Pesquisas têm mostrado que o uso de cigarro comum está diminuindo entre os jovens, enquanto os eletrônicos estão se tornando cada vez mais populares entre esse grupo nos últimos anos1.
Também conhecidos como vape, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar, tabaco aquecido, entre outros nomes, o cigarro eletrônico foi criado em 2003 e, desde então, passou por diversos formatos até se transformar no que é hoje. Inicialmente, eram produtos descartáveis, depois passaram a ser recarregáveis com refis líquidos que contêm ingredientes como propileno glicol, glicerina, nicotina e saborizantes, alguns podem conter ainda um refil para colocar tabaco e há também os sistemas pods, semelhantes a um pendrive, que contém sais de nicotina e outras substâncias que se diluem em líquidos2.
Apesar dos altos níveis de nicotina e outros aditivos, esses dispositivos ganharam enorme popularidade entre a população, especialmente entre os jovens adultos, com uma estimativa de 35 milhões de usuários em todo o mundo. O vape é considerado a mais recente tecnologia do mercado e seu uso se popularizou entre os estudantes universitários devido a fatores como novidade, variedade de sabores, possibilidade de fazer uso do aparelho em locais fechados ou ao fato de fazer com que o jovem esteja “na moda”.
Durante o ano de 2019, ocorreu um surto de lesão pulmonar em decorrência do uso do cigarro eletrônico, levando a um significativo número de mortes, o que gerou um alerta sobre os efeitos que esse dispositivo pode causar à saúde.
Impactos para a saúde
Atualmente, há poucos dados clínicos sobre as patologias decorrentes do uso do cigarro eletrônico. Sabe-se, entretanto, que doenças pulmonares, como pneumonias, bronquiolite, doenças pulmonares intersticiais, asma e hemorragias alveolares difusas estão entre as mais comuns.
Os impactos dos dispositivos vaping, no entanto, não estão relacionados apenas à saúde pulmonar. Por serem anunciados como menos nocivos, acabam sendo utilizados como alternativa ao tradicional.
Com isso, o vape ganhou popularidade entre os pacientes com câncer: de acordo com uma pesquisa norte-americana, a prevalência do uso aumentou de 8,5 % em 2014 para 10,7 % em 2017. A exposição a esse tipo de cigarro, com ou sem nicotina, mostrou evidências significativas de morte celular e necrose em comparação com pessoas que não utilizam o dispositivo. Além disso, foram encontrados potentes agentes cancerígenos nesses dispositivos. Também foi observado que o fornecimento de nicotina é substancialmente maior nos cigarros eletrônicos do que nos tradicionais, o que levou à conclusão de que os eletrônicos não são mais seguros.
A doença cardiovascular é uma das principais causas de mortes relacionadas ao fumo. De acordo com a American Heart Association, fumar causa mais de 20% das mortes devido a doenças cardíacas nos EUA. E quando se fala em cigarros eletrônicos, os efeitos são tão prejudicais quanto os do cigarro comum. O uso de cigarros eletrônicos pode ser um fator contribuinte também para o acidente vascular cerebral, além de aumentar sua lesão.
Usuários desses dispositivos ainda estão sujeitos a danos à cavidade bucal, causados pela inalação de muitos componentes tóxicos presentes nos vapes, como benzeno, chumbo, partículas ultrafinas, diacetil, nicotina, níquel e estanho.
Há ainda efeitos no sistema nervoso central, que incluem o desenvolvimento da dependência, convulsões, síncope ou tremores. Foram relatados também sintomas neurológicos, como dores de cabeça, mal-estar, náuseas, cansaço, tontura, fadiga, tontura, enxaqueca e acidente vascular cerebral.
Álcool e cigarro eletrônico
A relação entre o consumo de álcool e cigarros comuns já tem sido abordado na literatura médica. Estudos relatam que indivíduos que bebem álcool são mais propensos a fumar cigarros comuns comparados a indivíduos que não bebem, e os indivíduos que fumam são mais propensos a relatar o consumo de álcool comparados àqueles que não fumam. Além disso, bebedores pesados tendem a ser fumantes pesados e vice-versa, ou seja, os transtornos por uso de álcool apresentam comorbidade com a dependência do tabaco3.
Uma pesquisa realizada com 631 estudantes4 mostrou que os bebedores compulsivos (12,1%) fumam mais cigarro comum do que os moderados (5,1%). Além disso, quase um quarto da amostra relatou já ter experimentado cigarros eletrônicos (21,7%), sendo a maior parte (26,5%) de bebedores. No geral, 8,4% da amostra relatou uso atual de cigarros eletrônicos, sendo em sua maioria pessoas que fazem uso de bebidas alcoólicas (10,1%).
Entre as motivações para o uso dos vapes, a mais popular (29,5%) é a crença de que o vapor é menos prejudicial para os outros do que a fumaça do tabaco. Outras razões populares apontadas pelos estudantes são: economizar dinheiro (18,9%), os cigarros eletrônicos são melhores para a saúde (17,0%), capacidade de fumar em áreas para não fumantes (15,1%) e sabor melhor do que o tabaco/variedade de sabores (14,9%). Em comparação com pessoas que não bebem, as motivações são mais comumente endossadas por aqueles que consomem álcool, principalmente a possibilidade de utilizar o dispositivo em áreas para não fumantes.
Observou-se ainda uma relação entre a quantidade de álcool tipicamente consumida e já ter experimentado cigarros eletrônicos. Nesse sentido, beber menos por ocasião estaria associado a nunca ter experimentado cigarros eletrônicos; por outro lado, o maior consumo de bebidas por episódio estaria associado a um aumento das taxas de experimentação de cigarros eletrônicos.
O CISA alerta para os riscos do uso nocivo do álcool e, principalmente, de sua associação com o tabaco e o cigarro eletrônico. Além disso, reforçamos que a comercialização, importação e propaganda desses dispositivos para fumar são proibidas no Brasil por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa, com base no princípio da precaução, devido à limitada quantidade de dados e evidências científicas que comprovem que esse produto não é nocivo.