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Jogos envolvendo bebidas alcoólicas em contextos universitários são perigosos e frequentes, aponta estudo.

Você sabe o que é blecaute alcoólico ou amnésia alcoólica?

Não lembrar do que fez após beber demais é um alerta do seu corpo!

Assista nosso vídeo para entender!

 

 

Estudo aponta possíveis associações entre o eixo microbioma-intestino-cérebro e a compulsão de álcool por jovens bebedores abusivos.

Beber e jogar são atividades que geralmente estão conectadas, que também apresentam ligações em regiões cerebrais que podem levar a comportamentos de risco e consequências sérias para a saúde mental.

Um recente ensaio clínico conduzido nos Estados Unidos investigou o impacto da semaglutida, um medicamento utilizado para tratar diabetes e obesidade, na redução do consumo de álcool. Os achados sugerem que o uso dessa medicação pode ajudar a diminuir tanto o desejo quanto a quantidade de bebida ingerida, abrindo novas perspectivas para o tratamento do transtorno do uso de álcool (AUD).

 

Uma nova pesquisa1 publicada na JAMA Psychiatry sugere que a semaglutida, um medicamento originalmente desenvolvido para diabetes e obesidade, pode também ter impacto positivo na redução do consumo de álcool. O estudo foi um ensaio clínico randomizado de fase 2 conduzido nos Estados Unidos, envolvendo adultos diagnosticados com transtorno do uso de álcool (AUD). Os resultados mostraram que doses semanais de semaglutida ajudaram a diminuir o consumo de álcool e a redução do desejo por bebidas alcoólicas.

A pesquisa incluiu 48 participantes que não estavam buscando tratamento para o AUD. Eles foram divididos em dois grupos: um recebendo a semaglutida e outro placebo. Após nove semanas de tratamento, os participantes que usaram a semaglutida consumiram significativamente menos álcool do que aqueles no grupo placebo. O estudo também mostrou redução nos episódios de consumo excessivo de álcool (binge drinking) e diminuição do desejo de beber.

Como a semaglutida pode influenciar o consumo de álcool?

A semaglutida pertence a uma classe de medicamentos chamados agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1RAs), que afetam a regulação do apetite e o sistema de recompensa no cérebro. Estudos pré-clínicos já haviam sugerido que os GLP-1RAs poderiam influenciar o comportamento de consumo de álcool, reduzindo a sensação de prazer associada à bebida.

No estudo clínico, os participantes tratados com semaglutida apresentaram menor consumo de álcool quando submetidos a um teste laboratorial de auto-administração de bebidas. Os pesquisadores também observaram que a semaglutida não afetou diretamente o número de dias em que os participantes bebiam, mas reduziu a quantidade ingerida por dia de consumo.

Possíveis implicações clínicas

Embora os resultados sejam promissores, os autores destacam que estudos de maior escala são necessários para confirmar os achados e avaliar a segurança do uso prolongado da semaglutida para tratar o AUD. Atualmente, menos de 10% dos indivíduos com transtorno do uso de álcool recebem tratamento farmacológico. Se confirmada sua eficácia, a semaglutida pode      se tornar uma nova opção para pessoas que buscam reduzir o consumo de álcool sem      se abster completamente.

O que isso significa para quem deseja reduzir o consumo de álcool?

Se você tem preocupação com o seu padrão de consumo de álcool, é importante conversar com um profissional de saúde antes de considerar qualquer medicamento. O estudo sugere que a semaglutida pode ajudar a reduzir o consumo de álcool, mas não é uma solução universal. Outras abordagens, como terapia cognitivo-comportamental e suporte social, continuam sendo fundamentais para o manejo do AUD.

Com mais pesquisas, a semaglutida pode representar uma opção terapêutica inovadora no futuro. Por enquanto, a melhor estratégia para manter um consumo equilibrado de álcool continua sendo o autoconhecimento, a moderação e o apoio especializado.

 

 

O consumo de bebidas alcoólicas é amplamente praticado em diversas culturas, mas a evidência científica mostra que seu uso nocivo está associado a uma série de riscos à saúde. Uma revisão de evidências analisou os impactos do consumo de álcool em diversas condições de saúde, incluindo mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, câncer e efeitos neurocognitivos.

 

Um estudo recente 1 compilado pela National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine, uma entidade do Governo dos Estados Unidos, revisou sistematicamente as evidências sobre os impactos do álcool na saúde. A metodologia seguiu padrões rigorosos de revisão sistemática, incluindo a busca em bases de dados reconhecidas, seleção de estudos com critérios predefinidos de qualidade e avaliação do risco de viés (qualidade dos estudos) por revisores independentes, seguindo o mais alto padrão em termos de evidência científica. O objetivo foi avaliar a relação entre o consumo moderado de álcool e vários desfechos de saúde, com base em estudos de alta qualidade e revisões sistemáticas.

Um requerimento importante do estudo foi estabelecer um grupo de comparação que não incluísse no mesmo conjunto pessoas que nunca beberam e ex-bebedores, já que isso geraria um "viés de abstinência". Isso pode levar a resultados enganosos, pois as razões para a abstinência podem variar significativamente entre esses dois grupos, incluindo pessoas que nunca beberam por motivos religiosos, e outras que podem ter parado de beber por problemas de saúde. Esse viés poderia trazer uma impressão enganosa sobre a saúde das pessoas que não bebem ser pior do que as que bebem moderadamente. Com a exclusão desse viés dos estudos selecionados, as chances de se ter resultados mais fidedignos sobre os efeitos do uso moderado para a saúde são maiores. 

Os resultados destacaram associações importantes entre o consumo de álcool e diversas condições de saúde, incluindo:

  1. Mortalidade por todas as causas: O consumo moderado de álcool foi associado a uma redução de 16% no risco de mortalidade por todas as causas em comparação com abstêmios (RR 0,84, IC 95% 0,81-0,87).
  2. Doenças cardiovasculares: O consumo moderado apresentou uma associação com menor risco de infarto do miocárdio (RR 0,88, IC 95% 0,68-0,90) e acidente vascular cerebral isquêmico (RR 0,88, IC 95% 0,86-0,90).
  3. Câncer: O consumo moderado de álcool foi associado a um aumento de 10% no risco de câncer de mama (RR 1,10, IC 95% 1,02-1,19), enquanto a evidência para outros tipos de cânceres permaneceu inconsistente. 
  4. Efeitos neurocognitivos: O impacto do consumo de álcool sobre a neurocognição ainda apresenta resultados contraditórios, com algumas evidências sugerindo uma relação negativa com o declínio cognitivo.

Recomendações:

  1. Evitar o consumo excessivo: Moderação é essencial para minimizar os riscos associados à saúde.
  2. Atenção a condições específicas: Indivíduos com doenças preexistentes, como doenças hepáticas (cirrose, hepatite), cardiovasculares (hipertensão, insuficiência cardíaca), gastrointestinais (gastrite, pancreatite), neurológicas (epilepsia), psiquiátricas (depressão, ansiedade), diabetes, doenças renais ou autoimunes, devem evitar o consumo de álcool, pois ele pode afetar o tratamento e a evolução dessas condições, bem como trazer riscos adicionais à saúde.
  3. Conscientização sobre os riscos: É importante informar a população sobre os impactos do consumo de álcool, mesmo em quantidades moderadas.

Essas recomendações são particularmente relevantes para indivíduos em situações de risco, como pessoas com doenças cardiovasculares ou histórico familiar de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que nenhuma quantidade de álcool é  absolutamente segura. Gestantes e menores de idade, em particular, devem evitar completamente o consumo de álcool devido aos riscos significativos associados a essas condições.

 

 

 

 

Um novo estudo revela que o consumo de álcool no Brasil gera até R$18,8 bilhões em custos anuais, destacando a urgência de políticas preventivas. Clique e saiba mais.

Estudo finlandês mostra como o uso abusivo permanece alto no país a despeito da queda média do uso e os desafios para transformar uma cultura de consumo de álcool.

 

É sabido que alguns padrões de consumo de álcool se mostram mais nocivos que outros. O consumo abusivo, ou BPE, caracterizado por ser um padrão mais voltado à intoxicação, está associado a mais de 200 tipos de doenças, ao passo que o consumo moderado, principalmente junto às refeições, apresenta risco significativamente mais baixo de problemas. Alguns países, como os de cultura mediterrânea, se caracterizam pela grande prevalência de consumo diário de álcool (o que reflete em uma alta prevalência de consumo per capita, que é uma média do consumo total das pessoas com 15 anos ou mais), principalmente para acompanhar refeições (por exemplo, Espanha, Itália, Portugal), mas por níveis relativamente baixos de beber pesado episódico1. Isso significa que, nestes países, bebe-se com frequência, mas pouco por vez, o que é considerado menos nocivo. Já outros países, como a Romênia, apresentam uma baixa frequência de consumo, porém, uma alta prevalência de uso abusivo1. Como os padrões de uso estão intrinsecamente ligados à cultura de um país, é importante observar atentamente os hábitos de consumo da população.

As mudanças no consumo de álcool de uma sociedade podem ter várias causas, decorrentes de mudanças sociais, culturais e econômicas mais amplas ou de mudanças normativas ou políticas específicas relacionadas ao álcool. As mudanças podem se materializar em novos grupos de bebedores, novas situações de consumo ou padrões de consumo alterados. Esses aspectos precisam ser examinados para se entender a dinâmica das mudanças no consumo de álcool e as implicações que podem ter para o futuro.

Um estudo2 examinou as mudanças no consumo de álcool na Finlândia entre 2000 e 2016, analisando as alterações por grupo etário, gênero e nível de consumo. O objetivo foi entender como o consumo de álcool se distribui na população e como, ao longo do tempo, os padrões de consumo vão se modificando. Especialmente, entender se as mudanças no nível geral de consumo (consumo per capita) alteram sua distribuição, ou seja, se o consumo leve, moderado e pesado muda igualmente, ou se a forma da distribuição do consumo de álcool permanece inalterada. Além disso, o estudo também pretendeu investigar se havia evidência de uma mudança para um estilo de consumo mais mediterrâneo quando o consumo per capita diminuiu no país, ou seja, se o consumo estaria sendo feito de forma mais distribuída, em mais ocasiões com menos quantidade de álcool por ocasião. A principal fonte de dados são as pesquisas Finnish Drinking Habits Survey (FDHS) realizadas em 2000, 2008 e 2016. Os participantes constituíram uma amostra aleatória de residentes finlandeses com idade entre 15 e 69 anos.

Os resultados mostraram que o aumento do consumo per capita no início dos anos 2000 foi impulsionado por um aumento na frequência de consumo entre idosos e no aumento de episódios de consumo excessivo (BPE) entre as mulheres. Neste período, a população mais velha se aproximou da mais jovem, tanto na frequência de consumo quanto nos níveis de BPE.

Após 2008, houve uma redução do consumo per capita, acompanhada por uma diminuição na frequência de consumo regular e de BPE, especialmente entre homens e jovens. Essa mudança nos padrões foi acompanhada de redução nas taxas de mortalidade, sendo que mortes por ferimentos com intoxicação alcoólica como causa contributiva diminuíram de quase 1000 mortes em 2006 para cerca de 550 em 2015 (de acordo com Statistics Finland). Outros fatores podem estar em jogo; por exemplo, a melhoria do tratamento do alcoolismo ou estradas mais seguras, mas, segundo os autores do estudo, a redução do BPE muito provavelmente contribuiu para este resultado positivo.

Muitos atores políticos têm o desejo de mudar a cultura do consumo de álcool, para reduzir os problemas da intoxicação, e criar uma “cultura da temperança” ou da “moderação”. No caso da Finlândia, não há evidências de que a redução do BPE ocorreu por conta dessa mudança de estilo de consumo. O presente estudo mostrou, outrossim, que as quantidades máximas consumidas num dia por homens finlandeses são ainda muito elevadas, e o uso abusivo continua a ser um problema a ser enfrentado. Além disso, mesmo que a maior diminuição do BPE tenha sido observada justamente entre homens jovens, os resultados mostraram que este padrão continua a ser mais prevalente neste grupo. Desse modo, ainda que a diminuição do consumo tenha gerado bons resultados do ponto de vista da saúde pública, os autores concluem que resta muito a ser feito, e que políticas públicas são necessárias para combater o consumo excessivo de álcool na Finlândia.

O Brasil também observou uma redução do consumo per capita de álcool na última década, mas, ao contrário da Finlândia, não houve diminuição conjunta do uso abusivo, tampouco evidências sólidas de mudanças nos padrões de consumo da população rumo a um estilo mais ponderado. Isto nos faz refletir sobre a importância e os desafios de se promover uma cultura de consumo menos nociva, que colabore para a diminuição do abuso, bem como sobre a necessidade de políticas públicas específicas para este problema.  



 

 

Uma pesquisa recente investigou a relação entre o consumo de polifenóis, presentes em alimentos e bebidas como o vinho, na dieta e o risco de síndrome metabólica em adultos brasileiros. Os achados indicam que uma maior ingestão de polifenóis está associada a menores chances de desenvolver síndrome metabólica, sugerindo que dietas ricas nessas substâncias podem ter um papel protetor contra fatores de risco cardiometabólicos.

 

Um estudo1 conduzido com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) analisou a associação entre a ingestão de polifenóis (presentes em alimentos como frutas, café, chocolate e vinho) e a incidência de síndrome metabólica, considerando fatores de risco cardiometabólicos. A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco, como obesidade abdominal, hipertensão, colesterol alterado e glicemia elevada, que aumentam a probabilidade de doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde. O tratamento e a prevenção se baseiam em mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, prática de exercícios e controle do peso.

A pesquisa avaliou 6.387 participantes, com idade média de 49,8 anos, dos quais 65% eram mulheres. O consumo alimentar foi estimado por meio de um Questionário de Frequência Alimentar semiquantitativo, e a ingestão de polifenóis foi calculada com base no banco de dados Phenol-Explorer.

Principais achados

A síndrome metabólica foi definida segundo o critério do Joint Interim Statement, e as associações entre ingestão de polifenóis e fatores de risco cardiometabólicos foram avaliadas por regressão logística. Durante um acompanhamento mediano de 8,19 anos, 2.031 participantes desenvolveram síndrome metabólica. Os indivíduos nos tercis mais elevados de consumo total de polifenóis apresentaram menor risco de síndrome metabólica em comparação com aqueles no tercil mais baixo. Após ajuste      para fatores sociodemográficos, estilo de vida e dieta, o risco foi 22% menor no segundo tercil e 23% menor no terceiro tercil de ingestão de polifenóis (T2 vs. T1: OR 0,78 [IC95%: 0,68-0,90]; T3 vs. T1: OR 0,77 [IC95%: 0,66-0,90]).

Além disso, foram observadas associações inversas entre o risco de síndrome metabólica e o consumo de ácidos fenólicos, lignanas, estilbenos e outros polifenóis. Embora a ingestão total de flavonoides não tenha apresentado associação significativa, subclasses como flavan-3-óis (monômeros e polímeros) demonstraram efeito protetor. O consumo total de polifenóis também foi inversamente associado ao índice cintura-quadril, pressão arterial sistólica e diastólica, HOMA-IR, triglicerídeos e proteína C reativa, enquanto apresentou associação positiva com colesterol total, LDL e HDL.

Implicações e limitações do estudo

Os achados reforçam a importância de dietas ricas em polifenóis, como aquelas baseadas em frutas, vegetais e outros alimentos naturais, na redução do risco cardiometabólico. A adoção de hábitos alimentares que priorizem fontes de polifenóis pode contribuir para estratégias de prevenção da síndrome metabólica e promoção da saúde cardiovascular. Além disso, esses resultados podem subsidiar recomendações nutricionais e políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade alimentar da população brasileira.

Entretanto, algumas ressalvas devem ser consideradas:

  1. O estudo avaliou os hábitos alimentares em um único momento do acompanhamento, o que pode não refletir mudanças ao longo do tempo;
  2. Indivíduos com maior risco cardiometabólico podem ter adotado dietas mais saudáveis no decorrer do estudo, influenciando os resultados;
  3. A ingestão desses alimentos deve ser realizada segundo perfil nutricional:           frutas podem ser consumidas em maiores quantidades, enquanto chocolates e vinhos devem ter seu consumo restrito;
  4. A análise utilizou Odds Ratio (OR) em um estudo longitudinal, enquanto Risco Relativo (RR) ou Hazard Ratio (HR) seriam mais adequados, pois o OR tende a inflacionar os resultados em desfechos comuns.          

Conclusão

Os achados sugerem que o consumo de polifenóis, incluindo aqueles presentes no vinho tinto, pode estar associado a um menor risco de síndrome metabólica e seus componentes. No entanto, o papel do vinho na saúde deve ser avaliado      no contexto de uma alimentação equilibrada e dentro dos limites      de consumo moderado de álcool.

 

 

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