Redução de fatores de risco, como fumar, beber e sobrepeso, diminuem a ocorrência de alguns tipos de câncer. Até o ano de 2025, estima-se que a carga de saúde atrelada ao câncer aumentará 50%, devido ao crescimento e envelhecimento populacional. Uma vez que fatores relacionados ao estilo de vida (consumo de tabaco, uso de álcool, sobrepeso e obesidade, dieta não saudável e falta de atividade física) estão associados ao aumento de risco de pelo menos 20 tipos de câncer, uma estratégia promissora seria focar nestes fatores de risco para reduzir e prevenir os casos de câncer e mortes relacionadas. Um grupo de pesquisadores levantou dados sobre quais tipos de câncer estão relacionados a cada um desses fatores de risco; para o uso de álcool, as fontes foram da International Agency for Research on Cancer - IARC e do World Cancer Research Fund -WCRF. Posteriormente, esses dados foram cruzados com informações de consumo de álcool da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013) para obter os fatores de risco para câncer relacionados ao álcool no Brasil. Foram analisados todos os tipos de câncer em que havia evidência científica de correlação com os fatores de risco relacionados ao estilo de vida. Para o caso de consumo de álcool, foram avaliados cânceres na cavidade oral/faringe, no esôfago, na laringe, no fígado, na bexiga, câncer colorretal, câncer de mama e no pâncreas. O risco de desenvolvê-los devido ao consumo de álcool foi classificado em quatro categorias (Tabela 1 do artigo), de acordo com a quantidade diária de álcool ingerida: Tipo de risco Gramas de álcool por dia Número aproximado de doses Nulo 0 g/dia 0 Baixo De 1 a 12,5 g/dia Menos de 1 dose Moderado De 12,6 a 49,9 g/dia 1 a 3,6 doses Alto Mais de 50 g/dia Acima de 3,6 doses Categorias de risco e a quantidade equivalente de consumo de álcool (em gramas e número aproximado de doses). Adaptado de Rezende et al. (2019). No Brasil, os autores encontraram que 3,8% dos casos de câncer (16.609 casos) e 4,5% das mortes por câncer em geral (8.547 mortes) foram atribuíveis ao consumo de álcool. Os números de mortes por câncer atribuíveis ao álcool (Tabela 3 do artigo), são apresentados a seguir: Tipo de câncer Número de mortes PAF (%) Mortes atribuíveis ao álcool Cavidade oral/faringe 7022 38,3 2690 Esôfago 7743 35,6 2753 Laringe 4332 22,5 974 Fígado 8747 8,1 712 Vesícula biliar 1017 7,6 77 Colorretal 17.645 4,7 826 Mama 13.587 2,8 377 Pâncreas 8215 1,7 139 Proporção e número de mortes por câncer atribuíveis ao álcool, em 2012. Adaptado de Rezende et al. (2019). O câncer da cavidade oral/faringe é o que mais apresentou mortes atribuíveis ao álcool (38,3% dos casos), seguido por câncer de esôfago (35,6%) e laringe (22,5%). Discussão Os autores discutem esses dados à luz das modificações em políticas públicas que podem ser implementadas. Uma delas refere-se à construção de espaços públicos que estimulem o exercício. Quanto à redução do consumo de álcool, os autores recomendam o aumento do preço das bebidas alcoólicas, pautando-se em uma metanálise de 2009, publicada na revista Addiction. Eles também apresentam uma tabela comparativa, com dados de outros países, mostrando que o que foi encontrado para o Brasil se assemelha ao resultado de estudos de outros países. Os fatores de riscos populacionais para câncer (em termos de prevalência populacional e de mortes) para o Brasil e os Estados Unidos são mostrados a seguir, e apresentam porcentagens semelhantes (Tabela 4 do artigo). Álcool aparece, em ambos os países, em terceiro lugar, atrás apenas do consumo de tabaco (smoking) e índice de massa corpórea (BMI: body-mass index). Brasil (Rezende et al. 2019) Estados Unidos PAF (% casos) PAF (% mortes) PAF (% casos) PAF (% mortes) Consumo de álcool 3,8 4,5 5,6 4 IMC alto 4,9 6,9 7,8 6,5 Falta de atividade física 2,5 1,7 2,9 2,2 Fumar passivo 0,1 0,2 0,4 0,7 Fumar 15,5 21,4 19 28,8 Consumo baixo de frutas e vegetais 2,6 3,4 1,9 2,7 Comparação de “fração populacional atribuível” para casos de câncer e mortes relacionadas a fatores de risco associados ao estilo de vida. Adaptado de Rezende et al. (2019). Em termos de limitações, os autores apontam que a interpretação dos dados apresentados deve sempre levar em conta que os riscos relativos foram extraídos de metanálises e coortes de outros países, ao redor do mundo. Nesse sentido, eles podem ser pouco representativos da população brasileira. Outro aspecto importante é que tais fatores de riscos não foram considerados em termos de interação e exposição na infância