A geração Z engloba os nascidos entre 1995 e 2010 (hoje com idade entre 12 e 28 anos). É a geração que cresceu junto à Internet, caracterizada pelo domínio das novas tecnologias. Trata-se de um grupo popularmente - e talvez até um pouco pejorativamente - conhecido como a "geração do quarto" por passarem muito tempo isolados e em frente às telas, recebendo uma grande quantidade de informações e estabelecendo conexões superficiais, geralmente às custas de um empobrecimento da interação cotidiana mais profunda com os familiares e pessoas próximas.
Pesquisas de todo o mundo, especialmente em países de alta renda, têm apontado que o consumo de álcool entre os jovens da geração Z está diminuindo tanto por conta de uma maior abstenção nessa faixa etária quanto por uma redução do consumo. Assim, há importantes indícios de que os jovens estão escolhendo beber menos e aqueles que o fazem tendem a começar mais tarde, bebem com menos frequência, consomem em quantidades menores e são menos propensos a se embriagar1.
Um estudo realizado no Reino Unido2 apontou que, em 2019, a geração com 16 a 25 anos de idade era a mais abstêmia — 26% deles não bebiam, em comparação com 15% entre a geração que mais bebe (55 a 74 anos de idade). Entre os norte-americanos, outro estudo indicou que o número de abstêmios em idade universitária aumentou de 20% para 28% em uma década3.
Já no que diz respeito à quantidade e frequência de consumo, recentemente, um estudo do National Institute on Drug Abuse (NIDA) mostrou que, nos Estados Unidos, houve uma redução de consumo de álcool e drogas pela população mais jovem (13 a 20 anos)4. Entre a faixa etária dos 18 aos 20 anos, por exemplo, a prevalência do consumo abusivo (binge drinking) diminuiu de 10,7% a 8,8% entre 2019 e 2020. Contudo, os pesquisadores mencionaram que esta redução já era observada antes da pandemia, endossando a hipótese de que é uma tendência estável entre os mais jovens, e não apenas uma condição de restrição de socialização imposta pela pandemia.
No Brasil, a análise do CISA com base nos dados do Vigitel (2021) – Sistema de Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – mostrou que o consumo abusivo entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 19,3%, menor índice desde 20155. Entre os homens o consumo foi de 22,1%, menor incidência desde 2006; já entre as mulheres, a incidência foi de 16,1%, uma das menores em todo o período do levantamento (2006-2021). Contudo, por se tratar de um levantamento realizado durante o período da pandemia, ainda não é possível afirmar se essa diminuição de consumo é uma mudança de comportamento ou um evento temporário causado pela pandemia (devido a diminuição de socialização). A PeNSE (2019) – Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – por exemplo, mostrou que entre os escolares com idade de 13 a 17 anos há uma estabilidade com relação ao consumo de álcool em comparação às pesquisas anteriores, com aumento da experimentação de álcool entre as meninas desta faixa etária6 , reforçando a necessidade de mais dados para confirmar as tendências de consumo de álcool entre jovens no Brasil.
Quais seriam os motivos para a geração Z beber menos?
É possível inferir algumas razões das quais esta geração “talvez” não esteja “tão interessada” pelo álcool:
- Maior conscientização sobre os efeitos nocivos do álcool.
- Mudanças na estrutura familiar que fizeram com que os adolescentes tivessem uma comunicação mais aberta com os pais sobre assuntos relacionados ao álcool.
- Mudanças nas normas sociais e culturais, fazendo com que as atitudes dos adolescentes se tornassem menos tolerantes em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.
- Movimentos como o Mindful Drinkers (tradução livre “bebedores conscientes”) e Sober Curious (tradução livre “interessados em estar sóbrios”) que estimulam a auto-observação por meio da pausa ou diminuição do consumo.
- Ficar sóbrio por motivos de saúde física e mental, e sem estigma.
O álcool (ainda) é uma substância que chama a atenção dos jovens e adolescentes pois, tradicionalmente, está relacionado com o rito de passagem para a vida adulta e funciona como um “lubrificante social” em diversas situações. E por se tratar de um período chave para experimentação e tomada de riscos, é particularmente um momento arriscado para o consumo, não apenas por conta do impacto que o álcool pode ter no desenvolvimento cerebral do jovem, mas também devido ao perigo da iniciação precoce, que aumenta o risco de consumo abusivo e dependência no futuro1. Assim, dados como estes são importantes (e animadores) com relação à perspectiva da prevenção do consumo abusivo de álcool por jovens, principalmente para a saúde pública. Contudo, é um tema sensível e que ainda requer mais pesquisas em diferentes regiões, atenção das autoridades, profissionais da saúde, pais e educadores.
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