English Version

Pesquisa mundial associa álcool ao aumento do risco de câncer de pâncreas

17 Junho 2025

Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema, envolvendo mais de 2,4 milhões de pessoas ao redor do mundo, confirma que o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver câncer de pâncreas. A pesquisa, que acompanhou participantes por mais de 15 anos, mostrou que mesmo quantidades moderadas de álcool podem elevar as chances da doença, independentemente de a pessoa fumar ou não.

 

Um estudo internacional 1 publicado na revista científica PLOS Medicine analisou dados de mais de 2,4 milhões de pessoas de 30 países diferentes para entender melhor a relação entre o consumo de álcool e o câncer de pâncreas. Durante um acompanhamento de mais de 15 anos, os pesquisadores registraram mais de 10 mil casos da doença. Embora a relação entre o álcool e a pancreatite, um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pâncreas, já fosse bem estabelecida, a associação direta entre este tipo de câncer e a substância ainda tinha evidências limitadas ou inconclusivas. 

O que a pesquisa descobriu

Os resultados mostraram que para cada dose adicional de álcool consumida diariamente (equivalente a cerca de 10g de álcool puro), o risco de câncer de pâncreas aumenta em 3%. Para colocar isso em perspectiva, 10g de álcool correspondem aproximadamente a:

  • 1 lata pequena de cerveja (269 ml)
  • 1 taça pequena de vinho (100ml)
  • 1 dose de destilado (30 ml de whisky, vodka, etc.)

Para as mulheres: Quem consome entre 1-2 doses por dia tem 12% mais chances de desenvolver a doença, comparado a quem bebe muito pouco.

Para os homens: O risco aumenta 15% para quem consome 2-4 doses diárias, e salta para 36% entre aqueles que bebem mais de 4 doses por dia.

Álcool e cigarro: uma combinação perigosa, mas não só

Uma descoberta importante do estudo é que o álcool aumenta o risco de câncer de pâncreas mesmo em pessoas que nunca fumaram. Isso significa que não é apenas a combinação álcool + cigarro que é perigosa - o álcool sozinho já representa um risco.

Os pesquisadores encontraram praticamente o mesmo aumento de risco em:

  • Pessoas que nunca fumaram
  • Ex-fumantes
  • Fumantes atuais

Nem todas as bebidas são iguais

Outro achado interessante foi que diferentes tipos de bebida alcoólica parecem ter efeitos distintos:

Cerveja e destilados (whisky, vodka, cachaça): Aumentaram o risco de câncer de pâncreas.

Vinho: Não mostrou associação significativa com a doença, possivelmente devido aos compostos benéficos presentes na bebida, como os polifenóis. 

Diferenças pelo mundo

O estudo também revelou diferenças geográficas interessantes. O aumento do risco foi observado principalmente em:

  • Europa e Austrália
  • América do Norte (incluindo o Brasil)

Já nos países asiáticos, não foi encontrada essa associação, provavelmente porque muitas pessoas nessas regiões têm uma variação genética que as torna menos tolerantes ao álcool, fazendo com que bebam menos. 

O que isso significa na prática

O câncer de pâncreas é uma das formas mais agressivas da doença, com baixas taxas de sobrevivência. Por isso, entender os fatores de risco é fundamental para a prevenção.

Principais pontos para lembrar:

  • Mesmo o consumo moderado de álcool pode aumentar o risco
  • O risco cresce conforme aumenta a quantidade consumida
  • Mulheres parecem ser mais sensíveis, com riscos aumentados a partir de 1-2 doses diárias
  • Para homens, o risco fica mais evidente a partir de 2-3 doses diárias

Limitações do estudo

É importante mencionar que o estudo teve algumas limitações:

  • Analisou apenas o consumo de álcool em um momento específico, não ao longo de toda a vida
  • Não considerou padrões específicos de consumo, como "beber pesado" nos fins de semana
  • Baseou-se no que as pessoas relataram beber, o que pode ser subestimado

 

Conclusão

Esta pesquisa revela que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, é um fator de risco modificável para o câncer de pâncreas. É importante estar atento a esses riscos, especialmente se você apresenta outros fatores predisponentes, como tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2, pancreatite crônica ou histórico familiar da doença.

 

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Naudin S, Wang M, Dimou N, et al. Consumo de álcool e risco de câncer de pâncreas: Uma análise de 30 estudos prospectivos da Ásia, Austrália, Europa e América do Norte. PLoS Med. 2025;22(5):e1004590.

Assine o nosso Boletim

© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool