Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios (IBGE, 2018) mostram que a população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de idosos (com 60 anos ou mais) de 2012 a 2017, chegando a 30,2 milhões. Diante deste cenário, o uso nocivo de álcool entre idosos é um tema que vem preocupando os profissionais da área da saúde devido a um aumento observado no número de admissões em unidades de pronto-atendimento e busca por tratamento associados ao uso dessas substâncias.
É notável, também, o alto número de mulheres entre a população idosa que pratica o BPE. O III LNUD (2017) mostrou que 11,3% da população com 55-65 anos pratica BPE. Pesquisa feita no município de São Paulo identificou que quase metade das mulheres entrevistadas que referiram consumo de álcool (46%) apresentava padrão de BPE (KANO et al., 2014).
O álcool é o 7º maior fator de risco para a carga total de doenças entre indivíduos de 50 a 69 anos e o 10º para indivíduos maiores de 70 anos (GBD,2010). O diagnóstico de transtornos relacionados ao uso de álcool é subestimado em idosos, e os dados sobre seu impacto são escassos. Estima-se que 1 a 3% dos idosos apresentem a doença, representando uma causa de morbidade física e psiquiátrica. Segundo o Global Health Estimates 2016 (OMS), entre homens acima de 50 anos ocorreram 68.658 mortes por transtornos relacionados ao álcool; entre as mulheres na mesma faixa etária foram 15.568.
O envelhecimento pode diminuir a tolerância do corpo ao álcool devido a uma série de alterações fisiológicas: mudanças na capacidade de metabolização hepática e função renal, bem como na composição corporal, com maior tendência à desidratação. Assim, a ingestão de álcool em idosos pode provocar efeitos mais acentuados comparativamente aos jovens de mesmo sexo e peso. Dentre as consequências do uso nocivo de álcool nessa população, destacam-se déficits no funcionamento cognitivo e intelectual, prejuízos no comportamento global, aumento do número de comorbidades e agravos a outros problemas de saúde comuns à idade.
Além disso, o consumo de álcool por idosos pode expô-los a maior risco de quedas e outras lesões, e ainda promover efeitos secundários pela interação com medicamentos mais comumente utilizados por essa população. Apesar da incidência de transtornos relacionados ao uso de álcool em idosos ser bastante alta, o diagnóstico é subestimado, e os dados sobre seu impacto são escassos. Estima-se que 1 a 3% dos idosos apresentem a doença, representando uma causa de morbidade física e psiquiátrica.
Dados disponibilizados no sistema Datasus indicam que a faixa etária de 55 anos ou mais compõe, a cada ano, maior parcela do total de internações atribuíveis ao álcool, passando de 26% para 36%, entre 2010 e 2018. Quanto aos óbitos, em 2017, 48,2% daqueles relacionados ao uso de álcool ocorreram em pessoas com 55 ou mais anos de idade, o que representa um acréscimo de 7% quando comparado a 2010. Cabe ressaltar que esses resultados também podem ser impactados pelo próprio envelhecimento da população e ao fato do uso nocivo do álcool estar relacionado a consequências em longo prazo – é importante que mais estudos aprofundem essa análise inicial.
Esses dados mostram que parte considerável dos idosos brasileiros consome bebidas alcoólicas e sabe-se que este comportamento na terceira idade pode aumentar os riscos de complicações da saúde e mortes, especialmente se excessivo e frequente. Somado a isso, há o contexto do envelhecimento da população brasileira - alavancado pelo aumento da expectativa de vida, diminuição da natalidade e avanços dos serviços de saúde, incluindo o acesso e a disponibilidade de tratamentos. É notável, portanto, que os idosos sejam alvo de campanhas e políticas específicas de prevenção ao uso nocivo de álcool.