Diversos fatores podem contribuir para o surgimento de problemas no feto: padrão de consumo de álcool, metabolismo materno, suscetibilidade genética, período da gestação em que o álcool foi consumido e vulnerabilidade das diferentes regiões cerebrais da criança1. Atualmente sabe-se que os riscos para o feto aumentam com o nível de consumo e a frequência de uso1,2
A mais grave das consequências relacionadas ao consumo de álcool durante a gestação é a Síndrome Fetal Alcoólica (SFA) que foi descrita pela primeira vez por Jones e Smith em 19733,4. A criança com SFA apresenta algumas anormalidades faciais e exibe déficit intelectual, problemas cognitivos e problemas comportamentais4,5. Apesar de apresentar inúmeras limitações intelectuais, a criança com SFA apresenta boa performance nos testes de linguagem, mas ainda assim apresenta dificuldades nos testes de aritmética e em seu desenvolvimento sócio-emocional.
Para que o diagnóstico de síndrome fetal alcoólica seja feito é necessário que o paciente seja avaliado por um pediatra. Isto porque outras doenças que promovem atraso no desenvolvimento neuropsicomotor da criança podem estar presentes ou se confundir com a SFA. Não há uma abordagem terapêutica desenvolvida diretamente para SFA. Complicações clínicas, tais como convulsões ou cardiopatias, requerem tratamentos específicos. O mesmo se aplica à presença de transtornos psiquiátricos associados. Alguns fatores protetores contra complicações sociais e psicológicas já foram identificados como por exemplo:
- Relacionamentos familiares estáveis
- Diagnóstico da síndrome antes dos 6 anos de idade
- Ausência de violência física
- Rotina estável e imune a mudanças periódicas de residência ou cidade
- Ausência de privações sociais
- Presença de acompanhamento especializado
O retardo mental, uma vez estabelecida sua gravidade, deve receber a atenção necessária em serviços especializados. Problemas motores, tais como incoordenação e déficits parecem ter boa resposta a tratamentos fisioterápicos. Não se deve, no entanto, abordar o problema de modo restrito. Medicar um transtorno psiquiátrico, cuidar de alterações oftalmológicas, procurar uma escola especial ou proporcionar a criança atendimento psicológico ou fisioterápico são fundamentais, mas somente eficazes se associados e concomitantes. Deve haver um plano de tratamento e comunicação constante entre todos os profissionais e familiares envolvidos.
Outra grave consequência do uso de álcool durante a gravidez é o chamado Efeitos Relacionados ao Álcool (ERA)4,5. Crianças que apresentam ERA apresentam algumas das características dos pacientes com Síndrome Fetal Alcoólica, mas geralmente exibem melhor performance nos testes de inteligência. Existem três formas de ERA:
a. Parcial: crianças que apresentam algumas alterações faciais e comprometimentos neurológicos.
b. Malformações Congênitas: crianças que apresentam uma ou mais anormalidades congênitas, incluindo anormalidades cardíacas, auditivas, renais e esqueléticas.
c. Desordem Neuropsicomotoras: crianças que apresentam déficits em sua capacidade de aprendizado, especialmente em aritmética e em seu desenvolvimento sócio-emocional. Em comparação com a Síndrome do Alcoolismo Fetal, a Desordem Neuropsicomotora Relacionada ao Álcool atinge um número maior de crianças e seus sintomas (incluindo déficit cognitivo) são menos severos do que os sintomas apresentados por crianças com SFA.