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Tira-dúvidas sobre consumo de álcool

24 Junho 2015

O que é beber demais? Beber com estômago vazio faz diferença? O que é ressaca? O CISA responde essas e outras dúvidas. Fique por dentro!

Sabe aquelas dúvidas que você sempre teve sobre consumo de bebidas alcoólicas e não sabia as respostas? Selecionamos algumas mais frequentes para esclarecer e ajudar a ter uma postura mais consciente, evitando hábitos que podem levar a consequências negativas do uso de álcool.

1. Existe um nível seguro para o consumo bebidas alcoólicas? Afinal de contas, beber demais é beber quanto?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que não existe um nível seguro para o consumo, visto que há indivíduos adultos que, mesmo consumindo o álcool moderadamente, estarão mais vulneráveis a apresentar problemas decorrentes do beber ao longo da vida.

Os riscos de problemas de saúde aumentam especialmente se o indivíduo:

  • bebe mais de 2 doses* por dia;
  • não deixa de beber ao menos 2 dias na semana.

A OMS ainda recomenda que não sejam consumidas bebidas alcoólicas se a pessoa:

  • estiver grávida ou amamentando;
  • for dirigir, operar máquinas ou realizar outras atividades que envolvam riscos;
  • apresentar problemas de saúde que possam ser agravados pelo álcool;
  • fizer uso de medicamento que interage diretamente com o álcool;
  • não conseguir controlar o seu consumo.

O uso de álcool também é contraindicado para crianças e adolescentes, uma vez que seu sistema nervoso central ainda está em desenvolvimento e, portanto, mais suscetível a danos que podem comprometer importantes funções.

2. Para algumas pessoas um copo já é muito, enquanto outras conseguem beber muito e não sentem nada de diferente. Por que isso acontece?

Os efeitos do álcool na saúde são complexos devido à influência de diversos fatores individuais (vulnerabilidade genética, estrutura física, gênero, idade, estado de saúde), e também variam de acordo com diferentes aspectos do beber, como padrão de consumo (volume e frequência), expectativas associadas, contextos relacionados à ingestão de bebidas alcoólicas (se bebe durante as refeições, por exemplo) e se o indivíduo, justamente por beber em excesso, já apresenta tolerância.

A tolerância é um dos sintomas que podem configurar um quadro de dependência ou surgir em quadros de abuso e se caracteriza pela ingestão de quantidades cada vez maiores para obter os mesmos efeitos do álcool ou quando a mesma quantidade de costume ingerida já não oferece os mesmos sintomas de antes.

Vale ressaltar também conhecidas diferenças entre os gêneros. As mulheres são mais sensíveis aos efeitos do álcool do que os homens e tendem a eliminá-lo mais lentamente devido a alguns aspectos fisiológicos, como composição corporal com proporcionalmente menos água e níveis mais baixos das enzimas que metabolizam o álcool, em comparação aos homens.

Além disso, as pesquisas têm avançado com relação à variação dos efeitos do álcool, e recentemente foi descrita uma característica individual que é bastante influenciada por aspectos genéticos chamada nível de resposta ao álcool. Com essa perspectiva, entende-se que uns indivíduos são mais ou menos sensíveis aos efeitos do álcool, e por essa razão tendem ao consumo de menos ou mais doses, respectivamente.

3. Consumir vários tipos de bebidas em uma única ocasião pode leva à embriaguez mais rapidamente que o consumo de apenas um tipo?

Não há comprovação de que a mistura de diferentes tipos de bebidas alcoólicas, como cerveja, vinho e destilados, leve à embriaguez mais rapidamente que o consumo de apenas um tipo de bebida. Sabemos que é o nível de álcool no sangue que determina o nível de sobriedade ou intoxicação alcoólica do indivíduo, ou seja, a quantidade de doses ingeridas, independente do tipo de bebida, é que vai determinar a quantidade de álcool em seu sangue. Uma taça de vinho (100 ml), uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilado (30 ml) contém aproximadamente a mesma quantidade de álcool (10 a 12 g). Assim, entende-se que a embriaguez será a mesma se o indivíduo ingerir quantidades de álcool equivalentes de um ou mais de um tipo de bebida.

4. Bebidas mais doces (por exemplo, misturadas com leite condensado ou frutas) deixam a pessoa mais ou menos embriagada?

A mistura de substâncias doces (por exemplo: refrigerante, frutas ou adoçantes) às bebidas alcoólicas ajuda a "mascarar" o sabor do etanol, fazendo com que a combinação se torne mais doce e palatável, o que pode contribuir para maior consumo (frequência e quantidade). Entretanto, uma questão que vem sendo estudada mais recentemente envolve a diferença entre bebidas diet’ adoçadas e as que contêm açúcar. A absorção do álcool na presença de açúcar, semelhante ao que ocorre quando se consome bebidas alcoólicas com alimentos, é mais lenta pelo estômago, de forma que a ingestão de bebidas diet misturadas ao álcool implica em concentrações no sangue mais altas, o que está diretamente relacionado à embriaguez.

5. Existe alguma diferença entre beber com o estômago vazio e estômago cheio?

Sim, pois diversos fatores influenciam no processo de absorção do álcool, inclusive a presença e o tipo de alimento. A taxa de absorção do álcool depende da rapidez com que o estômago esvazia seu conteúdo no intestino; por isso, quanto maior o teor de gordura da dieta, mais tempo será necessário para o esvaziamento do estômago e, consequentemente, mais lento será o processo de absorção do álcool. Por isso, quando o estômago está vazio, a absorção do álcool é mais rápida. Por exemplo, um estudo mostrou que indivíduos que consumiam álcool após uma refeição contendo gordura, proteína e carboidratos absorviam o álcool 3 vezes mais devagar do que quando bebiam de estômago vazio.

6. O que é a ressaca? Quais os principais sintomas?

A ressaca se associa à intoxicação aguda e corresponde ao período em que o organismo reage à abstinência, ou seja, à falta do álcool com o desenvolvimento de sintomas desagradáveis. Inicia-se cerca de 6 a 8 horas após o consumo (período em que a concentração de álcool no sangue diminui e retorna a zero, em média) e pode durar até 24 horas. Ela é caracterizada por efeitos físicos e mentais adversos, com sensação de “mal-estar”, sendo os mais comuns: dor de cabeça, problemas de concentração, boca seca, tontura, desconfortos ligados ao sistema digestivo (queimação, enjoos, diarreia ou constipação), cansaço, tremores, sudorese, sonolência, ansiedade, e irritabilidade. No entanto, há uma variação muito grande desses sintomas (de pessoa para pessoa e de ocasião para ocasião). Com a “ressaca”, ocorrem mudanças fisiológicas significativas em parâmetros endócrinos (aumento nas concentrações de vasopressina, aldosterona e renina), além de acidose metabólica (redução do pH do sangue devido ao aumento de lactato, corpos cetônicos e ácidos graxos livres). Estes efeitos são também relacionados com a desidratação, com maior sede e sensação de boca seca.

Como o álcool induz a desidratação é essencial reidratar-se especialmente durante e após o consumo. Estima-se que a cada 50 g de álcool ingeridos (aproximadamente 4 doses) sejam eliminados de 600 a 1000 ml de água em algumas horas. A causa deste efeito reside no efeito diurético que o álcool exerce ao diminuir a concentração de vasopressina, ou hormônio antidiurético, aumentando a eliminação de água na urina, que fica na sua forma mais diluída.

* Uma dose padrão contém aproximadamente de 10 g a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml) ou uma dose de destilados (30 ml) ou ainda a uma taça de vinho (100 ml).

Additional Info

  • Referências:

    OMS, 2010. Self-help strategies for cutting down or stopping substance use: a guide. Genebra: OMS.
    NIAAA, 2010. Beyond Hangovers: understanding alcohol’s impact on your health. NIH Publication No. 13–7604. Disponível em: http://pubs.niaaa.nih.gov/publications/Hangovers/beyondHangovers.pdf.
    NIAAA. Overview of Alcohol Consumption. Disponível em: http://www.niaaa.nih.gov/alcohol-health/overview-alcohol-consumption.
    NIAAA, 1997. Alcohol Alert nº 35 – Alcohol Metabolism. Disponível em: http://pubs.niaaa.nih.gov/publications/aa35.htm.
    Jones AW, Jönsson KA, 1994. Food-induced lowering of blood-ethanol profiles and increased rate of elimination immediately after a meal. J Forensic Sci 39(4):1084-93.
    Paton A, 2005. ABC of alcohol: Alcohol in the body. BMJ, 330:85-87.
    Prat G, Adan A, Sánchez-Turet M, 2009. Alcohol hangover: a critical review of explanatory factors. Hum Psychopharmacol Clin Exp 24:259-267.
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    Marczinski CA, Fillmore MT, 2013. Letter to the Editor in Response to The Alcohol Mixed with Energy Drinks Debate: Masking the Facts!. Alcoholism: Clinical and experimental research, 37(4), 706-708.

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