências de discriminação.
Além disso, segundo outros estudiosos [7], as intervenções culturalmente específicas voltadas ao público negro têm se mostrado mais bem sucedidas do que as tradicionais. Nesse sentido, o tratamento pode ir além e ajudar também com as sequelas emocionais da discriminação que podem ter levado ao uso nocivo do álcool.
Paralelamente a isso, investir em programas direcionados à prevenção, considerando fatores psicossociais de particular relevância para esse grupo, podem ser ações fundamentais para evitar as consequências do abuso do álcool.

 

Veja também Álcool e diversidade sexual

Additional Info

  • Referências:

    1 Desalu, J. M., Goodhines, P. A., & Park, A. (2019). Racial discrimination and alcohol use and negative drinking consequences among Black Americans: a meta-analytical review. Addiction (Abingdon, England)114(6), 957–967. https://doi.org/10.1111/add.14578

     2 Barbosa, Carolina, et al. "Assessing Pandemic-Driven Changes in Alcohol Consumption." (2021).

     3 Witbrodt, J., Mulia, N., Zemore, S. E., & Kerr, W. C. (2014). Racial/ethnic disparities in alcohol-related problems: differences by gender and level of heavy drinking. Alcoholism, Clinical and Experimental Research, 38(6), 1662-1670. https://doi.org/10.1111/acer.12398

     4 Peltier, M. R., Verplaetse, T. L., Mineur, Y. S., Petrakis, I. L., Cosgrove, K. P., Picciotto, M. R., & McKee, S. A. (2019). Sex differences in stress-related alcohol use. Neurobiology of Stress, 10, 100149. https://doi.org/10.1016/j.ynstr.2019.100149

     5 Su, J., Seaton, E. K., Williams, C. D., Spit for Science Working Group, & Dick, D. M. (2021). Racial discrimination, depressive symptoms, ethnic–racial identity, and alcohol use among Black American college students. Psychology of Addictive Behaviors, 35(5), 523–535. https://doi.org/10.1037/adb0000717

     6 Haeny, A. M., Sartor, C. E., Arshanapally, S., Ahuja, M., Werner, K. B., & Bucholz, K. K. (2019). The association between racial and socioeconomic discrimination and two stages of alcohol use in blacks. Drug and alcohol dependence199, 129–135. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2019.02.026

     7 Anderson, R. E., Lee, D. B., Hope, M. O., Nisbeth, K., Bess, K., & Zimmerman, M. A. (2020). Disrupting the Behavioral Health Consequences of Racial Discrimination: A Longitudinal Investigation of Racial Identity Profiles and Alcohol-Related Problems. Health education & behavior : the official publication of the Society for Public Health Education47(5), 706–717. https://doi.org/10.1177/1090198120923268

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