Há evidências claras de que o consumo de álcool e tabaco no período pré-natal está associado à redução da cognição nos filhos entre outros problemas, o que determina sua restrição total durante a gestação. Porém, seus efeitos durante o período da amamentação ainda não foram extensivamente estudados, o que pode gerar falta de esclarecimento sobre o tema.
A Organização Mundial de Saúde recomenda evitar o uso de álcool e outras drogas durante a amamentação. Ainda assim, estima-se que entre 12% a 83% de mulheres que amamentam consomem álcool e 7% a 16% tabaco. Aponta-se também que a idade materna mais avançada, o aumento da escolaridade e o maior tempo de amamentação estão associados ao aumento do consumo de álcool entre as lactantes. Por outro lado, mães mais jovens, com menor escolaridade e baixa renda estão associadas ao aumento do consumo de tabaco.
Mulheres que amamentam relatam consumir álcool por não existirem evidências claras de prejuízos ao bebê e pela crença equivocada de que o álcool aumenta a produção de leite. As pesquisas científicas, contudo, mostram que o álcool passa rapidamente para o leite e atinge concentrações semelhantes às do sangue materno, além de reduzir a sua produção. Além disso, de acordo com um estudo recente conduzido na Austrália e publicado na revista Pediatrics, mulheres que bebem álcool durante a amamentação podem ter maior probabilidade de ter filhos com habilidades cognitivas reduzidas do que as mulheres que não bebem álcool nesse período. Pesquisas anteriores feitas com animais já tinham mostrado consequências negativas no desempenho cognitivo e na coordenação motora dos filhotes amamentados por mães expostas ao álcool. Esse estudo australiano, feito com humanos, foi pioneiro em observar um relacionamento pequeno, porém, clinicamente significativo entre o consumo de álcool na amamentação e a redução das habilidades cognitivas dos filhos. Essa redução foi observada dos 6 aos 7 anos, mas não permaneceu na idade de 10 a 11 anos. Embora o relacionamento seja pequeno, pode ser clinicamente significativo quando as mães consomem álcool regularmente ou bebem demais.
Outras pesquisas disponíveis mostraram a presença de sonolência, diaforese, sono profundo, fraqueza e ganho de peso anormal em lactentes amamentados por mães que ingeriram grande quantidade de bebida alcoólica. O consumo de álcool materno também foi associado à interrupção precoce da amamentação, à perturbação dos padrões de sono da criança e à redução da ejeção do leite.
A nicotina também passa rapidamente para o leite, e atinge concentrações que podem ser até mesmo mais altas do que as concentrações no sangue da mãe, e também está associada à redução na produção e às mudanças na composição e sabor do leite materno. Porém, em relação ao consumo de tabaco durante o aleitamento, a correlação com problemas cognitivos nos filhos não foi encontrada pelo estudo australiano.
Todas as evidências apresentadas sugerem que não consumir álcool é a opção mais segura para as mães que amamentam. Isso porque o álcool pode ser identificado no leite materno até cerca de 2 a 3 horas após o consumo de bebida alcoólica. Nos casos de consumo eventual de até uma dose de álcool, a recomendação do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, é que a mãe espere este período de 2 horas para amamentar. Entretanto, embora alguns médicos não condenem o consumo de pequenas quantidades de álcool, o Ministério da Saúde defende que não há uma quantidade segura durante o período de amamentação, sobretudo nos estágios iniciais do aleitamento. Por isso, é importante reforçar que a exposição do bebê ao álcool durante a amamentação pode ser prejudicial ao seu crescimento e padrões de sono, bem como trazer problemas ao seu desenvolvimento cognitivo durante a infância.