Pouco se sabe sobre os transtornos por uso de substâncias em minorias, mas segundo pesquisas, existem diferenças significativas entre o uso de substâncias com base na orientação sexual e de gênero. Estes estudos sugerem que a população LGBTQIA+* seria mais propensa a relatar o uso e a dependência de álcool em comparação com heterossexuais1,2.
Mas por que isso acontece?
Pouco se sabe ainda sobre a relação entre ser LGBTQIA+ e o uso de substâncias, incluindo o álcool. Também ainda há pouca compreensão sobre como estressores sociais influenciam as disparidades de orientação sexual em transtornos por uso de substâncias. Porém, alguns estudos sugerem que os estressores sociais únicos vivenciados por esse grupo poderiam conferir maiores chances de vivenciar esse tipo de transtorno. A exposição crônica ao estresse no trabalho e nas esferas familiar e social são situações que esse grupo de pessoas enfrenta de maneira mais intensa, o que aumentaria o risco de utilizarem o álcool e outras substâncias como “anestésico”. Além disso, estressores interpessoais, como a discriminação, a vitimização, a homofobia e a dificuldade em lidar com as emoções negativas decorrentes dessas experiências também estariam associados ao abuso de substâncias2.
Pesquisas com heterossexuais indicam que a baixa eficácia de enfrentamento de situações estressantes está relacionada ao início do uso nocivo do álcool. Esse pode ser também um mecanismo desencadeador do consumo nocivo de álcool pelas minorias sexuais e de gênero. Os estigmas podem provocar ansiedade na interação social de forma ainda mais forte nesse grupo, causando sentimentos de angústia ao interagir com outras pessoas1. Diante dessas experiências, pessoas LGBTQIA + acabam sendo muito afetadas e quando passam por situações estressantes, relatam mais ansiedade e mais dificuldade de enfrentamento, o que aumentaria as chances de praticar o consumo nocivo de álcool.
Entre os subgrupos, algumas diferenças no uso de substâncias e experiências estressantes são observadas. No que diz respeito às mulheres, todos os subgrupos de minorias sexuais apresentam taxas mais altas de transtornos relacionados ao uso de álcool quando comparado com mulheres heterossexuais1. Estudos mostram que homens gays e homens e mulheres bissexuais relatam mais eventos estressantes diários, e homens e mulheres gays/lésbicas e bissexuais também relatam sofrer mais eventos de discriminação do que os heterossexuais. Isso significa que possuir uma identidade LGBTQIA+ confere vulnerabilidade, já que as minorias identificadas abertamente como LGBTQIA+ tendem a sofrer com a discriminação de forma mais frequente e intensa do que aqueles que exercem papéis de gênero heteronormativos2.
O estresse é um poderoso correlato do uso de substâncias e a redução das disparidades de subgrupo na exposição ao estresse poderia reduzi-lo. Nesse sentido, os estudos sugerem que as políticas que visem aumentar a equidade na orientação sexual de de gênero, bem como reduzir a discriminação e a marginalização são fundamentais para reduzir o estresse das minorias, bem como intervenções que auxiliem a lidar com o estresse e suas consequências psicológicas. Também salientam que médicos que trabalham com esses grupos minoritários devem avaliar experiências de estresse e buscar entender com tais pacientes como elas podem influenciar no seu uso do álcool. Aprender a lidar também com o estresse e as consequências psicológicas que ele traz são formas essenciais para realizar intervenções adequadas ao perfil desse público visando reduzir ou suspender o uso de substâncias nocivas à sua saúde.
Então, se você se identifica como LGBTQIA+ e percebe sintomas de estresse, ansiedade, depressão ou abuso de substâncias, procure ajuda especializada de um médico ou psicólogo. Grupos de ajuda mútua também podem ser uma boa opção para os que se sentem confortáveis com essa prática. Existem tratamentos eficazes e quanto antes você buscar ajuda, melhor.
* A sigla LGBTQIA+ significa lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou transgênero, queers, interessexuais e assexuais.