A hepatite C crônica é uma causa comum de doença hepática de estágio final e cirrose, afora o fato de ser a causa principal de transplante de fígado. Ao mesmo tempo, o seu tratamento tem se tornado cada vez mais eficiente. Chama a atenção, no entanto, o fato de grande parte dos ensaios clínicos excluírem de suas amostras pacientes que fazem uso de drogas, em especial de álcool. É de praxe entre os médicos requerer a seus pacientes ao menos 6 meses de abstinência alcoólica antes do início do tratamento anti-viral. Vale salientar que o uso abusivo de álcool e o vírus da hepatite C costumam coexistir no mesmo paciente. Apesar disso, pouco se sabe sobre a aderência ao tratamento de hepatite C nesse perfil de pacientes e sobre os resultados desse uso de álcool no tratamento farmacológico combinado de interferon e ribavirin da hepatite C.
Isso posto, os autores acompanharam o tratamento anti-viral de 726 pacientes com o vírus da hepatite C. Essa amostra foi selecionada a partir de um total de 4061 sujeitos. O uso de álcool e/ou outras drogas foi o principal motivo de exclusão da amostra. Em seguida, todos os pacientes foram instruídos a parar de beber, sendo excluídos da amostra aqueles que se recusaram a seguir as instruções. Os sujeitos foram divididos em 3 grupos quanto ao padrão de consumo de álcool: abstêmios, bebedores moderados (<6 doses por dia) e bebedores pesados (>6 doses por dia). O tempo de duração da farmacoterapia foi de 24-48 semanas.
Os autores constataram que o uso de álcool foi extremamente comum na amostra analisada, com 80% dos sujeitos bebendo de maneira regular no passado e 27% bebendo no ano anterior ao início do estudo. Observou-se que o uso de álcool teve impacto significativamente negativo na seleção dos candidatos para o tratamento. Contudo, o uso de álcool não teve qualquer impacto no desempenho do tratamento ou até mesmo em seu abandono para aqueles pacientes que se mantiveram abstinentes por ao menos 1 ano antes de seu início. Vale salientar que entre os bebedores recentes (uso de álcool nos 12 meses que precederam o estudo) houve abandono de tratamento significativamente maior do que entre demais pacientes. Ou seja, os autores constataram que os médicos tendem a ser mais cautelosos em tratar pacientes com hepatite C e com histórico de uso de álcool (mesmo após 1 ano de abstinência). Entretanto, os pacientes com esse perfil atingiram a mesma efetividade ao fim do tratamento, com apenas uma maior taxa de abandono do que os abstêmios.