Você já se perguntou se aquela cerveja sem álcool no supermercado realmente faz bem? Enquanto um estudo alemão recente levantou algumas preocupações sobre cervejas sem álcool mais doces, a grande maioria das pesquisas científicas mundiais mostra benefícios dessas bebidas, quando consumidas em conjunto com hábitos saudáveis, para nossa saúde intestinal, controle do açúcar no sangue e até mesmo para o coração.
Nos últimos anos, pesquisadores de diferentes países têm estudado os efeitos das cervejas sem álcool na saúde humana. Os resultados ainda são divergentes, revelando a necessidade de mais estudos para se compreender tais impactos.
Pesquisas com resultados positivos:
Estudo com resultados negativos:
Por que a diferença de resultados?
O estudo alemão que gerou polêmica
O estudo alemão testou 48 homens jovens bebendo 660ml por dia (equivalente a quase 3 latinhas) de diferentes tipos de cerveja sem álcool durante quatro semanas. Os pesquisadores descobriram que nem toda cerveja sem álcool é igual (1):
O problema principal: Essas cervejas tinham muitas calorias e açúcar:
Estudos com resultados divergentes
Pesquisa no México
Um estudo com 35 pessoas mostrou que beber uma latinha (355ml) de cerveja sem álcool por dia durante 30 dias trouxe alguns impactos positivos para a saúde (2):
Estudo português
Pesquisadores portugueses fizeram um estudo "duplo-cego" (nem participantes nem pesquisadores sabiam quem estava bebendo o quê) com 19 homens. Resultado: tanto cerveja com álcool quanto sem álcool melhoraram a diversidade das bactérias intestinais, sem causar ganho de peso ou problemas no fígado (3).
O que torna a cerveja sem álcool uma alternativa viável à cerveja comum?
As cervejas sem álcool contêm substâncias naturais que podem ser benéficas:
Polifenóis: Antioxidantes naturais do malte e lúpulo que combatem inflamações
Vitaminas do complexo B: Importantes para energia e funcionamento do cérebro
Minerais: Como potássio, magnésio e fósforo
Aminoácidos: Blocos de construção das proteínas
Alguns benefícios observados pelos estudos
Para o coração e circulação
Estudos mostram que cervejas sem álcool podem ajudar o sistema cardiovascular de várias formas:
Para atletas e pessoas ativas
Pesquisas revelam que cervejas sem álcool podem ser úteis após exercícios:
Outros benefícios interessantes
Além das cervejas sem álcool, o mercado brasileiro também oferece vinhos e destilados com teor reduzido ou zero álcool, produzidos através de diferentes técnicas de desalcoolização como osmose reversa, destilação osmótica, nanofiltração e processos de extração. Os vinhos sem álcool conseguem manter características sensoriais próximas ao vinho tradicional e preservar alguns compostos benéficos como antioxidantes, enquanto os destilados zero álcool (versões de gin, whisky, vodka e rum) passam por processos mais complexos devido ao maior teor alcoólico original, com foco na preservação dos sabores e aromas característicos.
Segundo a regulamentação brasileira, bebidas com até 0,5% de álcool são consideradas "sem álcool", porém não são indicadas para gestantes, menores de idade, pessoas em recuperação do alcoolismo ou abstinentes. Embora representem alternativas interessantes para quem busca reduzir o consumo de álcool mantendo a experiência social, ainda são produtos menos acessíveis devido aos custos dos processos tecnológicos envolvidos, devendo sempre ser consumidas dentro de um estilo de vida equilibrado.
Por que as pesquisas chegam a conclusões diferentes?
Fatores que influenciam os resultados
Quando a cerveja sem álcool NÃO é uma boa escolha
Para quem pode ser uma boa alternativa:
Como escolher a melhor opção
Leia o rótulo e procure:
Evite:
Limitações dos estudos atuais
Os resultados divergentes observados nos estudos apresentados reforçam a necessidade de mais pesquisas para se compreender todos os efeitos das cervejas sem álcool no organismo humano. Isto se deve, sobretudo, às limitações ainda existentes nos estudos feitos até o momento:
A importância do contexto
Os benefícios das cervejas sem álcool devem ser vistos dentro de um estilo de vida saudável geral:
Recomendações práticas baseadas nas evidências atuais
Para o dia a dia
Consumo moderado é fundamental:
Integre com inteligência:
Conclusão
Em suma, cervejas sem álcool podem ser uma alternativa viável, especialmente se você quer os potenciais benefícios da cerveja sem os riscos do álcool. Apenas lembre-se de escolher versões com menos açúcar e consumi-las com moderação, como parte de um estilo de vida equilibrado.
Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema, envolvendo mais de 2,4 milhões de pessoas ao redor do mundo, confirma que o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver câncer de pâncreas. A pesquisa, que acompanhou participantes por mais de 15 anos, mostrou que mesmo quantidades moderadas de álcool podem elevar as chances da doença, independentemente de a pessoa fumar ou não.
Um estudo internacional 1 publicado na revista científica PLOS Medicine analisou dados de mais de 2,4 milhões de pessoas de 30 países diferentes para entender melhor a relação entre o consumo de álcool e o câncer de pâncreas. Durante um acompanhamento de mais de 15 anos, os pesquisadores registraram mais de 10 mil casos da doença. Embora a relação entre o álcool e a pancreatite, um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pâncreas, já fosse bem estabelecida, a associação direta entre este tipo de câncer e a substância ainda tinha evidências limitadas ou inconclusivas.
Os resultados mostraram que para cada dose adicional de álcool consumida diariamente (equivalente a cerca de 10g de álcool puro), o risco de câncer de pâncreas aumenta em 3%. Para colocar isso em perspectiva, 10g de álcool correspondem aproximadamente a:
Para as mulheres: Quem consome entre 1-2 doses por dia tem 12% mais chances de desenvolver a doença, comparado a quem bebe muito pouco.
Para os homens: O risco aumenta 15% para quem consome 2-4 doses diárias, e salta para 36% entre aqueles que bebem mais de 4 doses por dia.
Uma descoberta importante do estudo é que o álcool aumenta o risco de câncer de pâncreas mesmo em pessoas que nunca fumaram. Isso significa que não é apenas a combinação álcool + cigarro que é perigosa - o álcool sozinho já representa um risco.
Os pesquisadores encontraram praticamente o mesmo aumento de risco em:
Outro achado interessante foi que diferentes tipos de bebida alcoólica parecem ter efeitos distintos:
Cerveja e destilados (whisky, vodka, cachaça): Aumentaram o risco de câncer de pâncreas.
Vinho: Não mostrou associação significativa com a doença, possivelmente devido aos compostos benéficos presentes na bebida, como os polifenóis.
O estudo também revelou diferenças geográficas interessantes. O aumento do risco foi observado principalmente em:
Já nos países asiáticos, não foi encontrada essa associação, provavelmente porque muitas pessoas nessas regiões têm uma variação genética que as torna menos tolerantes ao álcool, fazendo com que bebam menos.
O câncer de pâncreas é uma das formas mais agressivas da doença, com baixas taxas de sobrevivência. Por isso, entender os fatores de risco é fundamental para a prevenção.
Principais pontos para lembrar:
É importante mencionar que o estudo teve algumas limitações:
Esta pesquisa revela que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, é um fator de risco modificável para o câncer de pâncreas. É importante estar atento a esses riscos, especialmente se você apresenta outros fatores predisponentes, como tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2, pancreatite crônica ou histórico familiar da doença.
O estrogênio desempenha um papel fundamental nas respostas neurobiológicas ao álcool em mulheres. Evidências recentes mostram que flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual e ao longo da vida podem influenciar a sensibilidade ao álcool, o padrão de consumo e os riscos associados ao seu uso.
Estudos pré-clínicos e clínicos indicam que o estrogênio amplifica os efeitos da dopamina em áreas cerebrais relacionadas ao sistema de recompensa, como o corpo estriado e o córtex pré-frontal. Isso pode aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao desenvolvimento de transtornos por uso de álcool, especialmente em fases da vida com altos níveis estrogênicos, como durante o ciclo ovulatório, gravidez ou terapia hormonal.1
O estradiol é um hormônio esteroide, especificamente um estrogênio, produzido principalmente nos ovários em mulheres e em menor quantidade nos testículos em homens. Estudos indicam que o consumo de álcool pode aumentar os níveis de estradiol em mulheres, efeito observado tanto em mulheres em idade reprodutiva quanto em mulheres na pós-menopausa. Alguns estudos mostram que mulheres que consomem uma ou mais doses de álcool por dia apresentam níveis mais elevados de estradiol em comparação àquelas que consomem menos, especialmente quando os níveis hormonais são avaliados durante a fase lútea do ciclo menstrual.2,3 Em contrapartida, mulheres com transtorno por uso de álcool em tratamento ou em abstinência precoce frequentemente apresentam níveis mais baixos de estradiol do que mulheres sem transtorno.4
Altos níveis de estradiol parecem aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao uso de álcool. O hormônio influencia regiões cerebrais envolvidas na recompensa, como o corpo estriado e o núcleo accumbens. Um estudo conduzido por Martel et al. (2017), com 22 mulheres em idade reprodutiva, mostrou que níveis mais altos de estradiol estavam associados a maior consumo de álcool e episódios de binge drinking. Essa associação foi mais forte quando os níveis de estradiol estavam altos e os de progesterona baixos, um padrão hormonal típico da fase ovulatória do ciclo menstrual.5
Embora as evidências atuais apontem para uma interação relevante entre os níveis de estradiol e o uso de álcool em mulheres, os mecanismos fisiológicos subjacentes ainda não são completamente compreendidos. Ainda são necessários estudos experimentais e longitudinais para elucidar como o estradiol influencia a neurobiologia da recompensa e da vulnerabilidade ao uso de álcool, bem como os efeitos do álcool sobre a função endócrina em diferentes fases da vida da mulher.
Veja também Estrogênio e Álcool: os hormônios femininos podem influenciar o consumo de álcool em mulheres?
Estudo mostra que 83% das mortes por câncer atribuíveis ao álcool poderiam ser evitadas se as pessoas consumissem dentro das diretrizes. Os achados reforçam o papel central da prevenção no enfrentamento das mortes evitáveis atribuídas ao álcool, e oferecem subsídios importantes para políticas públicas de saúde.
O consumo de álcool é um dos principais fatores de risco evitáveis para o desenvolvimento de câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é responsável por aproximadamente 4% de todos os casos de câncer no mundo, afetando órgãos como fígado, mama, cólon, boca e esôfago.1 Apesar disso, as intervenções para redução de danos ainda enfrentam barreiras significativas, como baixa percepção de risco, normalização cultural do uso excessivo e políticas públicas de prevenção insuficientes.
Um estudo publicado na revista JAMA modelou o impacto da redução do consumo de álcool na mortalidade por câncer entre adultos nos Estados Unidos.2 Os autores utilizaram dados populacionais e de mortalidade dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, estimando que mais de 10.000 mortes por câncer atribuíveis ao álcool poderiam ser evitadas ao longo da vida dos atuais adultos se houvesse uma redução modesta no consumo, em especial, se os episódios de consumo excessivo episódico fossem reduzidos.
O estudo considerou diferentes cenários de redução do consumo de álcool, como a substituição do consumo excessivo por um padrão moderado, definido pelas Diretrizes Dietéticas dos EUA como até uma dose de álcool por dia para mulheres e até duas para homens, e a abstinência total. As estimativas indicam que aproximadamente 83% das cerca de 20 mil mortes por câncer atribuíveis ao álcool nos Estados Unidos a cada ano poderiam ser evitadas se todos os adultos que consomem álcool mantivessem seu uso dentro dos limites recomendados. Os tipos de câncer com maior impacto preventivo seriam os de fígado, orofaringe e mama, dada a sua forte associação com padrões de consumo excessivo.
Além disso, a análise sugere que intervenções populacionais, como aumentos de impostos sobre bebidas alcoólicas, restrições à publicidade, inclusão de rótulos com advertências sobre câncer e ampliação do aconselhamento clínico em contextos de atenção primária, representam estratégias de alto custo-benefício para reduzir significativamente a mortalidade evitável por câncer associado ao álcool.
Reflexões para o Brasil
Apesar de o estudo ter foco nos Estados Unidos, as lições são aplicáveis ao contexto brasileiro. A estimativa de que aproximadamente 17 mil casos novos de câncer por ano no Brasil são atribuíveis ao consumo de bebidas alcoólicas.3 No entanto, a percepção pública sobre esse risco ainda é baixa. A redução do consumo de álcool é uma das medidas mais importantes e custo-efetivas para prevenir mortes por câncer. Estudos como o de Esser et al. contribuem com evidências robustas para embasar políticas que coloquem a prevenção no centro da agenda pública.
O consumo de álcool entre adolescentes tem sido uma preocupação constante de saúde pública em todo o mundo. Recentemente, um estudo abrangente publicado no periódico BMJ Open trouxe insights importantes sobre a carga global de doenças relacionadas ao álcool entre jovens de 10 a 24 anos. Este estudo, combinado com outras pesquisas recentes, oferece um panorama detalhado sobre como o consumo de álcool afeta a saúde dos adolescentes e adultos jovens globalmente.
O consumo de álcool entre adolescentes representa uma das principais preocupações de saúde pública mundial. Um estudo recente publicado no prestigioso periódico BMJ Open trouxe dados alarmantes sobre como o álcool afeta a saúde dos jovens globalmente, analisando informações de 204 países entre 1990 e 2019¹.
O Que o Estudo Revelou:
Em 2019, o álcool foi responsável por 59.855 mortes entre jovens de 10 a 24 anos, enquanto as outras drogas causaram 16.391 óbitos. O álcool gerou 5,9 milhões de anos de vida perdidos por morte prematura ou vividos com incapacidade, comparado a 4,1 milhões relacionados às demais drogas.
Diferenças Entre Homens e Mulheres
O estudo revelou uma disparidade preocupante: homens jovens são muito mais afetados que mulheres. A taxa de problemas relacionados ao álcool foi significativamente maior em homens comparado a mulheres. Curiosamente, enquanto os problemas com álcool diminuíram para ambos os sexos desde 1990, os problemas com drogas entre homens jovens estão aumentando.
Panorama Regional: Um Mundo Dividido
Regiões Mais Afetadas
Esta relação entre desenvolvimento econômico e problemas com álcool sugere que maior acesso e poder aquisitivo podem, inadvertidamente, aumentar os riscos.
Perfis de Comportamento entre Adolescentes Europeus
Em complemento aos dados globais, uma análise de cinco países europeus (Inglaterra, Itália, Holanda, Hungria e Finlândia) identificou quatro perfis de adolescentes de 15 anos²:
A boa notícia é que houve uma redução significativa na proporção de jovens no grupo "geral não saudável" em todos os países, especialmente na Inglaterra (queda de 22,8 pontos percentuais).
Evidências sobre Declínio do Consumo
Uma revisão sistemática de qualidade metodológica baixa a moderada pelos critérios da JBI analisou tendências de danos relacionados ao álcool em países de alta renda onde o consumo adolescente declinou³. Os resultados mostram que:
Diferenças por Gênero nos Danos
A revisão revelou padrões preocupantes:
Principais Consequências para a Saúde
Sinais de Progresso
Apesar dos números preocupantes, há motivos para otimismo:
As melhorias nos indicadores de saúde e bem-estar dos adolescentes devem-se principalmente a declínios concomitantes no consumo de álcool, tabagismo, atividade sexual e uso de cannabis, mas esses declínios não estão consistentemente associados a melhorias em outros domínios.
Desafios Persistentes
Populações Vulneráveis
A revisão sistemática identificou que, embora os danos tenham diminuído na maioria dos países, algumas populações femininas e estudantis mostraram aumentos nos danos relacionados ao álcool. Isso destaca a necessidade de abordagens direcionadas.
Diferenças Regionais
Os dados mostram que não existe uma solução única. A evidência foi mais forte em países anglófonos, seguida pela América do Norte, enquanto os resultados da Europa continental foram mais contraditórios.
O Que Precisa Ser Feito
Recomendações Baseadas em Evidências
Conclusão
O estudo da BMJ Open expõe uma realidade complexa: embora o consumo de álcool entre adolescentes esteja diminuindo globalmente, ele ainda representa uma das principais causas de morte e incapacidade entre jovens. A situação é particularmente grave para homens jovens e varia drasticamente entre regiões.
As evidências mostram que os danos relacionados ao álcool têm diminuído em muitos países de alta renda, especialmente em países anglófonos. No entanto, as tendências preocupantes em algumas populações femininas e estudantis destacam a necessidade de vigilância contínua.
As análises de países europeus demonstram que mudanças são possíveis com políticas adequadas, com reduções significativas em comportamentos de risco entre adolescentes. O caminho à frente exige abordagens personalizadas, considerando diferenças de gênero, idade e contexto socioeconômico.