O estudo1, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, teve como objetivo estimar os custos econômicos do consumo de álcool no Brasil, abordando tanto os custos diretos quanto os indiretos para a sociedade. Utilizando dados de saúde pública e da literatura científica, a pesquisa estimou os impactos financeiros do consumo de álcool no país em 2019.
Os principais achados indicaram que os custos totais atribuíveis ao consumo de álcool variaram entre R$10,1 bilhões e R$18,8 bilhões. Esses custos foram divididos em custos diretos, como hospitalizações e procedimentos ambulatoriais, que ficaram entre R$483 milhões e R$1,1 bilhão, e custos indiretos, estimados entre R$9,7 bilhões e R$17,7 bilhões, que incluem perda de produtividade devido a absenteísmo, mortes prematuras e gastos da previdência social. Além disso, foram calculadas as mortes atribuíveis ao álcool, estimadas entre 47,9 mil e 104,8 mil no ano.
Outro ponto de destaque para a análise é a prevalência crescente do consumo de álcool entre brasileiros, com aumento acentuado entre as mulheres e início precoce na adolescência, o que gera uma carga significativa de doenças e morte. Doenças cardiovasculares, cânceres e acidentes relacionados ao consumo de álcool são algumas das principais causas das hospitalizações e mortes atribuíveis. Para embasar estes pontos, o estudo utiliza dados da PNS 2019, Vigitel, Datasus e Organização Mundial da Saúde (OMS). Cabe ressaltar que estes dados sobre o aumento do consumo de álcool ao longo dos anos são importantes, ainda que o presente estudo tenha focado apenas no ano de 2019. Desta forma, a análise de custos é colocada sob a perspectiva de que tais gastos só tendem a aumentar.
O estudo apresenta uma série de limitações referentes ao modelo estatístico utilizado, mas que, diante dos dados atualmente disponíveis, incorporam as melhores evidências e aproximações para adequar a análise à população brasileira. Outro ponto é que os dados de morbidade e mortalidade foram obtidos do Datasus, do Ministério da Saúde, podendo estar subestimando a real dimensão dos problemas associados ao consumo de álcool, especialmente nos casos em que o álcool pode não ser registrado como a causa direta de hospitalização. Em termos de custos, não foi possível estimar o custo direto da atenção primária à saúde, e o custo das famílias; o custo indireto de variáveis como o “presenteísmo” também não foi incorporado. A despeito disso, deve-se salientar que a análise é sólida e respaldada pela literatura científica.
Em suma, os achados evidenciam uma elevada carga econômica e social do consumo de álcool no Brasil, sugerindo a necessidade de políticas públicas para controle do uso nocivo, como as apresentadas pela OMS em 2018 por meio da iniciativa SAFER.