Um estudo recente, publicado no Journal of the American College of Cardiology1, avaliou se o consumo leve/moderado de álcool está associado ao menor risco de eventos cardiovasculares adversos relacionados com estresse.
Foram selecionados 53 mil participantes, onde 60% eram mulheres e com média de idade de 60 anos (IQR: 47-73 anos). Os indivíduos que não ingeriam álcool ou consumiam uma quantidade mínima de álcool eram (preferencialmente) do sexo feminino, hipertensos, diabéticos com histórico de ansiedade e depressão. Os bebedores leves/moderados eram do sexo masculino, fumantes e fisicamente ativos. O estudo não incluiu os bebedores abusivos.
Durante do acompanhamento médio de 3,4 anos, 1.914 participantes sofreram algum problema cardiovascular. Pela análise da amostra, observou-se que o consumo leve/moderado de álcool poderia estar associado ao menor risco de doenças cardíacas após o ajuste dos outros fatores de risco. Foram obtidos dados genéticos de 8.734 participantes e imagens cerebrais de 713, que mostraram diminuição da atividade neural relacionada ao estresse. Esta atividade mais baixa mediou parcialmente o “efeito benéfico” do consumo leve/moderado no evento cardiovascular.
O padrão de consumo leve/moderado estava associado a maior redução do risco de problemas cardíacos entre indivíduos com ansiedade. Porém, o consumo leve/moderado também estava associado a efeitos adversos não cardíacos, como o aumento do risco de câncer. Assim, os pesquisadores sugerem que o benefício do consumo leve/moderado de álcool (comparado a nenhum consumo ou a um consumo mínimo) sobre o risco de desenvolver doenças cardiovasculares decorre, em parte, de sua capacidade de atenuar a atividade da atividade cerebral relacionada ao estresse.
Embora estes achados possam trazer mais conhecimento com relação aos efeitos do consumo leve e moderado de bebidas alcoólicas, é importante ressaltar que mais uma vez se trata de um estudo observacional com limitações. Dentre essas, destacam-se a idade da amostra (alta incidência de comorbidades), o fato dos consumidores leves/moderados serem mais ativos fisicamente, o autorrelato do consumo de álcool dos participantes, um possível erro metodológico na identificação dos eventos cardiovasculares, não identificação dos ex-bebedores no grupo de não bebedores e exames de imagem feitos de vigilância oncológica, e não para o estudo em questão.
Estudo publicado pela revista JAMA Network Open (2022) mostra que o grupo de bebedores leves e moderados apresentou melhores indicadores de saúde cardiovascular do que o grupo de abstêmios. Esses indicadores incluíam menores índices de tabagismo, menor índice de massa corporal, maior índice de prática de exercícios físicos e alimentação mais saudável. Esses fatores em conjunto com o consumo leve/moderado de álcool, seriam os responsáveis por um menor risco de doenças cardiovasculares.
Porém, segundo a Federação Mundial do Coração, não há uma quantidade ideal de álcool boa para o coração. Há necessidade de mais estudos para maior clareza sobre os efeitos do consumo leve/moderado de álcool para a saúde cardíaca. As evidências mostram que a melhor forma de prevenir doenças cardiovasculares é ter uma alimentação saudável, evitar tabagismo, prática de exercícios físicos e evitar o uso nocivo de álcool, além de realizar um check-up anual.
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