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COVID-19: Potenciais implicações para indivíduos com transtornos por uso de substâncias

23 Março 2020

Pessoas com transtornos por uso de substâncias podem ser mais vulneráveis ao coronavírus.

A comunidade deve estar alerta para a possibilidade de maior vulnerabilidade das pessoas com transtornos por uso de substância ao novo coronavírus (SARS-CoV-2, causador da COVID-19), de acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos Estados Unidos (National Institute on Drug Abuse - NIDA). Por atacar o sistema respiratório, este vírus pode ser uma ameaça especialmente séria para quem fuma tabaco, maconha, ou até mesmo àqueles que utilizam vaporizadores. Pessoas com transtorno por uso de opioides ou por uso de metanfetaminas também podem ser vulneráveis ​​devido aos efeitos dessas substâncias na saúde respiratória e pulmonar. Todas essas possibilidades devem ser um foco de vigilância ativa enquanto a comunidade científica se esforça para entender essa ameaça emergente à saúde, adverte o NIDA.

O coronavírus ataca o trato respiratório e parece ter uma taxa de mortalidade mais alta do que a gripe sazonal. A taxa exata de fatalidade ainda é desconhecida, pois depende do número de casos não diagnosticados e assintomáticos, e são necessárias análises adicionais para determinar esses números. Até agora, as mortes e condições graves da COVID-19 parecem concentradas entre os idosos e com problemas de saúde subjacentes, como diabetes, câncer e condições respiratórias. Portanto, é razoável estimar que a função pulmonar comprometida ou a presença de doença pulmonar relacionada à histórico de tabagismo, como a doença pulmonar obstrutiva crônica, possam colocar as pessoas em risco de complicações graves da COVID-19.

Verificou-se que doenças coexistentes, como doença de obstrução pulmonar crônica, doenças cardiovasculares e outras doenças respiratórias, pioram o prognóstico em pacientes com coronavírus e outros da mesma família viral que causam a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e a síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS). De acordo com uma série de casos publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), com base em dados do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (China CDC), a taxa de mortalidade para a COVID-19 foi de 6,3% para aqueles com doença respiratória crônica, em comparação com uma taxa de 2,3% no total. Embora os dados até o momento sejam preliminares, eles destacam a necessidade de mais pesquisas para esclarecer o papel da doença subjacente e outros fatores na suscetibilidade ao COVID-19 e seu curso clínico.

Outras associações preocupantes ocorrem com pessoas que utilizam opioides em altas doses com fins clínicos, ou que possuem transtornos devidos ao uso de opiáceos, assim como histórico de uso de anfetaminas. A metanfetamina contrai os vasos sanguíneos, o que contribui para o dano e a hipertensão pulmonares nas pessoas que a utilizam. Já os opioides diminuem a atividade do centro neuronal que controla a respiração, de modo que seu uso não apenas coloca o usuário em risco de overdose fatal, mas também pode causar uma diminuição prejudicial do oxigênio no sangue. Sabe-se que a doença respiratória crônica aumenta o risco de mortalidade por overdose entre as pessoas que tomam opioides e, portanto, a capacidade pulmonar reduzida pela COVID-19 pode, da mesma forma, colocar em risco essa população.

O acesso limitado e a sobrecarga dos sistemas de saúde colocam as pessoas com dependência - que já são estigmatizadas e muitas vezes já expostas a mais riscos à saúde – em uma situação de ainda mais fragilidade, interpondo barreiras maiores a elas para obter tratamento para COVID-19. Outras vulnerabilidades sociais relacionadas ao uso de substâncias, como viver em situação de rua, em contato próximo a outras pessoas, também podem levar a maior risco de infecções.

Há ainda falta de conhecimento sobre o COVID-19 e, sobretudo, sobre sua interação com transtornos por uso de substâncias. Porém, é possível supor, com base em experiências passadas, que pessoas com problemas de saúde devido ao tabaco, uso de opioides, metanfetamina, cannabis e outros transtornos relacionados ao uso de substâncias podem ter um risco aumentado de COVID-19 e suas complicações mais graves - por diversas razões fisiológicas, sociais e ambientais.

Portanto, o NIDA alerta a comunidade de pesquisa para estar atenta à gravidade e mortalidade das associações entre casos de COVID-19 e uso de substâncias. O Instituto também reforça que se deve garantir que os pacientes com tais transtornos não sejam discriminados se um aumento nos casos de COVID-19 gerar sobrecarga nos sistemas de saúde.

Additional Info

  • Referências:

    NIDA. COVID-19: Potential Implications for Individuals with Substance Use Disorders. National Institute on Drug Abuse website. https://www.drugabuse.gov/about-nida/noras-blog/2020/03/covid-19-potential-implications-individuals-substance-use-disorders. March 12, 2020. Accessed March 19, 2020.

  • Autor(es): NIDA – National Institute on Drug Abuse
  • Título(s) original(is): Potential Implications for Individuals with Substance Use Disorders.
  • Fonte:

    https://www.drugabuse.gov/about-nida/noras-blog/2020/03/covid-19-potential-implications-individuals-substance-use-disorders.

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