O consumo do álcool foi avaliado em todas as edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizadas nos anos de 2009, 2021, 2015 e 2019.A análise aborda diversos indicadores de consumo entre jovens, como a experimentação ou início da exposição ao álcool, precocidade da iniciação (se ocorreu antes dos 14 anos de idade), consumo recente (feito nos 30 dias anteriores à pesquisa), uso abusivo (ingestão superior a quatro doses, em uma mesma ocasião, para as mulheres e de cinco para os homens) e “episódios de embriaguez”, utilizado como outro indicador de uso abusivo do álcool.
Com relação à experimentação do álcool, a PeNSE iniciou a sua pesquisa em 2009, através de um quesito onde a experimentação não vinha acompanhada de nenhum parâmetro ou definição sobre ela: “Alguma vez na vida, você já experimentou bebida alcoólica?”; em 2012, a questão foi reformulada, especificando a experimentação como a ingestão de ao menos uma dose de bebida alcoólica e exemplificando medidas de dose de diferentes tipos de bebidas alcoólicas. Isto representa uma melhora na questão, já que ajuda a especificar uma dose que pode embriagar ou provocar alguma percepção dos efeitos do álcool no organismo.
Em 2019, novas reformulações textuais foram feitas para as questões referentes ao consumo de álcool. Por esse motivo, embora essas modificações tenham sido realizadas para uma melhor captação da informação do indicador, as comparações entre as diferentes edições da PeNSE devem ser feitas maior cuidado, dada a variabilidade metodológica.
A experimentação, medida através da ingestão de uma dose de bebida alcoólica “alguma vez na vida” apresentou estabilidade entre 2012 e 2015 para os escolares do 9º ano, com índices maiores entre as meninas (55,0% em 2012 e 54,5% em 2015) em comparação aos meninos (50,4% e 50,8%, respectivamente). Em 2019, observou-se um aumento estatisticamente significativo para ambos os sexos em 2019, com uma maior disparidade entre meninas (67,4%) em relação aos meninos (58,8%), que passa de uma diferença de menos de 4 pontos percentuais em 2015, para uma disparidade de mais de 8 pontos percentuais em 2019, indicando preocupante tendência. A razão de chances (OR, da sigla em inglês “odds ratio”) do parâmetro de experimentação do álcool, dos Municípios das Capitais, em comparação com São Paulo, mostraram que Porto Alegre (1,65), Campo Grande (1,36) e Florianópolis (1,25) foram as Capitais com maior chance do escolar ter experimentado álcool. Observa-se que, em duas dessas Capitais, Florianópolis e Campo Grande, havia sido observada tendência de aumento do consumo abusivo também para a população geral (como apresentado no relatório “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2022”).
O consumo recente de álcool (indicando consumo de pelo menos um copo ou uma dose de bebida alcoólica nos 30 dias anteriores à pesquisa) manteve-se estável no período para as meninas e decrescente para os meninos, com as meninas ultrapassando os meninos a partir de 2012, e com uma tendência a ampliar essa diferença, tal como o observado no critério de “experimentação”.
Por fim, as investigações experimentais do IBGE referentes ao consumo abusivo indicaram uma tendência de aumento ao longo das edições da pesquisa. Para os meninos, passou de 19% em 2009 para 26,2% em 2019 e para as meninas, foi de 20,6% para 25,5% no mesmo período. A diferença entre meninos e meninas, que era relativamente significativa em 2012 e 2015, praticamente desaparece em 2019, como indicado no gráfico abaixo, extraído do relatório, disponível para download gratuito no site do IBGE.
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