Nem todos sabem o que comer ou beber após a atividade física, mas definitivamente ingerir bebidas alcoólicas não é uma boa ideia. O pós-treino é uma etapa muito importante de finalização do exercício pois, ao concluí-lo, o corpo apresenta algumas necessidades específicas que são supridas por meio da alimentação, da suplementação, do descanso, do alongamento e da hidratação.
Apesar dos numerosos e complexos mecanismos pelos quais o álcool afeta nosso organismo, já é conhecido que a ingestão de álcool pode prejudicar a recuperação muscular após a atividade física1. Estudos apontam que beber pode levar à diminuição do uso de glicose e aminoácidos pelos músculos, interferindo no depósito de energia e no metabolismo durante o exercício. Além disso, o álcool tem propriedades inflamatórias que podem prejudicar a disponibilidade de nutrientes e diminuir a secreção do hormônio do crescimento1.
O foco principal do período de pós-treino (entre 1h e 8h após a atividade) é melhorar os processos fisiológicos, a fim de reverter a descompensação na homeostase corporal causada pelo exercício e promover melhores adaptações ao treino2. Assim, as estratégias nutricionais geralmente são recomendadas com objetivo de maximizar a recuperação muscular e por isso incluem a ingestão de proteína para aumentar as taxas de síntese proteica e carboidratos para reabastecer os estoques de glicogênio2.
Uma revisão3 da literatura científica mostrou que o consumo de álcool após exercícios de resistência não parecia interferir na recuperação metabólica após o treino. No entanto, o mesmo estudo relatou que os níveis de cortisol podem aumentar e os níveis de testosterona e as taxas de síntese de proteína muscular podem diminuir, o que indica que as adaptações musculares a longo prazo podem ser prejudicadas se o consumo de álcool durante a recuperação for frequente.
Outro estudo4 realizado com homens fisicamente ativos mostrou os efeitos da ingestão de álcool nas taxas de síntese de proteína muscular após uma sequência de exercícios de resistência. Imediatamente e quatro horas após os exercícios, os participantes ingeriram suplementos à base de proteínas ou carboidratos, ou álcool ou os mesmos suplementos com álcool. Como resultado, os pesquisadores relataram que a concentração de álcool no sangue desses indivíduos permaneceu elevada durante todo o período de recuperação (8 horas). Além disso, o estudo mostrou que o consumo de álcool pode reduzir a taxa de síntese muscular em 37%, mesmo quando co-ingerido com suplemento proteico. Ou seja, a ingestão de álcool pode suprir a resposta anabólica no músculo esquelético (processo de reconstrução muscular) e, portanto, prejudicar a recuperação e adaptação ao treino e/ou desempenho subsequente.
É importante lembrar que, desde a sua ingestão até sua eliminação, o álcool passa por diferentes fases de metabolização dentro do organismo. Quando ingerido, o álcool é absorvido primeiramente pelo estômago, em menor escala, e pelo intestino delgado, na sua maior parte. Com isso, ao consumir álcool junto a outros alimentos há um retardo no esvaziamento gástrico e assim, redução na velocidade de absorção, bem como de sua concentração no sangue5. Por isso, após o treino, é importante hidratar-se e alimentar-se antes de ingerir qualquer bebida alcoólica, pois a absorção intestinal do álcool tende a ser menor com o estômago cheio. Por fim, conversar com um nutricionista é fundamental para a elaboração de um plano alimentar e a indicação de uma boa suplementação, se necessário, que contemplem as necessidades do seu corpo e atendam aos seus objetivos.
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