O consumo de álcool tem uma boa aceitação social, o que por vezes dificulta o reconhecimento de certos padrões de uso que podem gerar prejuízos em diferentes níveis. No Brasil, estima-se que 4,2% dos brasileiros (mulheres: 1,6%; homens: 6,9%) preenchem critérios para algum transtorno relacionado ao uso do álcool (abuso ou dependência). Em outras palavras, cerca de 4% dos adultos brasileiros apresentam no mínimo um problema social ou de saúde, para si ou para terceiros, associado ao consumo nocivo de bebidas alcoólicas. Quando os problemas são mais numerosos e impactantes, o transtorno caminha para o diagnóstico de dependência, ou alcoolismo.
A dependência do álcool é uma doença complexa caracterizada por uma série de sintomas, com destaque para a perda do controle do paciente perante o uso dessa substância. Desta maneira, ao mesmo tempo em que ele enxerga os problemas decorrentes do uso e vê a necessidade de parar de beber, também apresenta motivações para continuar bebendo. Ainda, mesmo tendo diversos prejuízos decorrentes do consumo, muitos não veem o uso como um problema - este quadro é conhecido como “negação”, que por si só não é um critério diagnóstico para dependência, porém é muito frequente. Sendo assim, a possibilidade de ajudar dependerá do grau de dependência, da consciência dos problemas que seu hábito está causando e da relação de confiança estabelecida com a pessoa que oferece ajuda.
A boa notícia é que não importa quão grave o problema possa parecer, a maioria das pessoas com transtorno por uso de álcool pode se beneficiar de alguma forma de tratamento. Pesquisas mostram que cerca de um terço das pessoas tratadas não apresentam os sintomas após um ano e muitos outros reduzem significativamente o consumo da substância, relatando menos problemas relacionados ao álcool e melhora consistente na qualidade de vida.
Família e amigos desempenham papel muito importante na identificação dos problemas do uso de bebidas alcoólicas do indivíduo e, em especial, podem motivá-lo a iniciar e permanecer em tratamento. Pode não ser uma tarefa fácil, então selecionamos algumas dicas para lidar com essa situação - mas lembre-se: enquanto algumas pessoas poderão beneficiar-se delas, para outras pode não surtir nenhum efeito. Por isso, o ideal é que busque ajuda com um profissional da saúde especializado para obter orientações mais adequadas ao seu caso. O fundamental é fazer uma aproximação afetuosa e amiga, com respeito pela pessoa, sem acusá-la ou culpá-la por seu comportamento relacionado ao uso do álcool. Uma abordagem acusatória leva a pessoa a reforçar suas defesas e negar que esteja enfrentando problemas.
- Escolha o momento adequado para conversar, em que a pessoa esteja sóbria, ambos estejam calmos e em local que haja privacidade;
- Seja objetivo ao dizer que está preocupado com seu consumo e que gostaria de auxiliá-lo a procurar ajuda, fundamentando com exemplos de situações negativas que ocorreram com ele em função do uso do álcool. Note que o simples fato de dizer que está preocupado e assegurar que pode contar com você no processo de busca por tratamento já é muito valioso;
- Trabalhe com a motivação para a mudança por meio de uma relação amiga, mas também firme, procurando ajudá-lo a reconhecer que pode ter desenvolvido uma doença e que as pessoas não esperam que ele vá conseguir parar de beber sozinho, incentivando a busca por tratamento;
- Procure demonstrar que, além do lado prazeroso, há o lado prejudicial desse comportamento, fazendo-o pesar os motivos que teria para continuar e os motivos para interromper o uso, com o objetivo de reforçar o desejo de mudar que o dependente em geral tem, mesmo que de forma inconsciente;
- Uma vez que a motivação para mudança pode oscilar constantemente, a ajuda precisa estar sempre disponível. Mantenha uma relação de troca, dê suporte e se informe sobre as opções de tratamento.
Ajudar um dependente de álcool a mudar seu comportamento não é simples, mas o primeiro passo pode ser dado com a compreensão, o apoio e a disposição de fazê-lo refletir e, junto com ele, encontrar um caminho. Tenha a consciência de que mesmo com muito esforço e dedicação, a mudança será um processo difícil, demorado e permeado de dúvidas e recaídas. Por isso, além de auxiliar o indivíduo, é importante que haja um acompanhamento específico e dirigido para os amigos e familiares, para que possam compreender a doença e seus desdobramentos e, posteriormente, receber orientação adequada sobre a melhor forma de ajudar o outro e a si mesmo.
Sugestão de leitura: "A importância da família no tratamento do alcoolismo".
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