Entre 2015 e 2050, a proporção da população mundial acima de 60 anos quase dobrará, passando de 12% para 22% e ultrapassando a população de crianças com menos de 5 anos1. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios do IBGE mostram que a população brasileira acompanha esta tendência: o grupo das pessoas de 60 anos ou mais de idade passou de 12,8% da população residente total em 2012 para 15,4% em 2018.
Biologicamente, o envelhecimento leva a uma diminuição gradual da capacidade física e mental, e um risco crescente de doenças. Mas essas mudanças não são lineares e variam amplamente de uma pessoa para outra1.
Os riscos de declínio na saúde e no funcionamento nesta fase da vida são influenciados por fatores genéticos, alimentação e estilo de vida – incluindo atividades físicas, descanso apropriado e relações saudáveis em âmbito pessoal e profissional. Os laços sociais e de pertencimento, a presença de uma rede de apoio e a participação em atividades sociais estariam relacionados a uma melhor saúde mental entre idosos3. Por outro lado, o isolamento ou a perda das relações sociais demonstram implicações para o declínio na cognição e humor, bem como uma piora no funcionamento do sistema imunológico, aumento do risco de desenvolver depressão e abusar no consumo de álcool3. Na renomada revista The Lancet Public Health, Ziggi Ivan Santini e colegas publicaram estudo mostrando as relações bidirecionais entre depressão ou ansiedade e isolamento social, a partir de uma amostra de 3005 pessoas nascidas entre 1920 e 19472 (com 57 a 85 anos de idade no início do estudo).
Além dos sintomas de ansiedade e depressão, outra preocupação nesse contexto é o abuso de álcool, que figura como o 7º maior fator de risco para a carga total de doenças entre indivíduos de 50 a 69 anos e o 10º para indivíduos maiores de 70 anos (GBD,2010). O Panorama sobre Saúde e Álcool elaborado pelo CISA3 mostrou que a faixa etária de 55 anos ou mais compõe, a cada ano, maior parcela do total de internações atribuíveis ao álcool, passando de 26% para 36%, entre 2010 e 2018. Quanto aos óbitos, em 2017, 48,2% daqueles relacionados ao uso de álcool ocorreram em pessoas com 55 ou mais anos de idade. É importante lembrar que o envelhecimento torna o corpo menos apto a metabolizar o álcool e com maior propensão à desidratação. Além disso, o álcool pode interferir no efeito de diversas medicações e seu abuso crônico está associado ao aumento do risco para várias doenças3.
A pandemia recente de COVID-19 e o isolamento social imposto pela quarentena intensificaram a gravidade desse cenário de maior vulnerabilidade dos idosos. Especialistas recomendam atenção especial para a situação dessa população, por ser mais afetada pelo vírus e que pode sofrer maiores impactos em razão do isolamento, incluindo uma piora dos sintomas depressivos e abuso de álcool, repercutindo negativamente na saúde como um todo. O isolamento afeta particularmente os idosos cujo único contato social está fora de casa, como em instituições filantrópicas, centros comunitários e locais de culto4. Aqueles que não têm familiares ou amigos próximos e dependem do apoio de serviços voluntários ou assistência social podem ser colocados em risco adicional, juntamente com aqueles que já viviam sozinhos. Nesse sentido, especialistas propõem que as tecnologias online sejam aproveitadas para fornecer redes de apoio social e um sentimento de pertencimento a essas pessoas4. Nos casos em que o acesso às tecnologias digitais é comprometido, as intervenções podem ocorrer por meio de contato telefônico frequente com pessoas importantes para o idoso, incluindo familiares e amigos próximos, organizações voluntárias ou profissionais de saúde, de modo a diminuir a solidão e melhorar o bem-estar geral4.