Existem diversos fatores do estilo de vida que estão diretamente ligados a maiores riscos de doença e mortalidade. Entre eles estão a dieta, uso de substâncias (como o álcool), exercícios físicos, socialização, manejo de estresse, sono e outros. Pesquisas alertaram que comportamentos de risco à saúde, como o sedentarismo, o consumo de álcool, de tabaco e de alimentos industrializados, tornaram-se mais frequentes durante a pandemia. Um estudo feito com pessoas do Brasil e da Espanha buscou analisar estes fatores de estilo de vida e sua associação com o consumo de álcool durante a pandemia de COVID-191. Mais especificamente, os autores buscaram avaliar se a adoção de estilos de vida não saudáveis estaria associada a maior chance de praticar consumo nocivo de álcool , chamado no estudo de “consumo de risco”, durante a pandemia.
O levantamento do estilo de vida e do consumo de álcool foi feito por meio de um questionário online, preenchido por 19.256 pessoas no Brasil e 3.529 pessoas na Espanha. Os dados revelaram que 43% das pessoas relataram consumo de risco de álcool, definido como tirar 3 ou mais no teste AUDIT-C, versão reduzida do Alcohol Use Disorders Identification Test, ou, em português, Teste para Identificação de Problemas Relacionados ao Uso de Álcool. Uma diferença notável entre os dois países foi observada neste quesito: 46% das pessoas do Brasil que responderam ao questionário relataram consumo de risco, ao passo que, para a Espanha, essa prevalência foi de 31%. Alguns fatores demográficos que indicavam maior risco de engajar neste tipo de consumo foram: morar no Brasil, ter entre 18 e 40 anos, estar empregado ou ter perdido o emprego durante a pandemia e, por fim, morar sozinho. Em termos de saúde mental, ter apresentado sintomas de ansiedade estava também associado a maior risco de consumo de álcool.
De maneira geral, os autores apontam que os fatores de estilo de vida eram piores entre as pessoas que apresentavam consumo de risco; em específico, as diferenças eram notórias quando considerados os fatores relacionados à dieta/nutrição, uso de substâncias, manejo de estresse e exposição ambiental (que avalia o tempo que a pessoa usa de redes sociais/TV/computador e afins). Além disso, os autores apontam que quanto piores eram as dimensões de estilo de vida, maior a chance de a pessoa engajar em consumo de risco; este é uma contribuição interessante da pesquisa, pois reforça a ideia de que o “estilo de vida” é um construto multidimensional. Por conta disso, os pesquisadores recomendam que, cada vez mais, os estudos passem a considerar mais fatores de estilo de vida, para poder abarcar todas as dimensões que o compõem.
Por fim, não se observou nenhuma associação significativa entre consumo de risco e exposição à COVID-19. Os autores do estudo discutem que isso pode ter sido em decorrência da coleta de dados ter sido feita no início da pandemia, e os efeitos do consumo de risco talvez demorem para se inserir no cotidiano e afetar a exposição à COVID-19.
Como discutido em um capítulo especial sobre “Álcool e COVID-19” no relatório recentemente publicado pelo CISA (intitulado “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2021”), a pandemia “trouxe o aumento de sentimentos negativos, como medo, ansiedade e tristeza, gerando impacto significativo na saúde mental”. Neste cenário, os efeitos de tal impacto provavelmente se perpetuarão por vários anos, salientando a necessidade de se avaliar o consumo de álcool da população, bem como promover estilos de vida saudáveis.
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