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Do abuso à dependência

28 Janeiro 2023

 

Saiba como o consumo abusivo de álcool e outros fatores de risco podem predispor ao alcoolismo

 

O transtorno por uso de álcool (alcoolismo) está entre os transtornos mentais mais prevalentes em todo o mundo. Os indivíduos acometidos por esta doença não conseguem controlar seu impulso e exibem cronicamente um padrão intenso e muitas vezes crescente de consumo de álcool, apesar dos sérios custos à sua saúde, à vida de seus familiares e amigos e à sociedade. E, apesar de suas importantes consequências para a saúde pública e individual, a dependência de álcool possui uma baixa procura para tratamento.1

O alcoolismo não apenas predispõe os indivíduos a desenvolver várias complicações, como doenças do fígado, pâncreas, problemas cardiovasculares, outros problemas psiquiátricos e diversas outras questões de saúde, como também deixa esses pacientes mais vulneráveis à hospitalização e a outras complicações de saúde, podendo chegar, infelizmente, a óbito. Com isso, uma das alternativas para redução de danos causados pelo uso prejudicial de álcool é tentar identificar os indivíduos em risco, para que políticas públicas possam ser direcionadas a esse público, visando prevenção e tratamento de casos mais graves e redução de consumo.

Sabe-se que a idade de início do consumo de álcool é preocupante em diversos aspectos pois, quanto mais cedo ocorre o uso de álcool, maior o risco associado de desenvolver dependência na vida adulta. O beber pesado episódico (BPE), também conhecido como consumo abusivo ou binge drinking (em inglês), é um padrão de consumo que costuma ser muito comum entre os jovens universitários, pois tem como objetivo principal embriagar-se rapidamente, uma vez que é caracterizado pela ingestão de uma grande quantidade de álcool em um curto período de tempo. Esse padrão de consumo, definido pela ingestão de cinco ou mais doses para homens e quatro ou mais doses para mulheres em uma única ocasião, é bastante prevalente no início da vida adulta, coincidindo com a vida universitária. No entanto, alguns indivíduos podem manter esse padrão de consumo na vida adulta.

Diante destas preocupações, um estudo francês2 avaliou se o consumo frequente de bebidas alcoólicas na faixa etária entre 18 e 25 anos poderia ser um fator de risco para dependência de álcool na vida adulta. O estudo coletou dados sócio demográficos, comportamentais e de consumo de álcool retrospectivamente em três períodos da vida: antes dos 18 anos, entre 18 e 25 anos e entre 25 e 45 anos. Os resultados mostraram que 90% dos homens e 70% das mulheres que praticaram BPE na adolescência continuaram a beber dessa forma na idade adulta jovem, concluindo que este padrão de consumo em idade precoce pode ser um fator de risco para alcoolismo na vida adulta e que esforços para prevenir o início do consumo excessivo de álcool durante a adolescência podem reduzir substancialmente os padrões nocivos de uso de álcool na idade adulta jovem.

Outro estudo, desta vez com americanos3, com idade entre 21 e 45 anos, testou a hipótese de que fatores de risco (como histórico familiar de alcoolismo, sexo, impulsividade e baixo nível de resposta ao álcool) poderiam prever a intensidade da compulsão durante uma sessão individual de consumo de álcool. Segundo os autores, ter parentes com histórico de alcoolismo, ser do sexo masculino e apresentar maior impulsividade (desejo de realizar certas ações sem pensar nas consequências deste feito) está associado a uma taxa mais alta de compulsão (realização das ações repetidas vezes). Ademais, os participantes que apresentaram todos os três fatores de risco tiveram uma maior impulsividade durante o teste em comparação ao grupo de menor risco. Com isso, o estudo concluiu que o consumo abusivo de álcool pode ser um indicador precoce de vulnerabilidade para o alcoolismo que deve também ser considerado na avaliação clínica.

Medidas de prevenção para o consumo excessivo de álcool durante a juventude são fundamentais para evitar desfechos negativos, tanto a curto prazo, como o envolvimento em brigas, acidentes de trânsito e prática de sexo desprotegido, como também o desenvolvimento da dependência de álcool.

 

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Additional Info

  • Referências:

    1- Carvalho, Andre F., et al. "Alcohol use disorders." The Lancet 394.10200 (2019): 781-792

    2- Tavolacci, Marie-Pierre, et al. "Does binge drinking between the age of 18 and 25 years predict alcohol dependence in adulthood? A retrospective case–control study in France." BMJ open 9.5 (2019): e026375.

    3- Gowin, Joshua L., et al. "Vulnerability for alcohol use disorder and rate of alcohol consumption." American Journal of Psychiatry 174.11 (2017): 1094-1101.

     

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