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Como a naltrexona atua no tratamento da dependência de álcool?

21 Outubro 2021

 

A naltrexona, medicamento para dependência de álcool, pode ter sua efetividade alterada a depender do perfil do bebedor. Confira!

A naltrexona é uma medicação usada para tratar transtornos relacionados ao uso de álcool e de outras drogas, como heroína e anfetaminas1. Bem como outros medicamentos usados para tratar a dependência em álcool e opioides, ela atua de modo a alterar os efeitos na indução da euforia destas drogas2. Sua ação ocorre no sistema nervoso central diminuindo a vontade de beber e fazendo com que a pessoa sinta menos os efeitos agradáveis do álcool, também chamados de efeitos “positivamente reforçadores”.

 A concentração do fármaco no organismo é importante para a resposta ao tratamento e, ainda, é altamente variável entre os indivíduos. Os resultados de um estudo sobre o tema mostram que apenas metade dos pacientes que receberam uma dose padrão de 50mg alcançaram a faixa terapêutica, sendo assim, muitos pacientes necessitam de doses maiores3,4. De maneira geral, há importantes diferenças individuais na resposta à naltrexona.

Alguns estudos encontraram dois tipos de fenótipo para a resposta ao tratamento da dependência de álcool, classificados como “bebedores de alívio” e “bebedor de recompensa”5. O primeiro é caracterizado pelo consumo de álcool ser mantido por aliviar os estados afetivos negativos, como a angústia. Já o indivíduo do fenótipo “bebedor de recompensa” utiliza o álcool por seus efeitos positivos e recompensadores, destacando indivíduos que gostam e desejam excessivamente o álcool, em particular as sensações descritas como “prazerosas” relacionadas a estar sob o efeito da droga.

Estudos recentes sugerem que o fenótipo de “bebedor de recompensa” é um fator preditor positivo de resposta da naltrexona5. Em adultos jovens, um estudo mostrou que pacientes com alto nível de mecanismos de recompensa e alívio obtiveram melhores respostas com o tratamento, quando comparado ao placebo6,7.

 Tentando aprimorar o uso deste fármaco, algumas prescrições clínicas (como a do conhecido “método Sinclair”) consideram o momento de ingestão da dose de naltrexona em relação ao consumo de álcool para maximizar a eficácia do tratamento4. Esse tipo de “metodologia” focada no momento de ingestão da medicação pode ser útil no tratamento de pacientes que não desejam aceitar a abstinência como objetivo inicial do tratamento, já que o paciente pode ainda consumir álcool. Uma das limitações desta prescrição é a indisponibilidade de uma dosagem padronizada, bem como a falta de um corpo mais sólido de estudos sobre sua eficácia , pois ainda não está consolidado que usar naltrexona um tempo antes de um episódio de consumo é mais efetivo do que consumi-la em um horário fixo do dia, sem levar em consideração o momento da ingesta de álcool.

 Intervenções que consideram dados individuais de fenótipo, genética e neuroimagem são cada vez mais recomendados para personalizar o tratamento farmacológico da dependência do álcool. Nesse contexto, há certas pessoas que se beneficiarão do uso da naltrexona.  

 A utilidade de naltrexona como o tratamento coadjuvante de dependência de álcool é promissora, como foi demonstrado em uma revisão sistemática sobre o seu uso associado a outras medicações8, indicando que pode auxiliar no tratamento da dependência do uso de álcool associado a outras comorbidades, como ansiedade e depressão. Porém, mais estudos são necessários, tanto na classificação dos tipos de bebedores, quanto na resposta ao tratamento dentre esses subtipos específicos.

 

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Additional Info

  • Referências:
    1. Singh D, Saadabadi A. Naltrexone. StatPearls [Internet] [Internet]. 2021 Feb 1 [cited 2021 Jul 11];1–3. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534811/
    2. Kranzler HR, Soyka M. Diagnosis and Pharmacotherapy of Alcohol Use Disorder: A Review. JAMA [Internet]. 2018 Aug 28 [cited 2021 Jul 11];320(8):815. Available from: /pmc/articles/PMC7391072/
    3. S B, NK B, C H, F K, K W, H J, et al. Therapeutic Drug Monitoring of Naltrexone and 6β-Naltrexol During Anti-craving Treatment in Alcohol Dependence: Reference Ranges. Alcohol Alcohol [Internet]. 2019 Jan 1 [cited 2021 Jul 10];54(1):51–5. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30260366/
    4. JD S. Evidence about the use of naltrexone and for different ways of using it in the treatment of alcoholism. Alcohol Alcohol [Internet]. 2001 [cited 2021 Jul 10];36(1):2–10. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11139409/
    5. K M, CR R, S H, H N, T L, A H, et al. Precision Medicine in Alcohol Dependence: A Controlled Trial Testing Pharmacotherapy Response Among Reward and Relief Drinking Phenotypes. Neuropsychopharmacology [Internet]. 2018 Mar 1 [cited 2021 Jul 10];43(4):891–9. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29154368/
    6. Roos CR, Bold KW, Witkiewitz K, Leeman RF, DeMartini KS, Fucito LM, et al. Reward drinking and naltrexone treatment response among young adult heavy drinkers. Addiction. 2021
    7. CR R, K M, K W. Reward and relief dimensions of temptation to drink: construct validity and role in predicting differential benefit from acamprosate and naltrexone. Addict Biol [Internet]. 2017 Nov 1 [cited 2021 Jul 10];22(6):1528–39. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27480445/
    8. Naglich, A. C., Lin, A., Wakhlu, S., & Adinoff, B. H. (2018, January 1). Systematic Review of Combined Pharmacotherapy for the Treatment of Alcohol Use Disorder in Patients Without Comorbid Conditions. CNS Drugs. Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/s40263-017-0484-2

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