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Qual o impacto de reduzir ou cessar o consumo de álcool no risco de câncer?

02 Agosto 2024

 Em 2020, foi estimado que 741.300 novos casos de câncer no mundo foram causados pelo consumo de álcool. Isso equivale a 4,1% do total de novos casos de câncer, sendo 6,1% entre homens e 2,0 entre mulheres.1

 

Um grupo de especialistas internacionais independentes, reunidos pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), analisou a literatura existente para avaliar a eficácia da redução ou interrupção do consumo de bebidas alcoólicas na diminuição do risco de cânceres relacionados ao álcool, como os cânceres na cavidade oral, faringe, laringe, esôfago, colorretal, fígado e mama feminina. Além disso, o grupo identificou e avaliou os mecanismos da carcinogênese induzida pelo álcool que podem ser revertidos com a interrupção do consumo.2

A IARC classifica tanto as bebidas alcoólicas, quanto o etanol presente nestas bebidas e o acetaldeído associado ao consumo de álcool como cancerígenos para humanos. Além do etanol e do acetaldeído, as bebidas alcoólicas podem conter várias toxinas que são derivadas das matérias-primas utilizadas ou que podem surgir durante o processo de produção.

São vários os mecanismos que ligam o álcool ao câncer, um dos mais bem entendidos cientificamente é a genotoxicidade, em que  o acetaldeído causa danos ao nosso DNA,  como quebras e alterações na estrutura. Essas mudanças podem levar a erros na replicação do DNA, resultando em mutações. Com o tempo, essas mutações podem acumular e levar ao desenvolvimento de câncer, especialmente em partes do corpo que entram em contato direto com o álcool, como a boca, garganta e esôfago.2

Uma medida importante utilizada é a Fração Atribuível à População (FAP), que ajuda a entender quantos casos de câncer podem ser atribuídos ao consumo de álcool em uma população. Para calcular a FAP, os pesquisadores usam dados sobre: quanto as pessoas bebem; o risco de câncer associado ao álcool; quantos casos de câncer existem. Porém existem limitações, como uma incompletude nos dados, a subnotificação do consumo de álcool, outros fatores interferindo nos dados (como fumar) e as diferenças nas populações. Apesar das limitações, a PAF é útil para entender e prevenir cânceres relacionados ao álcool.

O CISA, em seu relatório anual “Álcool e a Saúde dos Brasileiros”, utiliza estas frações para calcular o fardo das bebidas alcoólicas na população brasileira. Para saber mais sobre, baixe o relatório gratuitamente aqui

Segundo o estudo  realizado pela IARC, reduzir ou cessar o consumo de bebidas alcoólicas está associado a um risco menor de câncer oral e de esôfago, com evidências suficientes para apoiar essa conclusão. Há evidências limitadas que sugerem uma redução no risco de câncer de laringe, colorretal e de mama com a cessação do consumo de álcool. No entanto, não há evidências adequadas para indicar que a redução ou cessação do consumo de álcool diminui o risco de câncer de faringe e de fígado. Em geral, os pesquisadores concluem que a cessação do consumo de álcool pode ser benéfica para reduzir os riscos de certos tipos de câncer, mas a força da evidência varia entre os diferentes tipos de câncer.

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Rumgay, H., Shield, K., Charvat, H., Ferrari, P., Sornpaisarn, B., Obot, I., Islami, F., Lemmens, V. E. P. P., Rehm, J., & Soerjomataram, I. (2021). Global burden of cancer in 2020 attributable to alcohol consumption: a population-based study. The Lancet. Oncology, 22(8), 1071–1080. https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00279-5

    2. International Agency For Research On Cancer. IARC Handbooks of Cancer Prevention: volume 20A - Reduction or cessation of alcoholic beverage consumption. Lyon: IARC, 2024

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