O Movimento Maio Amarelo completa 10 anos. Contudo, ainda há muito trabalho pela frente quando se fala sobre álcool e direção. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), mais de 325 mil acidentes foram provocados por motoristas embriagados em 20221. Um estudo realizado no Hospital das Clínicas de São Paulo (FMUSP) com o objetivo de avaliar a prevalência do consumo de substâncias psicoativas entre as pessoas internadas por trauma mostrou que, dos 376 pacientes avaliados (entre 2018 e 2019), o álcool foi a substância mais prevalente (23%)2. Por fim, uma pesquisa realizada pela Enfermaria de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Paulo (Unifesp) entre 2015 e 2016 também mostrou que, das vítimas de trauma motociclístico, 65% estavam sob efeito apenas de álcool, 16% estavam sob efeito de álcool e drogas, e 19% sob efeito de drogas ilícitas3.
O impacto também é econômico, já que os acidentes de trânsito custarão à economia mundial cerca de US $1,8 trilhões para 166 países, segundo estimativas e projeções até 20304. E um dos principais contribuintes para esta incidência é a direção sob efeito de álcool. Para enfrentar estes problemas, as Metas Globais de Desempenho de Segurança no Trânsito da OMS para 2030 incluem a redução pela metade do número de lesões e mortes em acidentes de trânsito envolvendo álcool no mundo5.
Uma das ações estratégicas são os pontos de verificação de sobriedade (conhecidas como blitz de trânsito)6, estratégia que tem sido eficaz na redução do número de condutores de veículos sob o efeito do álcool dentro de uma área geográfica. Esta intervenção envolve agentes policiais que estabelecem um posto de controle de beira de estrada e grandes vias de acesso urbanas onde todos os motoristas são parados por um período pré-determinado e submetidos a testes de alcoolemia, como o teste de bafômetro, por exemplo, e testes toxicológicos. E os motoristas que estiverem dirigindo sob o efeito de álcool (ou outras drogas ilícitas) ficam sujeitos às leis e penalidades locais.
Um estudo realizado em Queensland7, na Austrália, mostrou como a extensão geográfica em que essas operações de trânsito ocorrem pode afetar a direção sob efeito de álcool. A pesquisa utilizou dados dos testes de bafômetro do serviço policial da região (cerca de 16 milhões de testes), no período de 2012 a 2018. Os resultados apontaram que uma blitz adicional realizada a cada 500 quilômetros de rodovia estava associada a uma redução de até 5,5% na taxa dos testes positivos para álcool. Assim, os autores concluem que a localização estratégica e a programação adequada podem ser medidas eficazes para reduzir os custos das operações e contribuir para a redução de acidentes de trânsito relacionados ao consumo de álcool.
Estratégias como esta, atreladas à Lei Seca, contribuem de forma eficaz para a redução da condução de veículos sob o efeito do álcool pois, consequentemente, estão associadas a diminuição dos riscos de acidentes de trânsito, traumas e óbitos. Contudo, mais políticas públicas devem ser realizadas neste sentido, como o aumento de postos de policiamento de trânsito, bem como policiais rodoviários, além de mais campanhas publicitárias reforçando os efeitos do uso de álcool na direção.
O CISA é apoiador da campanha Maio Amarelo, visando contribuir para o debate sobre o tema, além de trazer os principais dados sobre bebida alcoólica e trânsito por meio da publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros.
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