Com o aumento dos casos de obesidade nos Estados Unidos, a cirurgia bariátrica, também chamada de cirurgia de perda de peso (Weight Loss Surgery – WLS), se tornou um procedimento cada vez mais comum, sendo considerada como o tratamento mais eficaz e duradouro para casos de obesidade mórbida. Embora a cirurgia diminua a mortalidade desses pacientes a longo prazo e haja baixa incidência de efeitos adversos a curto prazo, diversos relatos na literatura relacionam este procedimento a um aumento no risco para o desenvolvimento de transtornos relacionados ao uso do álcool (abuso ou dependência)1,2.
Existe alguns preditores que indicam maior risco de consumo abusivo após a cirurgia bariátrica. Um estudo acompanhou 567 pacientes que passaram por esse procedimento cirúrgico, analisando consumo de álcool e outras variáveis antes e depois da cirurgia. De maneira geral, os autores apontam que pessoas mais jovens e com histórico pré-cirúrgico de consumo nocivo de álcool são mais predispostas ao consumo nocivo de álcool pós-cirúrgico. Nesse sentido, quanto maiores a frequência e a quantidade de consumo de álcool antes da cirurgia, maior a chance de engajamento em consumo nocivo depois3.
Um estudo realizado por Spadola e colaboradores4, revelou quatro motivos que levavam a um aumento no uso de álcool após este tipo de procedimento cirúrgico: (1) aumento da sensibilidade à intoxicação alcoólica; (2) uso do álcool como um mecanismo de substituição para os alimentos; (3) aumento da socialização envolvendo o consumo de álcool e (4) uso do álcool como um mecanismo de enfrentamento. Dentre os participantes, 75% descreveram aumento na sensibilidade ao álcool após a cirurgia. Mais da metade (58,3%) usou álcool para lidar com o estresse, ansiedade, depressão, tédio, ajudar no sono e para lidar com a fome. Motivos físicos para substituir o álcool por comida também foram relatados. Comer em excesso após a cirurgia bariátrica pode produzir sensação de desconforto físico5 e alimentos açucarados podem promover náuseas, também chamadas de síndrome de dumping6. Muitos participantes (66,7%) relataram um aumento nas oportunidades de socializar, incluindo os contextos sociais associados ao uso de álcool.
A compreensão dos impulsionadores do uso de álcool após a cirurgia bariátrica é importante para o desenvolvimento de intervenções de aconselhamento pré e pós-cirúrgicas para abordar essa preocupação emergente. O estudo de populações específicas, como jovens adultos e minorias étnicas, que têm sido cada vez mais submetidos a esse tipo de procedimento, também é de extrema importância, já que podem estar sujeitos a um maior risco de problemas relacionados ao uso de álcool. De maneira geral, esses grupos são sub-representados nas amostras de estudos sobre esse tema.
O modelo explicativo de transtorno relacionado ao uso de álcool pós-operatório de Yoder e colaboradores, e consistente com outros estudos, indica que os problemas com álcool, tipicamente, não aparecem até 2 anos pós-cirurgia, o chamado período de lua-de-mel1,7. A troca da comida pela bebida funciona como uma estratégia de enfrentamento e também pode explicar por que alguns pacientes sem abuso ou dependência de álcool pré-operatório desenvolvem problemas após a cirurgia8,9.