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Como as mulheres estão bebendo?

03 Março 2020

O uso de álcool tem aumentado entre elas, não só em relação à quantidade, mas também à frequência.

Historicamente, o maior consumo de álcool sempre foi atribuído aos homens. Em todas as regiões da OMS, as mulheres bebem menos frequentemente, em menor quantidade e se envolvem menos em episódios de consumo pesado do que os homens (OMS, 2018a). Isso também é observado no brasil: dados do III LNUD (2017) mostram que uma maior proporção de homens reportou o consumo de bebidas alcoólicas em comparação às mulheres:

 

Nos últimos anos, porém, as mulheres têm aumentado significativamente esse uso, não só em relação à quantidade, mas também à frequência. Globalmente, prevê-se que a diferença entre homens e mulheres que bebem diminuirá progressivamente até 2030, em parte devido ao aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho (Manthey et al., 2019).

Essa equiparação do consumo de álcool levanta uma série de preocupações, pois pode representar desigualdade nos resultados para a saúde, uma vez que as mulheres têm maior probabilidade de ter problemas relacionados ao álcool com níveis de consumo mais baixos e/ou em idade mais precoce do que os homens.

Diferenças fisiológicas entre homens e mulheres também influenciam este processo: o organismo feminino apresenta menores níveis de enzimas responsáveis pela metabolização do álcool, o que faz com que a substância demore mais tempo para ser eliminada. Além disso, tem proporcionalmente menor quantidade de água que o corpo masculino, de modo que o etanol fica mais concentrado em seu organismo, agravando os efeitos.

Dados do Ministério da Saúde apontam que o consumo abusivo de álcool pela população geral adulta brasileira e entre homens se mantém relativamente estável. Já o consumo entre as mulheres, mesmo com percentual menor, apresentou maior crescimento em relação aos homens no período de 2006 a 2018 (Vigitel).

 

É alarmante notar que essa mudança de padrões de consumo tem ocorrido também entre as adolescentes. Segundo relatório da OPAS (2015), entre estudantes com idade de 13 a 17 anos, mais de 20% das meninas e 28% dos meninos relataram já ter sofrido um episódio de embriaguez na vida. No Brasil, a Pense 2015 (IBGE, 2016), realizada com 10.926 estudantes nessa mesma faixa etária, também aponta índices semelhantes de episódios desse tipo: 26,9% entre as meninas e 27,5% entre os meninos.

Chama também a atenção os altos índices de abuso e dependência observados nas Américas para ambos os sexos: 11,5% entre homens e 5,1% das mulheres (OMS, 2018a). No Brasil, segundo o relatório da OMS, 1,6% das mulheres brasileiras apresentam algum transtorno relacionado ao uso de álcool (para os homens, a prevalência é de 6,9%), sendo que 0,5% apresenta diagnóstico de dependência (entre homens é 2,3%).

Segundo a publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2020”, houve aumento de 19% no número de internações relacionadas ao uso de álcool entre as mulheres (de 85.311 para 101.902), entre 2010 e 2018, enquanto entre os homens houve uma ligeira redução de 1,1% (de 251.616 para 248.722). Entre 2010 e 2017, número de óbitos parcialmente ou totalmente atribuíveis ao álcool cresceu 15% entre as mulheres — de 13.813 mortes em 2010 para 15.876 em 2017. Entre as mulheres com 55 anos ou mais, houve aumento de 29%.

O uso excessivo de álcool por mulheres aumenta o risco para câncer de mama e doenças cardíacas, além de outros problemas a curto prazo. Trata-se de um cenário relativamente novo e é preciso direcionar a atenção para medir os problemas associados já conhecidos e possivelmente novos problemas que possam surgir. Os dados acima citados refletem a necessidade de maior conscientização da população geral e consequentemente de investimentos em programas de prevenção específicos e adequados para este grupo.

Additional Info

  • Referências:

    Centro de Informações sobre Saúde e Álcool - CISA. "Álcool e a saúde dos brasileiros: Panorama 2020".

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