O álcool é uma substância que atravessa facilmente a barreira placentária e, no puerpério, é transferido para o leite materno em concentrações próximas às da circulação materna, atingindo pico plasmático–lácteo entre 30 e 60 min após a ingestão. Durante a gestação, essa exposição está vinculada a malformações permanentes e déficits neurocognitivos de longo prazo. No contexto da amamentação, ingestões elevadas ou frequentes podem reduzir a produção e a ejeção do leite, alterar o sono do lactente e prejudicar seu crescimento e desenvolvimento.
No período gestacional, a diretriz do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) é categórica: não existe quantidade segura de álcool; a recomendação é abstinência total em todas as fases da gravidez.
Já na amamentação, as orientações divergem em grau de permissividade. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) adota o princípio da precaução e indica que o consumo ideal é zero; admite-se, porém, um drinque ocasional se a mãe aguardar o tempo necessário para eliminação do álcool antes de oferecer o peito. O Ministério da Saúde endossa essa postura conservadora: além de desencorajar qualquer ingestão frequente, orienta suspender temporariamente a amamentação caso o consumo seja regular.
Nos Estados Unidos, tanto os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) quanto a American Academy of Pediatrics (AAP) adotam uma abordagem controlada. Consideram mais seguro evitar o álcool, mas permitem até uma dose-padrão por dia (≈ 14 g de álcool – dose padrão no país), desde que a mãe aguarde pelo menos duas horas por dose antes da próxima mamada. Ingestões superiores a duas doses ao dia são desencorajadas, pois elevam o risco de efeitos adversos para o bebê.
Para a lactante que decida ingerir álcool, algumas medidas reduzem o risco de exposição infantil: planejar as mamadas ou a ordenha antes de beber; dispor de leite previamente estocado para cobrir o intervalo de espera; contar rigorosamente as doses e respeitar o período mínimo de duas horas por dose; e garantir que outro cuidador sóbrio assuma tarefas como banho, transporte ou cama compartilhada enquanto houver efeitos do álcool.
Em síntese, gestantes devem manter abstinência. Lactantes, se seguirem a orientação brasileira, devem evitar ou restringir ao mínimo possível o consumo; se optarem pela referência norte-americana, estão limitadas a um drinque ocasional, com espera mínima de duas horas antes de amamentar. Qualquer consumo acima desse limiar, especialmente em episódios binge, ou seja, de consumo intenso, exige suspensão temporária da amamentação e consulta ao pediatra para individualizar a conduta.
Sociedade Brasileira de Pediatria. (2024). Guia prático de aleitamento materno. Guia prático de aleitamento materno (Atualização 2024). Rio de Janeiro, RJ: SBP.
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Ministério da Saúde. (2022). Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias (2ª ed.). Brasília, DF.