Um grupo de especialistas internacionais independentes, reunidos pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), analisou a literatura existente para avaliar a eficácia da redução ou interrupção do consumo de bebidas alcoólicas na diminuição do risco de cânceres relacionados ao álcool, como os cânceres na cavidade oral, faringe, laringe, esôfago, colorretal, fígado e mama feminina. Além disso, o grupo identificou e avaliou os mecanismos da carcinogênese induzida pelo álcool que podem ser revertidos com a interrupção do consumo.2
A IARC classifica tanto as bebidas alcoólicas, quanto o etanol presente nestas bebidas e o acetaldeído associado ao consumo de álcool como cancerígenos para humanos. Além do etanol e do acetaldeído, as bebidas alcoólicas podem conter várias toxinas que são derivadas das matérias-primas utilizadas ou que podem surgir durante o processo de produção.
São vários os mecanismos que ligam o álcool ao câncer, um dos mais bem entendidos cientificamente é a genotoxicidade, em que o acetaldeído causa danos ao nosso DNA, como quebras e alterações na estrutura. Essas mudanças podem levar a erros na replicação do DNA, resultando em mutações. Com o tempo, essas mutações podem acumular e levar ao desenvolvimento de câncer, especialmente em partes do corpo que entram em contato direto com o álcool, como a boca, garganta e esôfago.2
Uma medida importante utilizada é a Fração Atribuível à População (FAP), que ajuda a entender quantos casos de câncer podem ser atribuídos ao consumo de álcool em uma população. Para calcular a FAP, os pesquisadores usam dados sobre: quanto as pessoas bebem; o risco de câncer associado ao álcool; quantos casos de câncer existem. Porém existem limitações, como uma incompletude nos dados, a subnotificação do consumo de álcool, outros fatores interferindo nos dados (como fumar) e as diferenças nas populações. Apesar das limitações, a PAF é útil para entender e prevenir cânceres relacionados ao álcool.
O CISA, em seu relatório anual “Álcool e a Saúde dos Brasileiros”, utiliza estas frações para calcular o fardo das bebidas alcoólicas na população brasileira. Para saber mais sobre, baixe o relatório gratuitamente aqui.
Segundo o estudo realizado pela IARC, reduzir ou cessar o consumo de bebidas alcoólicas está associado a um risco menor de câncer oral e de esôfago, com evidências suficientes para apoiar essa conclusão. Há evidências limitadas que sugerem uma redução no risco de câncer de laringe, colorretal e de mama com a cessação do consumo de álcool. No entanto, não há evidências adequadas para indicar que a redução ou cessação do consumo de álcool diminui o risco de câncer de faringe e de fígado. Em geral, os pesquisadores concluem que a cessação do consumo de álcool pode ser benéfica para reduzir os riscos de certos tipos de câncer, mas a força da evidência varia entre os diferentes tipos de câncer.