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Entrevista com a Dra. Patricia Hochgraf

29 Março 2016

Saiba como transtornos alimentares e a dependência de álcool estão relacionados à saúde da mulher.

Dra. Patricia Brunfentrinker Hochgraf é médica psiquiatra. Doutora em psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP. Coordenadora médica do PROMUD (Programa da Mulher Dependente Química) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

1. Qual o perfil das mulheres que apresentam transtornos alimentares (TA) e transtornos por uso de álcool (TUA) ao mesmo tempo? Em geral, a procura por atendimento é feito em função de qual queixa?

O perfil da mulher dependente química que procura um serviço de tratamento para dependências está mudando. Até alguns anos atrás, eram mulheres jovens dependentes principalmente de cocaína e mulheres de meia-idade dependentes de álcool. Nos últimos anos, esta divisão sumiu e cada vez mais recebemos mulheres muito jovens gravemente dependentes de álcool.

No Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD-IPq-HC-FMUSP), 60% das pacientes apresentam comorbidade com algum transtorno alimentar. Destes, o mais comum é o transtorno de comer compulsivo, embora a bulimia nervosa não seja tão rara. Estas mulheres, em geral, procuram um serviço de atendimento por aquilo que traz mais prejuízo naquele momento, ou seja, uma jovem pode procurar tratamento por alcoolismo porque bateu o carro várias vezes alcoolizada ou pode procurar ajuda para emagrecer porque tem compulsão alimentar. Mas, em ambos os casos, elas não contam espontaneamente a comorbidade e esta deve ser ativamente procurada pelo profissional de saúde que as atende.

2. Como se estabelece a relação entre estes transtornos e quais os sinais de alerta para a mulher buscar ajuda profissional?

A relação entre estes dois transtornos é complexa e se estabelece de várias formas. Exemplos disto:

  • O surgimento de alterações alimentares ainda não categorizadas e agrupadas como transtornos alimentares não especificados. Uma dela é a chamada “drunkorexia”, termo jornalístico utilizado para designar mulheres que não comem para poder beber nas baladas sem engordar;
  • O crescimento de mulheres pós-cirurgia bariátrica que nunca tiveram problemas com álcool e desenvolvem um quadro de dependência de álcool as vezes até anos após a cirurgia;
  • Aparecimento de alteração de comportamentos alimentares em mulheres alcoolistas que ficaram abstinentes.

Como se pode observar estas relações são extremamente variadas. O mais importante é procurar ajuda sempre que aparecerem problemas familiares, sociais, profissionais ou pessoais como consequência do consumo exagerado de álcool e/ou pelo comportamento alimentar alterado.

3. Considerando que são dois transtornos distintos, como é realizado o tratamento? A conduta tende priorizar um dos transtornos?

O tratamento ideal cuida dos dois transtornos simultaneamente. Não adianta falar para uma mulher que ela precisa parar de beber para depois cuidarmos de seu corpo porque ela simplesmente não dará ouvidos. Também não conseguiremos cuidar da alimentação de alguém que bebe o suficiente para ter graves consequências em todas as suas áreas de funcionamento. Portanto serviços de tratamento que englobem cuidados médicos, psicológicos e nutricionais são fundamentais para o bom resultado do tratamento.

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© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool