Uma pesquisa recente investigou a relação entre o consumo de polifenóis, presentes em alimentos e bebidas como o vinho, na dieta e o risco de síndrome metabólica em adultos brasileiros. Os achados indicam que uma maior ingestão de polifenóis está associada a menores chances de desenvolver síndrome metabólica, sugerindo que dietas ricas nessas substâncias podem ter um papel protetor contra fatores de risco cardiometabólicos.
Um estudo1 conduzido com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) analisou a associação entre a ingestão de polifenóis (presentes em alimentos como frutas, café, chocolate e vinho) e a incidência de síndrome metabólica, considerando fatores de risco cardiometabólicos. A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco, como obesidade abdominal, hipertensão, colesterol alterado e glicemia elevada, que aumentam a probabilidade de doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde. O tratamento e a prevenção se baseiam em mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, prática de exercícios e controle do peso.
A pesquisa avaliou 6.387 participantes, com idade média de 49,8 anos, dos quais 65% eram mulheres. O consumo alimentar foi estimado por meio de um Questionário de Frequência Alimentar semiquantitativo, e a ingestão de polifenóis foi calculada com base no banco de dados Phenol-Explorer.
A síndrome metabólica foi definida segundo o critério do Joint Interim Statement, e as associações entre ingestão de polifenóis e fatores de risco cardiometabólicos foram avaliadas por regressão logística. Durante um acompanhamento mediano de 8,19 anos, 2.031 participantes desenvolveram síndrome metabólica. Os indivíduos nos tercis mais elevados de consumo total de polifenóis apresentaram menor risco de síndrome metabólica em comparação com aqueles no tercil mais baixo. Após ajuste para fatores sociodemográficos, estilo de vida e dieta, o risco foi 22% menor no segundo tercil e 23% menor no terceiro tercil de ingestão de polifenóis (T2 vs. T1: OR 0,78 [IC95%: 0,68-0,90]; T3 vs. T1: OR 0,77 [IC95%: 0,66-0,90]).
Além disso, foram observadas associações inversas entre o risco de síndrome metabólica e o consumo de ácidos fenólicos, lignanas, estilbenos e outros polifenóis. Embora a ingestão total de flavonoides não tenha apresentado associação significativa, subclasses como flavan-3-óis (monômeros e polímeros) demonstraram efeito protetor. O consumo total de polifenóis também foi inversamente associado ao índice cintura-quadril, pressão arterial sistólica e diastólica, HOMA-IR, triglicerídeos e proteína C reativa, enquanto apresentou associação positiva com colesterol total, LDL e HDL.
Os achados reforçam a importância de dietas ricas em polifenóis, como aquelas baseadas em frutas, vegetais e outros alimentos naturais, na redução do risco cardiometabólico. A adoção de hábitos alimentares que priorizem fontes de polifenóis pode contribuir para estratégias de prevenção da síndrome metabólica e promoção da saúde cardiovascular. Além disso, esses resultados podem subsidiar recomendações nutricionais e políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade alimentar da população brasileira.
Os achados sugerem que o consumo de polifenóis, incluindo aqueles presentes no vinho tinto, pode estar associado a um menor risco de síndrome metabólica e seus componentes. No entanto, o papel do vinho na saúde deve ser avaliado no contexto de uma alimentação equilibrada e dentro dos limites de consumo moderado de álcool.
1. Carnauba RA, Sarti FM, Coutinho CP, Hassimotto NMA, Marchioni DM, Lotufo PA, Bensenor IM, Lajolo FM. Associations between polyphenol intake, cardiometabolic risk factors and metabolic syndrome in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). J Nutr [Internet]. 2024 Nov 26. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.tjnut.2024.11.016.