O uso massivo dos smartphones criou um cenário propício para o desenvolvimento de ferramentas digitais inovadoras, incluindo para a prevenção do uso nocivo de álcool. Aplicativos para celulares, ou mHealth, emergiram como promissoras alternativas para o tratamento de transtornos relacionados ao álcool, oferecendo acesso facilitado, praticidade e anonimato. No Brasil, a cidade de São Paulo deu um importante passo nesse sentido com o lançamento do MODERA SP. Essa iniciativa, em parceria com o SUS, oferece um aplicativo que combina a triagem do consumo de álcool com uma intervenção breve, visando auxiliar os usuários a reduzir ou cessar o consumo nocivo. Porém, há evidências de que essas estratégias sejam, de fato, efetivas?
Um estudo de revisão de literatura feito por pesquisadores do Imperial College e de Cambridge, no Reino Unido, analisou o impacto de aplicativos de celulares na redução do uso nocivo de álcool. A motivação para este estudo deu-se no fato de que estratégias que utilizam aplicativos (chamadas de mHealth, ou mobile health) são acessíveis, de baixo custo e anônimas, possuindo, dadas estas características, um potencial de revolucionar o tratamento de transtornos por uso de álcool.
A revisão encontrou 23 estudos sobre o tema. Além disso, em uma análise mais direta do mercado, os pesquisadores analisaram 20 aplicativos voltados para o tratamento de transtornos associados ao uso de álcool. De maneira geral, os pesquisadores apontam que o engajamento com esses aplicativos é maior do que qualquer outra intervenção para a redução do uso de álcool. Estes resultados são esperados, dada a massiva presença de telefones celulares na população.
Um dos principais resultados encontrados aponta que a frequência de uso do aplicativo pode ser um fator preditor de recaída. Pouca frequência de uso estava associada a maiores taxas de recaída. Nesse sentido, os autores asseveram a necessidade de mais pesquisas e métodos que incentivem o engajamento da pessoa que busca parar de beber; de maneira similar, apontam os autores, a baixa interação com o aplicativo seria análoga a faltas em consultas com psiquiatras e psicólogos: um indicativo de que possivelmente as coisas não vão bem.
De modo geral, os autores exortam maiores esforços no rigor metodológico das pesquisas de avaliação de efetividade destes aplicativos.
MODERA SP
A prefeitura da cidade de São Paulo, em parceria com o SUS, lançou, em 2024, uma ferramenta digital chamada MODERA SP, que tem como um de seus componentes um aplicativo para a realização de triagem sobre padrões de consumo de álcool e o oferecimento de informações sobre os impactos negativos do consumo de álcool.
A triagem do nível de risco de consumo é feita através do teste AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test), referendado pela OMS. Somando-se à triagem, é oferecida também uma intervenção breve, com 6 objetivos: 1) apresentar os resultados da triagem, 2) identificar os riscos e consequências, 3) prover orientação em saúde, 4) motivar o comprometimento do paciente, 5) identificar os objetivos individuais para reduzir ou parar de beber, oferecer orientação e 6) encorajamento de forma simples e prática.
No quesito informativo, a aplicação fornece informações sobre consumo moderado, conforme apresentado na figura abaixo:
Se articulada às formas tradicionais de tratamento e cuidados de promoção de saúde, oferecidas pelo SUS, esta iniciativa pode ser pioneira na construção de estratégias de redução de consumo que sejam, tal como apontam os pesquisadores do estudo apresentado no início deste artigo, “acessíveis, de baixo custo e anônimas”, podendo influenciar considerável parte da população de São Paulo e região.
Para acessar o Modera SP, basta entrar no e-Saúde SP, o aplicativo da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo que reúne todo o histórico dos pacientes da rede SUS na capital, e clicar no botão Modera SP. Mais informações sobre o aplicativo MODERA SP, inclusive para baixá-lo, podem ser encontradas neste link.