Um estudo recente1, publicado no renomado periódico JAMA Psychiatry, avaliou os efeitos da psilocibina – substância presente em cogumelos alucinógenos – acompanhada de psicoterapia no uso pesado de álcool (que é definido como 5 ou mais doses de álcool para homens, ou 4 ou mais doses para mulheres).
Foi realizado um ensaio clínico com 95 participantes com idades entre 25 e 65 anos, que tivessem diagnóstico de dependência de álcool e uso pesado de álcool. Eles foram separados em um grupo que recebeu psilocibina e outro grupo que não recebeu a substância. Os autores observaram que houve uma redução mais acentuada no consumo pesado de álcool no primeiro grupo. Como mostra o gráfico abaixo, extraído do estudo, depois do período de rastreio (“screening”, no eixo x), houve uma redução na porcentagem de dias de consumo pesado (eixo y, “Heavy Drinking days, %”), efeito observado ao longo de 36 semanas (“weeks”, eixo x). Em azul, observa-se a redução de consumo no grupo que recebeu a psilocibina acompanhada de terapia, e em cinza a redução de consumo no grupo que recebeu placebo acompanhado de terapia. É importante destacar que mesmo o grupo placebo teve uma redução significativa nos dias de consumo pesado, efeito que pode ser atribuído, entre outras coisas, à psicoterapia.
Os autores concluem que a psilocibina associada à psicoterapia foi capaz de manter uma redução no percentual de dias em que os participantes faziam consumo pesado de álcool. Contudo, eles explicitam algumas limitações do estudo: em primeiro lugar, não foi possível seguir o padrão “duplo cego” (administradores não sabem se o paciente recebe o placebo ou a substância de interesse), dado que logo após a primeira sessão era possível discernir claramente quem recebeu a substância psicoativa. Várias outras limitações do estudo referem-se ao pequeno número de participantes (95 pessoas), tornando inviável a análise de diferenças em subgrupos, como mulheres, diferença entre raças e a presença de comorbidades psiquiátricas. Dessa forma, os autores ressaltam que, embora a psilocibina se mostre promissora para o tratamento da dependência de álcool, ainda há a necessidade de mais estudos para atestar sua efetividade.