Um estudo recente analisou como a puberdade poderia afetar o consumo de álcool por jovens, além de observar quais os fatores mediadores dessa relação1. Mais especificamente, como a percepção de “maturidade” (passagem para o período da adolescência) poderia afetar a relação da criança/adolescente com o álcool. O momento de início da puberdade em relação aos pares pode impactar o risco de resultados comportamentais prejudiciais, e uma das associações mais bem observadas pelas pesquisas diz respeito à maturação precoce e o aumento do risco de problemas com uso de substâncias na adolescência2. Desse modo, quanto mais cedo a puberdade fosse atingida, maior a chance de o adolescente começar a beber.
Para estudar essa relação, foram analisados dados de um grande estudo de coorte do Reino Unido, com mais de 10 mil pessoas acompanhadas desde os nove meses de vida até a adolescência. Os autores avaliaram especificamente 3 critérios: consumo de álcool na vida (ter experimentado álcool), consumo frequente (ter consumido álcool três vezes ou mais no ano anterior à entrevista) e Beber Pesado Episódico (BPE).
Com relação ao consumo de álcool, a pesquisa relata que mais de 40% dos jovens já haviam consumido álcool na vida, isto é, antes dos 14 anos. Para ambos os sexos, mais de 20% dos entrevistados relataram consumo frequente de álcool, e 9% relataram BPE. Nesse sentido, adolescentes que atingiram a puberdade mais cedo tinham mais probabilidade de consumir álcool, para ambos os sexos. Associados à puberdade também estavam maior chance de estar “namorando” e de ter amigos(as) que bebiam.
A pesquisa aprofundou a análise sobre os fatores parentais mediadores da relação entre puberdade precoce e consumo de álcool, divididos em quatro categorias:
- a permissividade dos pais com relação ao consumo de álcool,
- o tempo dos filhos sem supervisão,
- o distanciamento parental e
- a falta de conhecimento dos pais sobre as atividades dos filhos(as).
Apesar de todos estes fatores aumentarem com a idade, observou-se que esse crescimento era maior em crianças com puberdade precoce. Estudos anteriores já haviam mostrado que a permissividade dos pais é um fator de risco para consumo de álcool na adolescência e início de vida adulta2–4, e o presente estudo aponta que esses efeitos podem ser mais acentuados em crianças que atingem a puberdade mais cedo.
Portanto, são necessárias medidas de prevenção que abordem a permissividade dos pais com relação ao álcool como prejudicial para a saúde dos filhos(as), principalmente se tais crianças atingirem a puberdade de forma precoce.
Se quiser mais informações atuais sobre o consumo de álcool no Brasil, confira nossa publicação "Álcool e a Saúde dos Brasileiros - Panorama 2021".