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O consumo nocivo de álcool pode aumentar as chances de suicídio. Leia mais e saiba o porquê.

 

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio. Veja quais são as recomendações da OMS.

Um recente ensaio clínico conduzido nos Estados Unidos investigou o impacto da semaglutida, um medicamento utilizado para tratar diabetes e obesidade, na redução do consumo de álcool. Os achados sugerem que o uso dessa medicação pode ajudar a diminuir tanto o desejo quanto a quantidade de bebida ingerida, abrindo novas perspectivas para o tratamento do transtorno do uso de álcool (AUD).

 

Uma nova pesquisa1 publicada na JAMA Psychiatry sugere que a semaglutida, um medicamento originalmente desenvolvido para diabetes e obesidade, pode também ter impacto positivo na redução do consumo de álcool. O estudo foi um ensaio clínico randomizado de fase 2 conduzido nos Estados Unidos, envolvendo adultos diagnosticados com transtorno do uso de álcool (AUD). Os resultados mostraram que doses semanais de semaglutida ajudaram a diminuir o consumo de álcool e a redução do desejo por bebidas alcoólicas.

A pesquisa incluiu 48 participantes que não estavam buscando tratamento para o AUD. Eles foram divididos em dois grupos: um recebendo a semaglutida e outro placebo. Após nove semanas de tratamento, os participantes que usaram a semaglutida consumiram significativamente menos álcool do que aqueles no grupo placebo. O estudo também mostrou redução nos episódios de consumo excessivo de álcool (binge drinking) e diminuição do desejo de beber.

Como a semaglutida pode influenciar o consumo de álcool?

A semaglutida pertence a uma classe de medicamentos chamados agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1RAs), que afetam a regulação do apetite e o sistema de recompensa no cérebro. Estudos pré-clínicos já haviam sugerido que os GLP-1RAs poderiam influenciar o comportamento de consumo de álcool, reduzindo a sensação de prazer associada à bebida.

No estudo clínico, os participantes tratados com semaglutida apresentaram menor consumo de álcool quando submetidos a um teste laboratorial de auto-administração de bebidas. Os pesquisadores também observaram que a semaglutida não afetou diretamente o número de dias em que os participantes bebiam, mas reduziu a quantidade ingerida por dia de consumo.

Possíveis implicações clínicas

Embora os resultados sejam promissores, os autores destacam que estudos de maior escala são necessários para confirmar os achados e avaliar a segurança do uso prolongado da semaglutida para tratar o AUD. Atualmente, menos de 10% dos indivíduos com transtorno do uso de álcool recebem tratamento farmacológico. Se confirmada sua eficácia, a semaglutida pode      se tornar uma nova opção para pessoas que buscam reduzir o consumo de álcool sem      se abster completamente.

O que isso significa para quem deseja reduzir o consumo de álcool?

Se você tem preocupação com o seu padrão de consumo de álcool, é importante conversar com um profissional de saúde antes de considerar qualquer medicamento. O estudo sugere que a semaglutida pode ajudar a reduzir o consumo de álcool, mas não é uma solução universal. Outras abordagens, como terapia cognitivo-comportamental e suporte social, continuam sendo fundamentais para o manejo do AUD.

Com mais pesquisas, a semaglutida pode representar uma opção terapêutica inovadora no futuro. Por enquanto, a melhor estratégia para manter um consumo equilibrado de álcool continua sendo o autoconhecimento, a moderação e o apoio especializado.

 

 

O uso nocivo de álcool é um fator de risco conhecido para diversas formas de comportamento impulsivo e violento, incluindo suicídio. Um estudo observacional conduzido no Brasil analisou a relação entre níveis de álcool no sangue e casos de suicídio em municípios da região metropolitana de São Paulo, revelando associações entre o consumo de álcool e mortes por suicídio.

 

Um estudo recente1 com dados do Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo (IML-SP) e publicado na revista Forensic Science, Medicine and Pathology investigou a relação entre o consumo de álcool e suicídios em quatro municípios da Grande São Paulo: Franco da Rocha, Caieiras, Mairiporã e Francisco Morato. A pesquisa analisou dados de 805 necropsias realizadas entre 2001 e 2017, das quais 41 casos foram identificados como suicídio. O objetivo foi avaliar a presença de álcool no sangue dos indivíduos e sua possível influência no ato suicida.

Os resultados mostraram que 92,68% das vítimas de suicídio apresentaram concentrações elevadas de álcool no sangue (acima de 0,3 mg/dl), com médias particularmente altas em casos de enforcamento (2,3 mg/ml). Além disso, os dados indicaram que a maioria das vítimas era do sexo masculino (85,36%), predominantemente jovens adultos entre 18 e 23 anos. Entre as mulheres, a faixa etária mais afetada foi de 12 a 23 anos, destacando um padrão preocupante de vulnerabilidade entre adolescentes.

Os pesquisadores também observaram que o uso de métodos mais letais, como armas de fogo e objetos cortantes, estava associado a níveis mais elevados de álcool no sangue. Esses achados reforçam a hipótese de que o consumo nocivo de álcool pode aumentar a impulsividade e reduzir as inibições contra comportamentos autodestrutivos.

Com base nos achados, algumas recomendações são importantes:

  1. Prevenção e conscientização: Programas de prevenção ao suicídio devem incluir estratégias para tratar o uso nocivo de álcool, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, que são grupos de maior risco.
  2. Restrição ao acesso a meios letais: Medidas como o controle de acesso a armas de fogo, pesticidas e medicamentos neurotrópicos podem reduzir a letalidade dos métodos utilizados em tentativas de suicídio.
  3. Uso de biomarcadores periféricos: A triagem de indivíduos com ideação suicida utilizando biomarcadores periféricos (substâncias biológicas em fluidos corporais que indicam processos fisiológicos, doenças ou respostas a tratamentos) pode ser uma ferramenta valiosa para identificar aqueles em risco.
  4. Proteção em espaços públicos: Construções como viadutos e pontes devem ser projetadas com medidas de segurança para prevenir quedas intenciona

Essas recomendações são particularmente relevantes para regiões com alta desigualdade socioeconômica, onde o consumo de álcool e os índices de suicídio tendem a ser mais elevados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que a prevenção do uso nocivo de álcool é um fator importante que pode contribuir significativamente para a redução das taxas de suicídio.

 

 

 

Uma pesquisa recente investigou a relação entre o consumo de polifenóis, presentes em alimentos e bebidas como o vinho, na dieta e o risco de síndrome metabólica em adultos brasileiros. Os achados indicam que uma maior ingestão de polifenóis está associada a menores chances de desenvolver síndrome metabólica, sugerindo que dietas ricas nessas substâncias podem ter um papel protetor contra fatores de risco cardiometabólicos.

 

Um estudo1 conduzido com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) analisou a associação entre a ingestão de polifenóis (presentes em alimentos como frutas, café, chocolate e vinho) e a incidência de síndrome metabólica, considerando fatores de risco cardiometabólicos. A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco, como obesidade abdominal, hipertensão, colesterol alterado e glicemia elevada, que aumentam a probabilidade de doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde. O tratamento e a prevenção se baseiam em mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, prática de exercícios e controle do peso.

A pesquisa avaliou 6.387 participantes, com idade média de 49,8 anos, dos quais 65% eram mulheres. O consumo alimentar foi estimado por meio de um Questionário de Frequência Alimentar semiquantitativo, e a ingestão de polifenóis foi calculada com base no banco de dados Phenol-Explorer.

Principais achados

A síndrome metabólica foi definida segundo o critério do Joint Interim Statement, e as associações entre ingestão de polifenóis e fatores de risco cardiometabólicos foram avaliadas por regressão logística. Durante um acompanhamento mediano de 8,19 anos, 2.031 participantes desenvolveram síndrome metabólica. Os indivíduos nos tercis mais elevados de consumo total de polifenóis apresentaram menor risco de síndrome metabólica em comparação com aqueles no tercil mais baixo. Após ajuste      para fatores sociodemográficos, estilo de vida e dieta, o risco foi 22% menor no segundo tercil e 23% menor no terceiro tercil de ingestão de polifenóis (T2 vs. T1: OR 0,78 [IC95%: 0,68-0,90]; T3 vs. T1: OR 0,77 [IC95%: 0,66-0,90]).

Além disso, foram observadas associações inversas entre o risco de síndrome metabólica e o consumo de ácidos fenólicos, lignanas, estilbenos e outros polifenóis. Embora a ingestão total de flavonoides não tenha apresentado associação significativa, subclasses como flavan-3-óis (monômeros e polímeros) demonstraram efeito protetor. O consumo total de polifenóis também foi inversamente associado ao índice cintura-quadril, pressão arterial sistólica e diastólica, HOMA-IR, triglicerídeos e proteína C reativa, enquanto apresentou associação positiva com colesterol total, LDL e HDL.

Implicações e limitações do estudo

Os achados reforçam a importância de dietas ricas em polifenóis, como aquelas baseadas em frutas, vegetais e outros alimentos naturais, na redução do risco cardiometabólico. A adoção de hábitos alimentares que priorizem fontes de polifenóis pode contribuir para estratégias de prevenção da síndrome metabólica e promoção da saúde cardiovascular. Além disso, esses resultados podem subsidiar recomendações nutricionais e políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade alimentar da população brasileira.

Entretanto, algumas ressalvas devem ser consideradas:

  1. O estudo avaliou os hábitos alimentares em um único momento do acompanhamento, o que pode não refletir mudanças ao longo do tempo;
  2. Indivíduos com maior risco cardiometabólico podem ter adotado dietas mais saudáveis no decorrer do estudo, influenciando os resultados;
  3. A ingestão desses alimentos deve ser realizada segundo perfil nutricional:           frutas podem ser consumidas em maiores quantidades, enquanto chocolates e vinhos devem ter seu consumo restrito;
  4. A análise utilizou Odds Ratio (OR) em um estudo longitudinal, enquanto Risco Relativo (RR) ou Hazard Ratio (HR) seriam mais adequados, pois o OR tende a inflacionar os resultados em desfechos comuns.          

Conclusão

Os achados sugerem que o consumo de polifenóis, incluindo aqueles presentes no vinho tinto, pode estar associado a um menor risco de síndrome metabólica e seus componentes. No entanto, o papel do vinho na saúde deve ser avaliado      no contexto de uma alimentação equilibrada e dentro dos limites      de consumo moderado de álcool.

 

 

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© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool