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O consumo moderado de álcool e o menor risco de demência

27 Setembro 2022

Estudo mostra que o consumo leve a moderado de álcool pode ser um fator de proteção ao desenvolvimento de demência.

 

Nas últimas décadas, devido ao aumento da expectativa de vida em muitos países, incluindo os de baixa e média renda, a prevalência global de demência quase triplicou, de 20,2 milhões em 1990 para 57,4 milhões em 2019. Na ausência de tratamentos para curar a doença, a redução dos fatores de risco é uma estratégia fundamental para preveni-la.

O uso excessivo ou prejudicial de álcool na meia-idade foi recentemente incluído no relatório de 2020 da Comissão Lancet como um dos principais fatores de risco modificáveis para demência [1]. Em diversos estudos, muitas vezes baseados em amostras de adultos mais velhos, o uso pesado de álcool foi associado ao aumento do risco de demência, ao passo que o uso leve a moderado de álcool poderia reduzir este risco quando comparado com a abstinência [2]. Dessa forma, curva da relação álcool-demência seria em forma de J, com baixos níveis de uso de álcool conferindo algum benefício quando comparados com a abstinência e níveis progressivamente mais altos de uso de álcool associados a um aumento do risco de demência. A possível explicação para o efeito protetor do uso leve a moderado de álcool incluiria efeitos indiretos através da redução da doença cardiometabólica e a possível modulação da deposição de beta-amiloide e da função glinfática.

Embora a abstinência de álcool tenha sido frequentemente associada a um risco maior de demência, essa relação é ainda objeto de considerável debate. As meta-análises até então publicadas possuíam várias limitações, sendo as mais importantes a ausência de padronização dos diferentes padrões de consumo de álcool (“leve”, “moderado” e “pesado”) impedindo a comparação entre estudos, a confusão entre ex-bebedores e abstêmios ao longo da vida, bem como amostras exclusivas de países de alta renda e a diferenciação entre as demências.

Estudo mais recente sobre o tema, publicado na revista Addiction [3], com amostra de 24 478 pessoas com mais de 60 anos de idade procurou contornar essas limitações, incluindo representação de países de baixa e média renda. O estudo mostrou que, quando comparado com abstêmios, o risco de demência foi menor em bebedores ocasionais (menor que 1 dose de álcool/dia), leves-moderados (até duas doses de álcool/dia) e moderados-pesados (até 4 doses álcool/dia). Lembrando que uma dose de álcool é equivalente a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um shot de destilado. 

O estudo ainda possui algumas limitações, como registro do uso de álcool por autorrelato, que é propenso a subnotificação, e a impossibilidade de avaliar de forma consistente as diferenças por tipo de bebida, embora alguns estudos mostrem que algumas (como o vinho e a cerveja) sejam mais protetoras contra a demência do que outras (destilados).

Embora o uso de álcool leve a moderado esteja associado a um menor risco de demência, seu uso não deve ser encorajado entre aqueles que não bebem. O álcool não é um “remédio” para tratar ou prevenir nenhum tipo de doença.

 

Additional Info

  • Referências:
    1. Livingston G, Huntley J, Sommerlad A, Ames D, Ballard C, Banerjee S, et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission. Lancet. 2020;396:413–46.
    2. Visontay R, Rao RT, Mewton L. Alcohol use and dementia: new research directions. Curr Opin Psychiatry. 2021;34:165–70.
    3. Mewton, L, Visontay, R, Hoy, N, Lipnicki, DM, Sunderland, M, Lipton, RB, et al. The relationship between alcohol use and dementia in adults aged more than 60 years: a combined analysis of prospective, individual-participant data from 15 international studies. Addiction. 2022. https://doi.org/10.1111/add.16035

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