A forma como o corpo reage ao consumo excessivo de álcool pode mudar ao longo da vida. Contrariando a percepção subjetiva, que associa sintomas mais severos da ressaca a pessoas mais velhas, um estudo mostrou que a severidade e a frequência da ressaca alcoólica tendem a ser maiores entre adultos jovens, especialmente homens, enquanto pessoas mais velhas relataram sintomas menos intensos.
A ressaca é um conjunto de sintomas físicos e mentais que surgem após o consumo excessivo de álcool. Entre os principais sintomas estão: dor de cabeça, náusea, fadiga e sensibilidade à luz. Esses efeitos são causados principalmente por fatores como desidratação, alterações no sono, queda de glicose e acúmulo de substâncias tóxicas no organismo. Embora não exista cura para a ressaca, é possível amenizar os sintomas com moderação no consumo, boa hidratação e alimentação adequada. [Saiba mais em Série Tudo Sobre Ressaca]
A intensidade da ressaca também pode variar conforme gênero e idade. Pessoas mais velhas e mulheres tendem a sentir mais os efeitos do álcool devido a diferenças na metabolização, devido a fatores biológicos que tornam esses grupos mais susceptíveis a seus impactos. Jovens costumam metabolizar o álcool mais rapidamente, porém tendem a consumir em maior quantidade, o que pode agravar os sintomas.
Contrariando a percepção do senso comum, que associa sintomas mais intensos de ressaca a ser mais velho, um estudo publicado na revista científica Alcohol and Alcoholism mostrou que adultos mais velhos (a partir de 40 anos de idade) relataram sintomas de ressaca menos severos em comparação com adultos mais jovens, mesmo após controlar a quantidade de álcool consumida.1
O estudo foi conduzido com mais de 7 mil participantes de ambos os sexos (61,6% mulheres), com idades entre 18 e 94 anos. Os dados foram coletados através de questionários online, em que os indivíduos relataram seus hábitos de consumo de álcool, episódios de intoxicação, severidade das ressacas (avaliada em uma escala de 0 a 10), e frequência de ressacas no último ano. A concentração estimada de álcool no sangue (eBAC) foi calculada considerando peso, sexo, quantidade ingerida e tempo de ingestão.
Os resultados mostraram que tanto a severidade quanto a frequência das ressacas tendem a diminuir com o passar da idade, mesmo quando se considera a quantidade de álcool consumida e a concentração estimada de álcool no sangue (eBAC). Indivíduos mais jovens, especialmente os homens, relataram experiências de ressaca mais intensas. No entanto, à medida que a idade avança, as diferenças entre os sexos tornam-se menos relevantes. Observou-se também uma redução na percepção subjetiva de intoxicação entre os participantes mais velhos, o que pode contribuir para a menor severidade das ressacas neste grupo. Outro fator apontado foi a diminuição da sensibilidade à dor com o envelhecimento, o que pode explicar a percepção mais branda dos sintomas de ressaca em pessoas mais velhas.
Embora o estudo indique achados relevantes sobre a relação entre a idade e a intensidade da ressaca alcoólica, algumas limitações devem ser consideradas. O uso de dados auto relatados pode ter introduzido viés de memória e subnotificações por parte dos participantes. Além disso, por se tratar de um estudo com delineamento transversal, os dados foram coletados em um único ponto no tempo, o que impossibilita estabelecer relações de causa e efeito entre as variáveis analisadas, ou seja, apenas associações podem ser observadas. A concentração de álcool no sangue foi apenas estimada, e não medida diretamente, o que compromete a precisão dos resultados. Fatores importantes como o tipo de bebida ingerida, hábitos alimentares, qualidade do sono e predisposição genética não foram controlados. Por fim, a amostra pode não refletir adequadamente a população idosa mais vulnerável, uma vez que a coleta de dados foi realizada exclusivamente de forma online.
A pesquisa demonstrou que a experiência e a percepção subjetiva da ressaca alcoólica variam ao longo da vida, sendo mais intensa e frequente em adultos jovens, especialmente do sexo masculino. No entanto, é bom frisar que os achados deste estudo são limitados às percepções dos sintomas da ressaca nas pessoas avaliadas, e que não dizem respeito diretamente aos efeitos do álcool no organismo. Em outras palavras, pessoas mais velhas relatarem sintomas mais brandos não significa que o álcool produz menos efeitos nocivos para elas.
1. Verster JC, Severeijns NR, Sips ASM, Saeed HM, Benson S, Scholey A, et al. Alcohol Hangover Across the Lifespan: Impact Of Sex and Age. Alcohol and Alcoholism. 2021 Apr 5;56(5):589–98.