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O papel da cerveja sem álcool no metabolismo e na saúde humana

25 Junho 2025

Você já se perguntou se aquela cerveja sem álcool no supermercado realmente faz bem? Enquanto um estudo alemão recente levantou algumas preocupações sobre cervejas sem álcool mais doces, a grande maioria das pesquisas científicas mundiais mostra benefícios dessas bebidas, quando consumidas em conjunto com hábitos saudáveis, para nossa saúde intestinal, controle do açúcar no sangue e até mesmo para o coração.

 

Nos últimos anos, pesquisadores de diferentes países têm estudado os efeitos das cervejas sem álcool na saúde humana. Os resultados ainda são divergentes, revelando a necessidade de mais estudos para se compreender tais impactos.

Pesquisas com resultados positivos:

  • México (2020): Melhora no controle do açúcar no sangue
  • Portugal (2022): Intestino mais saudável e diverso
  • Espanha e EUA: Benefícios para o coração
  • Múltiplas revisões científicas: Efeitos protetivos quando consumo é moderado

 

Estudo com resultados negativos:

  • Alemanha (2025): Verificou piora em parâmetros associados a glicose, fígado e metabolismo de gordura em consumidores de cerveja sem álcool em comparação com água. Alerta principalmente para cervejas doces misturadas com refrigerante

 

Por que a diferença de resultados?

O estudo alemão que gerou polêmica

O estudo alemão testou 48 homens jovens bebendo 660ml por dia (equivalente a quase 3 latinhas) de diferentes tipos de cerveja sem álcool durante quatro semanas. Os pesquisadores descobriram que nem toda cerveja sem álcool é igual (1):

 

  • Cervejas mistas (com refrigerante de limão): Aumentaram açúcar no sangue
  • Cervejas de trigo doces: Aumentaram insulina e gordura no sangue
  • Cervejas pilsner tradicionais: Tiveram efeitos mais neutros

 

O problema principal: Essas cervejas tinham muitas calorias e açúcar:

  • Cerveja mista: 752 calorias em 660ml (mais que 2 hambúrgueres)
  • Cerveja de trigo: 706 calorias + 24g de açúcar
  • Pilsner: 733 calorias + 18g de açúcar

 

Estudos com resultados divergentes

Pesquisa no México

Um estudo com 35 pessoas mostrou que beber uma latinha (355ml) de cerveja sem álcool por dia durante 30 dias trouxe alguns impactos positivos para a saúde (2):

  • Diminuiu o açúcar no sangue em jejum
  • Melhorou o funcionamento do pâncreas (órgão que produz insulina)
  • Aumentou as bactérias boas do intestino

 

Estudo português

Pesquisadores portugueses fizeram um estudo "duplo-cego" (nem participantes nem pesquisadores sabiam quem estava bebendo o quê) com 19 homens. Resultado: tanto cerveja com álcool quanto sem álcool melhoraram a diversidade das bactérias intestinais, sem causar ganho de peso ou problemas no fígado (3).

 

O que torna a cerveja sem álcool uma alternativa viável à cerveja comum?

As cervejas sem álcool contêm substâncias naturais que podem ser benéficas:

Polifenóis: Antioxidantes naturais do malte e lúpulo que combatem inflamações

Vitaminas do complexo B: Importantes para energia e funcionamento do cérebro

Minerais: Como potássio, magnésio e fósforo

Aminoácidos: Blocos de construção das proteínas

 

Alguns benefícios observados pelos estudos

Para o coração e circulação

Estudos mostram que cervejas sem álcool podem ajudar o sistema cardiovascular de várias formas:

  • Reduzem processos inflamatórios no corpo
  • Podem melhorar o colesterol em algumas pessoas
  • Fornecem antioxidantes que protegem os vasos sanguíneos (4,5)

 

Para atletas e pessoas ativas

Pesquisas revelam que cervejas sem álcool podem ser úteis após exercícios:

  • Reidratam melhor que cervejas com álcool
  • Fornecem carboidratos para repor energia
  • Contêm eletrólitos perdidos no suor
  • Ajudam na recuperação muscular devido aos antioxidantes

 

Outros benefícios interessantes

  • Melhora do sono: Compostos do lúpulo podem ter efeito calmante (7)
  • Saúde óssea: Especialmente benéfico para mulheres após a menopausa (5)
  • Lactação: Pode estimular a produção de leite materno (5,6)

 

Além das cervejas sem álcool, o mercado brasileiro também oferece vinhos e destilados com teor reduzido ou zero álcool, produzidos através de diferentes técnicas de desalcoolização como osmose reversa, destilação osmótica, nanofiltração e processos de extração. Os vinhos sem álcool conseguem manter características sensoriais próximas ao vinho tradicional e preservar alguns compostos benéficos como antioxidantes, enquanto os destilados zero álcool (versões de gin, whisky, vodka e rum) passam por processos mais complexos devido ao maior teor alcoólico original, com foco na preservação dos sabores e aromas característicos.

Segundo a regulamentação brasileira, bebidas com até 0,5% de álcool são consideradas "sem álcool", porém não são indicadas para gestantes, menores de idade, pessoas em recuperação do alcoolismo ou abstinentes. Embora representem alternativas interessantes para quem busca reduzir o consumo de álcool mantendo a experiência social, ainda são produtos menos acessíveis devido aos custos dos processos tecnológicos envolvidos, devendo sempre ser consumidas dentro de um estilo de vida equilibrado.

 

Por que as pesquisas chegam a conclusões diferentes?

Fatores que influenciam os resultados

  1. Quantidade consumida
  • Estudos positivos: 330-355ml/dia (1 latinha)
  • Estudo alemão: 660ml/dia (quase 2 latinhas)
  1. Tipo de cerveja testada
  • Estudos internacionais: Cervejas tradicionais sem álcool
  • Estudo alemão: Incluiu cervejas mistas muito doces
  1. Duração do estudo
  • Maioria: 30 dias ou mais
  • Alguns: Apenas 4 semanas (muito pouco tempo)
  1. Perfil dos participantes
  • Estudos diversos: Homens e mulheres de várias idades
  • Estudo alemão: Apenas homens jovens e saudáveis

 

Quando a cerveja sem álcool NÃO é uma boa escolha

  • Grávidas e lactantes
  • Pessoas em recuperação do alcoolismo
  • Quem toma medicamentos incompatíveis com álcool
  • Pessoas com problemas de fígado

 

Para quem pode ser uma boa alternativa:

  • Quem aprecia cerveja, mas não quer se expor aos riscos do álcool
  • Atletas buscando recuperação pós-treino
  • Pessoas saudáveis, que não apresentem nenhuma contraindicação para o consumo
  • Quem quer reduzir o consumo de álcool gradualmente

 

Como escolher a melhor opção

Leia o rótulo e procure:

  • Menor quantidade de açúcar (menos de 5g por 100ml)
  • Menos calorias (máximo 150 por lata)
  • Mais ingredientes naturais (malte, lúpulo, água, levedura)
  • Menos aditivos artificiais

 

Evite:

  • Cervejas "mistas" com refrigerantes
  • Versões muito doces
  • Produtos com muitos conservantes

 

Limitações dos estudos atuais

Os resultados divergentes observados nos estudos apresentados reforçam a necessidade de mais pesquisas para se compreender todos os efeitos das cervejas sem álcool no organismo humano. Isto se deve, sobretudo, às limitações ainda existentes nos estudos feitos até o momento:

  • Poucos estudos em mulheres (a maioria foca em homens)
  • Efeitos de longo prazo ainda não são bem conhecidos
  • Estudos pequenos (geralmente menos de 50 pessoas)
  • Diferentes metodologias dificultam comparações

 

A importância do contexto

Os benefícios das cervejas sem álcool devem ser vistos dentro de um estilo de vida saudável geral:

  • Dieta equilibrada
  • Exercícios regulares
  • Não fumar
  • Consumo moderado de qualquer bebida

 

Recomendações práticas baseadas nas evidências atuais

Para o dia a dia

Consumo moderado é fundamental:

  • 1 lata por dia (330ml) parece ser o mais seguro e potencialmente benéfico
  • Água sempre é a melhor escolha para se hidratar: a cerveja sem álcool não deve substituir a água.
  • Considere as calorias na sua dieta total

 

Integre com inteligência:

  • Após exercícios como alternativa a isotônicos
  • Em situações sociais onde normalmente beberia álcool
  • Como parte de uma estratégia para reduzir consumo de álcool

 

Conclusão

Em suma, cervejas sem álcool podem ser uma alternativa viável, especialmente se você quer os potenciais benefícios da cerveja sem os riscos do álcool. Apenas lembre-se de escolher versões com menos açúcar e consumi-las com moderação, como parte de um estilo de vida equilibrado.

Additional Info

  • Referências:

    1. Kreimeyer, H.; Sydor, S.; Buchholz, L.; et al. Non-Alcoholic Beer Influences Glucose and Lipid Metabolism and Changes Body Composition in Healthy, Young, Male Adults. Nutrients 2025, 17, 1625.
    2. Hernández-Quiroz, F.; Nirmalkar, K.; Villalobos-Flores, L.E.; et al. Influence of moderate beer consumption on human gut microbiota and its impact on fasting glucose and β-cell function. Alcohol 2020, 85, 77-94
    3. Marques, C.; Dinis, L.; Barreiros Mota, I.; et al. Impact of Beer and Nonalcoholic Beer Consumption on the Gut Microbiota: A Randomized, Double-Blind, Controlled Trial. J Agric Food Chem. 2022, 70(41), 13062-13070.
    4. Sancén, M.; Léniz, A.; Macarulla, M.T.; et al. Features of Non-Alcoholic Beer on Cardiovascular Biomarkers. Can It Be a Substitute for Conventional Beer? Nutrients. 2023, 15(1), 173.
    5. Trius-Soler, M.; Marhuenda-Muñoz, M.; Laveriano-Santos, E.P.; et al. Effects of the Non-Alcoholic Fraction of Beer on Abdominal Fat, Osteoporosis, and Body Hydration in Women. Nutrients. 2020, 12(9), 2684.
    6. Zhang, S.; Jin, S.; Zhang, C.; et al. Beer-gut microbiome alliance: a discussion of beer-mediated immunomodulation via the gut microbiome. Front Nutr. 2023, 10, 1186927.
    7. Franco, L., Sánchez, C., Bravo, R., Rodríguez, A. B., Barriga, C., Romero, E., & Cubero, J. (2012). The sedative effect of non-alcoholic beer in healthy female nurses. PloS one, 7(7), e37290. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0037290

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