O câncer é uma doença multifatorial e que afeta, mais comumente, pessoas acima de 50 anos de idade. No entanto, evidências mostram que a incidência de diversos tipo de câncer, incluindo os de mama, colorretal, endométrio, esôfago, ducto biliar extra-hepático, vesícula biliar, cabeça e pescoço, rim, fígado, medula óssea (mieloma múltiplo), pâncreas, próstata, estômago e tireoide, tem aumentado em adultos com menos de 50 anos de idade em várias partes do mundo.
A partir destes fatos, recentemente, a revista científica Nature Reviews Clinical Oncology publicou um artigo de revisão com o objetivo de relatar as mudanças na incidência de câncer de início precoce (no caso, adultos com menos de 50 anos) em todo o mundo e sugerir medidas que possam diminuir o risco de câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis.
A princípio, o estudo menciona que a incidência de câncer em adultos com menos de 50 anos de idade vem aumentando em vários lugares do mundo desde a década de 1990. As principais evidências sugerem que exposições a fatores de risco no início da vida e na idade adulta jovem podem contribuir para a origem da doença, embora estes efeitos específicos ainda precisem ser melhor esclarecidos.
Contudo, esta questão pode ser explicada através das alterações biológicas que ocorrem ao longo da vida devido às exposições ambientais, dieta, estilo de vida, obesidade e microbiota, que mudaram substancialmente em todo o mundo desde meados do século XX. Este conjunto de exposições ambientais é chamado, em biologia, de “exposossoma”. Nesse sentido, os autores apontam que surgiram tendências em crianças, adolescentes e adultos com relação à estatura, sobrepeso e obesidade, diabetes tipo-2, inatividade física, dieta “estilo ocidental” (definida como dieta rica em gorduras saturadas, carne vermelha, carne processada, açúcar e alimentos ultra processados, mas pobre em frutas, vegetais, grãos integrais e fibras) e ingestão de bebidas açucaradas.
O consumo de álcool per capita também aumentou entre 1960 e 2010, embora haja variações deste consumo entre os países, com queda na Europa ocidental e aumento em algumas regiões da Ásia. No Brasil, houve queda importante do consumo per capita de álcool, que diminuiu 14% desde 2010. Já o consumo abusivo permaneceu estável no Brasil ao longo da última década para a população geral, com aumento entre as mulheres jovens e escolarizadas.
Os hábitos de fumar também mudaram, com o Brasil sendo um dos países onde houve o maior declínio do tabagismo no mundo 2. Por outro lado, o sedentarismo, a obesidade e o consumo de ultraprocessados aumentaram no país nos últimos anos.
Além dos hábitos de fumar pessoais, há os efeitos da exposição involuntária à fumaça, especialmente durante o início da vida. Os padrões de sono, bem como a extensão da exposição a luzes brilhantes à noite, também mudaram em crianças, adolescentes e adultos desde o início do século.
O artigo enfatiza a necessidade de aumento da conscientização sobre a epidemia de câncer de início precoce e aumentar os esforços de prevenção. Como sugestão, o texto propõe melhorar o conhecimento em saúde da população e promover intervenções que estimulem um estilo de vida mais saudável, em especial a dieta, que pode reduzir o risco de câncer. Além dos esforços de prevenção pessoal, outras intervenções que promovam a adesão a um estilo de vida mais saudável em nível social, como a regulamentação de indústrias que produzem tabaco, alimentos e bebidas ultraprocessados, podem ter um efeito no combate ao câncer.
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