O uso crônico de álcool é prejudicial ao corpo humano, e os danos aos órgãos podem persistir mesmo após a pessoa parar o consumo. A possibilidade de um órgão se recuperar depois de se abster e quanto tempo isso levaria é um debate frequente na literatura científica e na população geral. No entanto, pesquisadores apontam que o tempo de recuperação varia de órgão para órgão, e é fortemente influenciado pelo padrão e tempo de consumo que o indivíduo tinha antes de parar de beber. Mas, a despeito disso, há algumas evidências de que é possível recuperar as funções dos órgãos afetados pelo álcool (1).
Entre os principais órgãos afetados pelo uso crônico de álcool, estão o fígado, coração, pâncreas, trato gastrointestinal e os ossos. Para cada um deles, existe um conjunto de evidências apontando se abster-se do álcool é capaz de promover a recuperação das suas funções e danos causados pelo uso crônico da substância. A Figura 1, abaixo, resume as conclusões das pesquisas sobre cada um destes órgãos. À direita, é possível observar os dados referentes a pesquisas com pacientes humanos. À esquerda são apresentados os dados referentes a pesquisas com modelos animais.
Figura 1. Figura traduzida da referência (1), disponível neste link. Diagrama esquemático dos efeitos do abuso de álcool (uso crônico) e da abstinência em estudos com seres humanos (esquerda) e estudos feitos com modelos animais (direita). A coluna referente à abstinência aponta se a condição é resolvida pela abstinência ou não. É importante salientar o caráter generalizante desta figura, e que cada pessoa pode apresentar variações nos dados apresentados.
Em resumo, o que o conjunto de evidências científicas aponta é que os danos causados pelo consumo de álcool aos órgãos do corpo humano podem ser recuperados.
Com relação ao tempo que leva para que esta recuperação funcional dos órgãos ocorra, alguns estudos indicam que, após um mês de abstinência, algumas funções cardíacas começam a exibir sinais de recuperação, por exemplo. Já para o fígado, o tempo necessário para que sinais de recuperação comecem a aparecer pode variar de 1 a 6 meses. Em contrapartida, sinais de disfunção óssea podem ser captados mesmo após 5 anos de abstinência (1).
O abuso de álcool é extremamente prejudicial à saúde, e é preciso salientar que, para além da lesão causada em cada um dos órgãos e de seus efeitos crônicos, há risco aumentado de agravos que, mais do que lesar corpo, podem levar o indivíduo a óbito. Assim, estes dados de recuperação funcional do corpo humano podem ser um importante incentivo à abstinência em pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool, mostrando que é possível reverter, ainda que parcialmente, alguns dos principais danos causados pelo abuso da substância ao parar de beber.