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Efeitos do álcool no fígado - Entrevista com Dr. Paulo Bittencourt

04 Dezembro 2021

 O médico hepatologista e presidente do Ibrafig, Paulo Bittencourt, conversou com o CISA sobre a relação entre álcool e a saúde hepática.

Em dezembro, CISA e Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) promovem uma campanha para chamar a atenção da população sobre os riscos do uso nocivo de álcool à saúde do fígado e para conscientização da importância da prevenção das doenças hepáticas.

Segundo pesquisa encomendada pelo Ibrafig, a maioria dos entrevistados acredita que consumo frequente de álcool lidera o ranking de causa tanto do câncer de fígado quanto da cirrose, mas a maioria (56%) negligencia sua saúde quando afirma nunca ter feito exame para avaliar dano do fígado relacionado ao consumo de álcool.

Para falar mais sobre essa pesquisa e o impacto do álcool na saúde hepática, o CISA conversou com Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig. Confira:

1) Quais são os outros destaques da pesquisa encomendada pelo Ibrafig ao Datafolha sobre consumo de álcool pelos brasileiros? 

A pesquisa foi realizada entre os dias 08/09/2021 e 15/09/2021 tendo sido entrevistados 1.995 brasileiros acima de 18 anos de todas as classes sociais nas diferentes regiões do Brasil. Pouco mais da metade dos brasileiros (as) maiores de 18 anos afirmaram consumir bebidas alcoólicas, sendo que um em cada três declararam consumir bebida alcoólica semanalmente (32%).

Entre as pessoas que bebem, 37% disseram que consomem entre uma e duas doses. Contudo, 44% declarou consumir três ou mais doses em um dia habitual em que bebe. O consumo de álcool foi maior nas classes A/B e no sexo masculino.

2) Ainda há fake news sobre cirrose que precisam ser esclarecidas? Por exemplo, é fato ou fake que parar de beber pode ajudar em casos mais graves? 

Não é fake-news, mesmo pacientes com cirrose descompensada apresentando complicacões graves, tais como ascite (acúmulo de água na barriga) e encefalopatia (desorientação e sonolência) podem se beneficiar da abstinência alcoólica com regressão dos sinais e sintomas destas manifestações da cirrose. Após 3-6 meses de abstinência, muitos pacientes com cirrose deixam de apresentar critérios para transplante de fígado por melhora clínica. Por isto, recomendamos consumo zero de álcool para quem tem cirrose. Além de desencadear complicações da doença, o consumo de bebida alcoólica aumenta o risco de câncer de fígado em quem tem cirrose ou fibrose avançada.

3) Um estudo recente indicou que houve um aumento de pacientes na fila de espera para transplante de fígado e também no número destas cirurgias durante a pandemia nos Estados Unidos. Os cientistas apontam a possível relação com o crescimento do uso de álcool na quarentena. Esse aumento de transplantes também tem sido observado no Brasil? 

Não houve aumento no número de transplantes de fígado no Brasil devido à escassez de doadores que foi potencializada pela pandemia da COVID-19. Por outro lado, cirrose alcoólica no último ano já ultrapassou cirrose por hepatite C como a principal indicação para transplante hepático no país e a cirrose se tornou também nos últimos anos a principal causa de mortalidade atribuída ao álcool, a frente dos acidentes automobilísticos.

4) As brasileiras estão consumindo mais álcool e com maior frequência nos últimos anos. Já é possível ver o impacto dessa mudança de hábito na saúde do fígado delas? 

O dado é preocupante porque as mulheres são mais susceptíveis aos efeitos do álcool e tem maior predisposição a desenvolver cirrose e hepatite alcoólica quando comparadas aos homens. Acreditamos que este impacto na saúde feminina ainda é bem subestimado aqui no nosso meio, devendo ficar mais aparente nos próximos anos.

5) Qual a recomendação para quem faz uso de álcool e quer cuidar da saúde do fígado?

Sabendo que não existe limite claro de segurança associado ao consumo de bebidas alcoólicas, recomenda-se evitar o consumo abusivo de álcool não ultrapassando a ingestãode uma dose de álcool por dia para mulheres e duas doses de álcool por dia para homens. Entende-se como uma dose a quantidade equivalente a cerca de 45 mL de destilado, 140-150 mL de vinho ou 1 lata ou meia garrafa de cerveja (350 mL). Para aqueles bebedores de finais de semanas, é bom evitar ingestão de 4 doses ou mais de álcool por ocasião para mulheres e 5 doses ou mais de álcool por ocasião para homens. Consumo de álcool acima destas doses mais que duplica o risco de cirrose a longo prazo e deve indicar a necessidade da realização de exames para avaliar a saúde do fígado, tais como as dosagens das enzimas hepáticas AST e ALT e a contagem das plaquetas. Exames simples que podem avaliar risco de dano hepático associado ao consumo do álcool.

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