Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data instituída em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas e celebrada em 11 de fevereiro, o CISA lança uma série de quatro entrevistas com pesquisadoras que se destacaram em suas áreas e que no decorrer de sua trajetória na ciência estudaram os impactos do uso de álcool.
Uma das entrevistadas é a Dra. Conceição Aparecida de Mattos Segre, especialistas em Pediatria Neonatal e conselheira científica do CISA. Graduada em Medicina pela FMUSP em 1954, é uma referência no estudo da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e uma das percussoras no tema no país. Editora de diversos livros, como “RN” e “Pediatria: diretrizes básicas e organização de serviços”, tem o título de International Pionner in Neonatology, conferido pela American Academy of Pediatrics. Confira a entrevista:
1) Quando iniciou sua trajetória na ciência e o que a motivou? Poderia contar um pouco sobre suas primeiras pesquisas?
Sempre fui muito curiosa, o que me motivou a procurar respostas! Assim foi que, enquanto estava no curso médico fui estagiária no Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina e me engajei em uma pesquisa sobre enzimas hepáticas. Daí em diante sucederam outros engajamentos e, mais tarde, durante o curso, quando já havia decidido ser pediatra, trabalhei no então existente Laboratório da Clínica Pediátrica, colaborando com as pesquisas que ali eram desenvolvidas e orientadas pelo chefe do laboratório no momento, Dr. Guilherme Mattar.
2) Como era a participação das mulheres na ciência nessa época?
Nessa época, na verdade, dependia muito da inclinação de cada estudante. Não sentia restrições em função do sexo do candidato à pesquisador. Pelo menos na Faculdade de Medicina da USP, nós alunas tínhamos o mesmo tratamento que os alunos.
3) Como surgiu o interesse na pesquisa sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)?
Surgiu a partir de um caso de um recém-nascido na Maternidade do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, onde eu trabalhava no berçário no início dos anos 70, e esse caso não se encaixava em nenhuma síndrome com fácies já bem descritas, como a síndrome de Down e Edwards, por exemplo. Procurando na literatura, me deparei com um artigo de Jones e Smith sobre o problema do consumo de álcool por gestantes, com uma descrição detalhada do quadro clínico dos recém-nascidos, o que eles chamaram de “síndrome alcoólica fetal”. Em entrevista com a mãe desse bebê, pude confirmar a adição ao álcool, e esse foi o primeiro caso em que eu pude fazer esse diagnóstico. Mais tarde, já na década de 80, quando a equipe do berçário havia decidido publicar um livro brasileiro sobre os problemas do recém-nascido, a ocorrência da síndrome alcoólica fetal foi contemplada, constando a foto de um bebê nascido na Maternidade Escola de Vila Nova Cachoeirinha. Em 2015, na publicação da 3ª. edição do livro “Perinatologia. Fundamentos e prática”, os efeitos do álcool na gestante e no recém-nascido mereceram um capítulo especial, com 12 páginas, que abordou inúmeros aspectos, como efeitos do álcool na gestante, marcadores do consumo de álcool na gestação, manifestações clínicas e aspectos diagnósticos, tratamento e prevenção da síndrome alcoólica fetal, entre outros.
4) Que mensagem gostaria de deixar para a nova geração de mulheres cientistas?
A pesquisa é infinita, portanto, não há que desistir nunca. Estar sempre alerta e dando o melhor de si mesma com total dedicação, eu diria mesmo com “paixão” por aquilo que despertou seu interesse.
Confira também as outras entrevistas da série Mulheres na Ciência:
Presidente do Conselho Científico do CISA, a médica fisiatra Dra. Júlia Maria D’Andréa Greve
Para saber mais sobre a Síndrome Alcoólica Fetal, acesse:
Síndrome Alcoólica Fetal: entenda o que é e como preveni-la
Você sabe o que é Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)?
Álcool e gravidez: tolerância zero