Na busca pelo bem-estar e pela longevidade, manter o cérebro saudável, preservando sua integridade e as funções mental e cognitiva, é um dos objetivos de grande parte da população. Mas, ao longo da vida, três momentos específicos apresentam alterações cerebrais e podem ser afetados de maneira muito significativa pelo uso nocivo do álcool: período fetal, a adolescência e a terceira idade 1.
Álcool durante o período fetal
A ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez afeta o desenvolvimento do feto, e seus efeitos podem variar de acordo com o número de doses, frequência de consumo e momento da exposição ao álcool, provocando doenças como a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), Síndrome Alcoólica Fetal Parcial (SAFP) e distúrbios neurológicos relacionados ao álcool (DNRA).
Os problemas comportamentais e cognitivos causados por tal exposição podem surgir em qualquer momento na infância e durar a vida toda. Por exemplo, um estudo com crianças de 9 a 10 anos que haviam sido expostas ao álcool ainda na gestação apresentaram maior risco de problemas comportamentais e emocionais variados, déficit cognitivo, atrasos no desenvolvimento neurológico e transtornos mentais, como transtorno de ansiedade de separação, transtorno desafiador de oposição, fobias e hiperatividade.
No Brasil, estima-se que cerca de 1.500 a 1.600 crianças nascem com SAF por ano, um número expressivo que aponta a necessidade de programas de prevenção, além de inspirar cuidado e reflexão desde os primeiros sintomas de gravidez 2.
Consumo de bebida alcoólica na adolescência
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, no mundo, 26,5% dos jovens entre 15 e 19 anos consumiram álcool no último ano. No Brasil, o número é muito semelhante, sendo 26,8% para a mesma faixa etária3. Além disso, 13,6% das pessoas da mesma idade relataram Beber Pesado Episódico (BPE) no mundo, enquanto no Brasil esse número chega a 15%.
Jovens podem ter a trajetória de desenvolvimento cerebral afetada pelo consumo precoce do álcool, podendo sofrer as consequências do abuso dessa substância especialmente nos lobos frontal e temporal, que estão ligados ao controle cognitivo, ao aprendizado e à memória.
Assim, o consumo nocivo de bebidas alcoólicas por adolescentes pode provocar um déficit cognitivo geral, além de interferir na tomada de decisão, no controle de respostas impulsivas e, ainda, na atenção e no raciocínio.
Impactos do álcool no cérebro do idoso
Com o crescimento corrente da população idosa, a previsão é que, daqui a trinta anos, um quarto da população mundial terá mais de 65 anos. E o álcool pode trazer prejuízos significativos para esse grupo de pessoas.
Por serem semelhantes a doenças comuns da idade, os efeitos do uso nocivo do álcool pelos mais velhos costumam passar despercebidos. Mas a ingestão de bebidas alcoólicas é um dos principais fatores para o início precoce de todos os tipos de demência. Além disso, o consumo crônico dessa substância pode alterar circuitos neurais, como o de estresse e cognição, levando a alterações no planejamento motor, na coordenação motora, no equilíbrio, na fala, no comportamento e nas funções cognitivas.
Os efeitos do consumo nocivo do álcool na terceira idade incluem também comprometimentos emocionais, como depressão e ansiedade, relacionados principalmente a crises de identidade, queda na autoestima e autoaceitação. Tudo isso sem contar que as consequências podem ser agravadas pela interação entre medicamentos, utilizados com frequência nessa fase da vida, e bebidas alcoólicas.
Seja qual for a idade, o uso nocivo de álcool prejudica significativamente a saúde em vários aspectos, por isso intervir para a redução ou suspensão do consumo de bebidas alcoólicas pode ser fundamental para reduzir doenças, aumentar a longevidade e melhorar significativamente a qualidade de vida.