Doença cardíaca hipertensiva e doença cardíaca isquêmica são, conjuntamente, responsáveis por mais de 10% dos óbitos atribuíveis ao álcool no Brasil, como mostra a publicação "Álcool e a Saúde dos Brasileiros - Panorama 2021". Dado que a hipertensão arterial sistêmica (HAS), também conhecida como pressão alta, e o consumo excessivo de álcool são altamente prevalentes em todo o mundo, é importante avaliar o efeito e as consequências clínicas da ingesta de álcool em pessoas com HAS. A HAS é uma doença crônica que, se não for prevenida e tratada, pode causar lesões em artérias e órgãos vitais, como coração, cérebro e rins. Junto com os fatores de risco como obesidade, dieta e idade, acredita-se que o consumo de álcool desempenhe um papel importante no desenvolvimento da hipertensão1.
A pressão alta, por si só, está associada a mudanças estruturais no coração e nos vasos sanguíneos, o que aumenta o risco de algumas doenças cardiovasculares (DCV), como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio ou insuficiência cardíaca congestiva2. Evidências apoiam uma correlação entre o consumo pesado de álcool e o risco de desenvolver doenças como a hipertensão arterial, cardiomiopatia alcoólica (CMA) e arritmias3.
Uma recente revisão sistemática da literatura foi realizada para quantificar os efeitos agudos de diferentes doses de álcool ao longo do tempo em relação à pressão arterial e a frequência cardíaca em adultos. A principal conclusão é que o álcool em altas doses (acima de 30g de álcool para homens e acima de 20g para mulheres) mostra um efeito bifásico por diminuir a pressão arterial em até 12 horas após o consumo e aumentá-la após esse período. Já a frequência cardíaca foi aumentada quando consumidas altas doses de álcool em todos os momentos, até 24 horas após o consumo4.
É importante ressaltar que existem discrepâncias na literatura entre os benefícios e os malefícios do consumo do álcool no sistema cardiovascular, especialmente no que se refere à quantidade de álcool que alguém consome regularmente3. A Sociedade Canadense de Cardiologia publicou, em 2020, um posicionamento sobre o consumo de álcool e sua relação com o coração. Para indivíduos sem comorbidades, a recomendação foi de abstinência do uso de álcool ou a redução do consumo para no máximo 2 drinques por dia para prevenir hipertensão arterial. A Sociedade Brasileira de Cardiologia, por sua vez, publicou, em 2019, recomendação de que todos os adultos com pressão arterial elevada ou hipertensão limitassem a ingesta de álcool, porém sem especificações sobre quantidade.
Os resultados dessas pesquisas não devem ser usados para encorajar o uso de álcool para prevenir hipertensão, dado que ainda existe discordância na literatura científica e, principalmente, devido a muitos outros problemas sociais e de saúde relacionados ao consumo nocivo da substância. Para quem é adulto e optou por beber, certifique-se que está fora das condições de álcool zero. Sempre pergunte ao seu médico se você pode consumir bebidas alcoólicas, especialmente se tem um problema de saúde ou toma medicamentos que podem interagir com o álcool. Se ele concordar com o consumo de álcool, lembre-se de manter-se dentro das diretrizes de moderação: até 1 dose por dia para mulheres e até 2 doses por dia para homens.