A publicação "Álcool e a Saúde dos Brasileiros - Panorama 2020" traz, além dos dados mais recentes sobre o impacto do uso de álcool na saúde da população do Brasil, um mapeamento inédito da produção científica brasileira sobre o tema, no período de 1990 até 2018.
Chamado de Panorama Científico, o estudo mostrou que, embora a produção científica no Brasil tenha crescido substancialmente entre os anos analisados, ainda há uma carência de estudos sobre certos temas relevantes como a prevenção ao uso de álcool e a avaliação de intervenções e programas de saúde pública na área. Essa lacuna evidenciada pelo estudo deixa clara a janela aberta aos pesquisadores para a produção de trabalhos consistentes nessas áreas.
1. Qual foi o maior desafio na realização do Panorama Científico?
O Panorama Científico atualiza os tópicos mais relevantes sobre a questão de consumo de álcool no Brasil. Nesta perspectiva, a identificação de novos fenômenos associados ao consumo de álcool e as lacunas científicas investigadas de forma insuficiente foram os maiores desafios.
2. Qual a importância desse levantamento?
Pela primeira vez, publica-se um artigo científico voltado em quantificar a produção brasileira sobre o tema de alcoolismo. A metodologia de busca sistematizada e análise bibliométrica foram os principais avanços científicos. Os resultados auxiliam a avaliar o cenário científico sobre o consumo de álcool, bem como as direções futuras.
3. Os resultados surpreenderam de alguma forma?
Sim. Primeiro, a maioria dos estudos publicados eram descritivos, isto é, calculam apenas a frequência de consumo de álcool e as suas consequências em subgrupos específicos. Contudo, não permitem maiores inferências sobre as ações de intervenção e prevenção. Segundo, e o mais surpreendente, as políticas e programas sobre o consumo de álcool no nosso país possuem pouca ou nenhuma evidência de efetividade. A adoção de um programa sem comprovação de benefício para a comunidade pode prejudicar a saúde da população como um todo, além de constituir uma enorme despesa para o erário público.
4. Com base nos resultados, como avalia a pesquisa científica nacional sobre álcool?
Temos pesquisas adequadas com boa visibilidade científica, feitas por pesquisadores nacionais. Os indicadores bibliométricos mostram que a produção brasileira é crescente, ano após ano, principalmente na última década. Contudo, as colaborações internacionais ainda são escassas. A maior parte dos estudos simplesmente descrevem o cenário de consumo de álcool no Brasil. Somente 10% das pesquisas se dedicaram a evidenciar os efeitos de uma intervenção ou programas de saúde pública. Os cientistas devem responder com suas pesquisas sobre as melhores ações para enfrentar o crescimento do consumo de álcool no Brasil.
5. Quais são os principais avanços e desafios?
O principal avanço é a avaliação abrangente e sistematizada da produção científica brasileira sobre o consumo de álcool entre 1990 - 2018. O ineditismo deste artigo se equipara a uma reflexão crítica para que os cientistas brasileiros olhem para o que estão fazendo, o que falta fazer e para onde podem progredir.
Os desafios futuros são: (1) mudar o foco dos trabalhos descritivos para realizar trabalhos que comprovem os benefícios de ações e programas de saúde pública; (2) esta proposta deve ser endossada e alavancada por lideranças acadêmicas que são formadores de opinião, para que seja fortalecida a capacidade de produção científica (capacity building); (3) disseminar os resultados já obtidos para as autoridades e as partes interessadas (indivíduo, família e a sociedade), estabelecendo o financiamento público de ações que possuem o potencial de reverter ou controlar o crescente fenômeno de consumo de álcool e as suas consequências negativas.