O consumo de álcool é um hábito milenar e cultural entre diversos povos. Uma pequena parcela dos consumidores pode desenvolver transtornos por uso de álcool, inclusive com síndrome de dependência ou alcoolismo e consequentes danos sociais e à saúde. Para esses indivíduos, é importante aderir a uma longa jornada de tratamento, com muita determinação, ajuda profissional e apoio de familiares e amigos.
O tratamento para pessoas com transtornos por uso de álcool é um processo delicado e contínuo e, muitas vezes acontecem recaídas, especialmente no primeiro ano de tratamento. Para garantir melhores resultados, é necessário trabalhar para que o paciente se mantenha motivado, com persistência, determinação, que tenha incentivo e apoio por parte da família e de amigos para então enfrentar o momento de recaída e se reestabelecer no tratamento o mais rápido possível.
Quando a recaída acontece, o paciente não deve se sentir envergonhado ou fracassado; é preciso compreender que ela será contemplada pelo tratamento, e que quanto mais curta e menos intensa ela for, menores os danos.
Nesse sentido, é importante compreender a dependência do álcool como doença crônica, assim como diabetes, hipertensão ou asma, doenças que acompanham o indivíduo durante muitos anos, com momentos de melhora e piora dos sintomas, para as quais existem tratamentos efetivos quando feitos de forma continuada. Assim, é essencial perceber as recaídas como parte do curso natural do transtorno por uso de álcool, para que sejam vistas como momentos de aprender sobre as dificuldades do indivíduo, avaliar a presença de fatores estressores e reavaliar as estratégias terapêuticas.
Para transtornos por uso de álcool, indica-se acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e muitas vezes o uso de medicamentos poderá colaborar na prevenção de recaídas. Terapias comportamentais, como a técnica de Mindfulness, podem ser ferramentas úteis especialmente no monitoramento e enfrentamento do desconforto associado à fissura e a sensações subjetivas desagradáveis, como estresse, angústia ou ansiedade.
Outro ponto importante na prevenção é auxiliar na recuperação de forma integrada, buscando uma vida equilibrada, com a criação de hábitos saudáveis, estruturação familiar, psicológica, boas condições de moradia e emprego, construção de sólido círculo social para apoio, estabelecimento de metas alcançáveis e aprendizado para evitar situações que sejam motivos para recaídas em cada caso particular. Datas festivas, como Carnaval, Natal e Ano Novo, também merecem avaliação cuidadosa para instrumentalizar o indivíduo para lidar com as pressões sociais ao consumo de álcool, além de serem datas potencialmente difíceis para quem tem situações de conflito familiar. As chances de recaídas são maiores nestes períodos, quando o uso do álcool é cultural e socialmente mais aceito e há maior oferta de bebidas. Portanto, quem sofre de dependência alcoólica, ou está sob tratamento para esse transtorno, deve ter cuidado redobrado e não sentir vergonha em recusar quando alguém oferecer alguma bebida alcoólica, nem que seja somente para brindar.
Sabemos que o paciente é, em última instância, o responsável pelo seu tratamento. Entretanto, é necessário reconhecer a relevância que o apoio de amigos e familiares pode exercer na motivação do indivíduo para superar seus anseios e conseguir aderir a um tratamento a longo prazo. Pode ser útil para os envolvidos com o indivíduo, buscar ajuda profissional, considerando as dificuldades que comumente acontecem para lidar com a doença crônica chamada alcoolismo.